35 anos do Plano Collor: vítimas revelam como lidaram com a hiperinflação e com o confisco do governo
06 dezembro 2025 às 21h00

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Em março de 1990, tomava posse o presidente Fernando Collor de Mello, após um triunfo sobre o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva. A euforia era perceptível. Mas quase que imediatamente após sentar na cadeira presidencial, Collor anunciou uma medida brutal que, segundo ele, se fazia necessária para “estancar a sangria inflacionária” da época, mas que mergulhou milhões de brasileiros em incerteza e desespero: um bloqueio das cadernetas de poupança fez com que cerca de 80% do dinheiro aplicado fosse retido pelo Banco Central por 18 meses.
Famílias perderam acesso às economias de uma vida, empresas ficaram sem capital de giro e o país assistiu a uma onda de falências e desemprego. Em 2025, 35 anos depois, a tragédia ainda expõe suas marcas mais profundas.
Aos 78 anos, o empresário Enio José Basso ainda se emociona ao lembrar do dia em que descobriu que todas as suas economias haviam sido bloqueadas pelo Plano Collor. Em março de 1990, quando vivia no Mato Grosso e Fernando Collor de Mello assumiu a presidência, pelo então Partido da Reconstrução Nacional (PRN), anunciando o confisco das poupanças, Enio estava entre os inúmeros brasileiros surpreendidos.

Olha, foi muito triste. Nós fizemos o Natal, o primeiro de ano. O Collor de Mello assumiu e no dia 2 [de governo] ele colocou o Plano Collor. A primeira coisa que ele fez foi confiscar a poupança. Isso aí foi muito grave
Segundo ele, o impacto foi imediato. “As empresas que tinham dinheiro aplicado, que tinham dinheiro no banco, acabaram toda movimentação. Não podia mais fazer nada”, aponta.
Enio teve todas as suas economias bloqueadas. “Tomou o nosso dinheiro. A aplicação que era da poupança das crianças, nossa, particular, tudo foi confiscado. E até hoje tem dinheiro confiscado. Eles falam em devolver, devolver, e nunca devolveram nada até agora. E já tentamos de várias formas, infelizmente”, explica.
Quebra generalizada
Na época, o frigorífico da família abatia entre 30 e 40 vacas por dia. O dinheiro em caixa era essencial para pagar funcionários e fornecedores. “Nós tínhamos um bom volume… e tinha que ter o dinheiro para efetuar pagamento. Aí quando chegou na hora, cadê o dinheiro? Foi um desespero total”, afirma.
A juventude foi o que permitiu seguir adiante. “A gente só venceu porque tinha juventude. Metemos a cara e fomos indo até superar todas essas coisas”, aponta.
Mas muitos não tiveram a mesma sorte. “Pessoas, empresários e fazendeiros que não tinham mais a juventude venderam fazendas, uns perderam a vida, cometeram suicídio, outros quebraram, foram tudo parar na Justiça”, relembra ao comentar dos conhecidos da época.
Um país sem rumo
O sentimento predominante ainda é de dor. “Dói muito. O Brasil parou, travou, travou. Ninguém sabia mais o que era para fazer”, aponta.
Collor havia sido eleito com forte apelo popular. “Ele dava uma esperança muito grande para as pessoas mais fracas. O slogan dele era ‘o descamisado’. E foi uma tristeza muito grande”, relembra.
Para Enio, o trauma deixou marcas profundas. “A cada 10, 20, 30 anos têm um golpe do próprio governo. Não é? É o próprio governo que tomou uma atitude”, aponta sobre o períodos de instabilidade do Brasil.
Ele lembra também da oscilação monetária. “Mudamos a moeda umas três, quatro vezes naquela época. A gente não sabia o que fazer. De repente, mudava tudo. As empresas iam quebrando, iam arrebentando. Você via uma luz no final do túnel, ia lá… quando entrava era um desastre”, afirma.
Hiperinflação: o caos diário
Além do confisco, o país enfrentava hiperinflação extrema. “Se você comprasse um produto com 30 dias, e a inflação era 80% ao mês, quando você ia vender também com 30 dias, 10 dias, 15 dias, você não tinha mais fôlego para comprar. Era muito triste”, aponta.
O mercado de gado era ainda mais instável. “Você comprava o gado hoje, e depois de amanhã valia o dobro quase. Era uma loucura. Ninguém queria vender, ninguém queria comprar”, fala.
A única estratégia possível era trabalhar sem parar. “A técnica era trabalhar muito todo dia. Quase 24 horas por dia”, afirma.
Com o dinheiro perdendo valor rapidamente, muitos preferiam trocar bens. “Preferia pegar um gado, de repente. Qualquer pessoa tinha 100 vacas. E você vivia com 100 vacas parideiras tranquilamente. Hoje, não sei se mil conseguem sobreviver.”
A inflação corroía tudo. “Você não tinha um preço fixo de nada. Tudo subia. Tanto no supermercado, como equipamentos, carro, tudo”, comenta.
Informação difícil, estradas piores ainda
Para acompanhar as notícias, Enio recorria à televisão e aos jornais. “A maioria era televisão. E nos jornais também. A gente comprava os jornais da capital e conseguia se atualizar um pouquinho”, relembra.
Mas a distância e a infraestrutura precária dificultavam tudo. “Eu morava em Barra do Garças, Mato Grosso. A locomoção para Goiânia ou para Cuiabá era difícil demais, não tinha asfalto. Era viagem de 24 horas quase”, esclarece.
Tragédias pessoais e um setor destruído
O confisco deixou marcas profundas em pessoas próximas ao seu redor. “Eu perdi dois, três amigos que venderam a fazenda no mês de dezembro. Meu vizinho, principalmente, vendeu a fazenda no mês de dezembro e quando chegou janeiro, com dinheiro na conta, tudo lá… não pôde mais tirar. Ficou confiscado. Ele com dívidas… foi ao suicídio”, destaca.
O setor de couro e calçados, ligado ao frigorífico, também foi devastado. “Muitos curtumes perderam tudo, fecharam, acabaram. Não tinha mais exportação”, afirma.
Um trauma que ecoa no presente
Ao final, Enio resume o que ficou daquele período:
Foi uma atitude muito triste do presidente da República. Muito triste mesmo. A gente ficou bastante abalado
Dirce relembra o dia
Aos 82 anos, Dirce Di Maria da Costa, moradora de Unaí, Minas Gerais, lembra com surpreendente tranquilidade o episódio que marcou milhões de brasileiros em março de 1990: o confisco das poupanças pelo Plano Collor.

Enquanto muitos correram aos bancos, desesperados para tentar salvar parte do dinheiro bloqueado, Dirce tomou a decisão oposta. “Eu não apavorei, não. Se eu tivesse apavorada, tinha feito igual minha amiga, que passou o dinheiro para outra pessoa e perdeu”, conta.
Segundo ela, a amiga, tomada pelo medo, transferiu o saldo para terceiros na tentativa de escapar do bloqueio, mas acabou ficando no prejuízo. Dirce, por outro lado, preferiu esperar. “Falei: ‘Não vou passar meu dinheiro para ninguém. Deixa isso quieto aí. Uma hora eles devolvem’.”
O dinheiro, de fato, voltou, ainda que, segundo ela, não da forma ideal. “Pagou, mas acho que não pagou direitinho, não. Tinha que ter sido mais”, comenta.
Uma reação incomum
O Plano Collor confiscou depósitos acima de 50 mil cruzeiros – moeda vigente na época -, gerando filas, protestos e um sentimento generalizado de insegurança econômica. Dirce, porém, diz que não se deixou levar pelo pânico coletivo.
O dinheiro não valia nada também. Pensei: deixa isso quieto. Uma hora devolvem
A serenidade, segundo ela, vinha da experiência de vida. Na época, acredita que tinha cerca de 50 anos. “Eu já tinha a cabeça boa para não apavorar com essas coisas”, afirma.
O relato de Dirce sintetiza a experiência de muitos brasileiros que viveram sucessivas instabilidades econômicas e aprenderam, à força, a lidar com perdas, bloqueios e mudanças bruscas de moeda. Trinta e cinco anos depois, ela encara o episódio com simplicidade: “O dinheiro ficou lá, mas voltou. Para mim, ficou tudo bem”, relembra.
35 anos do Plano Collor
Três décadas e meia após o Plano Collor, o episódio ainda provoca debates intensos e memórias dolorosas. Para entender por que esse momento permanece tão vivo na história econômica do país, o Jornal Opção entrevistou Adriana Pereira de Sousa, que é economista e professora do curso de Ciências Econômicas da Universidade Estadual de Goiás (UEG). Ela revisita o trauma do confisco, analisa seus efeitos e explica como ele acabou abrindo caminho para o Plano Real.

Foi uma ruptura institucional que marcou permanentemente a relação da população com o Estado
Jornal Opção — Por que o Plano Collor ainda desperta tantas emoções 35 anos depois?
Adriana Pereira — Três décadas e meia após o Plano Collor, ainda é impossível revisitar esse episódio sem reconhecer o profundo impacto que ele deixou sobre a sociedade brasileira. Em março de 1990, quando o governo recém-empossado anunciou o bloqueio das poupanças e contas bancárias, o país presenciou mais do que uma tentativa dramática de estabilização monetária: vivenciou uma ruptura institucional que marcou de forma permanente a relação da população com o Estado e com o sistema financeiro.
A economia estava aprisionada em um ciclo vicioso de expectativas negativas
Jornal Opção — Como era o ambiente econômico que antecedeu o confisco?
Adriana Pereira — O Brasil atravessava um período de hiperinflação persistente, herança de uma década de instabilidade, endividamento externo e sucessivos planos fracassados. A inflação corroía rendimentos diariamente, empresas operavam sob enorme incerteza e famílias assistiam ao poder de compra evaporar de forma acelerada. A economia encontrava-se aprisionada em um ciclo vicioso de expectativas negativas e mecanismos de indexação que alimentavam a escalada inflacionária.
“O confisco ultrapassou os limites do aceitável em uma democracia recém-restaurada”
Jornal Opção — O governo justificou o bloqueio como uma medida necessária. Como a senhora avalia essa decisão?
Adriana Pereira — O governo Collor buscou uma medida de choque, justificando o bloqueio dos depósitos como única alternativa para retirar liquidez da economia e conter a hiperinflação. No entanto, ao transformar milhões de brasileiros em reféns de uma intervenção abrupta nos seus próprios recursos, a política econômica ultrapassou os limites do aceitável em uma democracia recém-restaurada. Para famílias, profissionais liberais, comerciantes e empresas, o confisco representou não apenas perdas financeiras imediatas, mas uma quebra de segurança psicológica que duraria anos.
O confisco corroeu de vez a credibilidade da política econômica brasileira
Jornal Opção — Quais foram as consequências imediatas e de longo prazo dessa intervenção?
Adriana Pereira — A desorganização econômica que se seguiu evidenciou que o confisco, além de ineficaz para estabilizar preços de forma sustentável, corroeu de vez a credibilidade da política econômica brasileira. Quando o Estado interfere dessa maneira na propriedade privada, ele compromete o contrato social básico que sustenta qualquer sistema financeiro moderno: a confiança. E confiança, em economia, é capital institucional de valor inestimável.
Durante anos, muitos brasileiros sentiram receio de poupar, investir ou manter seus recursos bancarizados. A desconfiança institucional se consolidou como uma espécie de cicatriz coletiva.
A exaustão social abriu espaço para um novo caminho
Jornal Opção — De que forma esse trauma acabou influenciando o surgimento do Plano Real?
Adriana Pereira — Paradoxalmente, foi justamente essa exaustão social com soluções improvisadas e autoritárias que criou condições políticas e institucionais para um novo caminho. O país precisava de mais do que um plano de emergência — precisava de uma transformação estrutural capaz de restaurar previsibilidade e credibilidade.
Assim, o trauma deixado pelo Plano Collor preparou, ainda que involuntariamente, o terreno para o que seria a maior reforma monetária da história recente do Brasil: o Plano Real. Ele rompeu com o ciclo de improvisações e adotou uma estratégia gradualmente construída — fundada em disciplina fiscal, reformas institucionais, criação de uma unidade de conta estável e respeito aos mecanismos de mercado. O Plano Real só pôde ser bem-sucedido porque respondia diretamente às falhas e abusos do passado. Ele devolveu ao Brasil aquilo que nenhum confisco poderia produzir: estabilidade baseada em confiança.
O confisco é um alerta permanente sobre os limites da ação estatal
Jornal Opção — Qual é a importância de manter esse episódio vivo na memória institucional do país?
Adriana Pereira — Passados 35, é fundamental. O confisco das poupanças não pode ser reduzido a mera curiosidade histórica; ele é um alerta sobre os limites da ação estatal e sobre o papel crucial da credibilidade para o funcionamento saudável da economia. Afinal, foi justamente a insegurança e a desconfiança instaladas na sociedade naquele momento que criaram o ambiente propício para que, alguns anos depois, emergisse um plano econômico capaz de redefinir os rumos do desenvolvimento brasileiro.
Notícias
Os principais jornais brasileiros à época apresentavam a medida ainda sem acreditar no que o governo estava anunciando. Afinal, a então ministra da Economia, Zélia Maria Cardoso de Mello, tinha afirmado anteriormente, categoricamente, que não faria o confisco. A fala se mostrou como uma das maiores mentiras já contadas por um tecnocrata brasileiro. Em uma das capas mais emblemáticas da época, a Revista Veja dizia: “o dinheiro sumiu”.

STF confirma constitucionalidade do Plano Collor I
Em junho deste ano, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, no julgamento do Recurso Extraordinário 631.363, o Tema 284, que o Plano Collor I foi constitucional. A decisão, relatada pelo ministro Gilmar Mendes, também definiu que os poupadores só poderão receber as diferenças de correção monetária, os chamados expurgos inflacionários, se aderirem ao acordo coletivo firmado na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 165.

Para explicar o impacto do julgamento, o Secretário-Geral da Comissão de Direito Constitucional e Legislação da OAB-Goiás, Ramon Borges Martins, pós-graduado em Direito Constitucional pela PUC-Rio e em Direito Público pela PUC-Goiás, detalhou ao Jornal Opção os principais pontos da decisão.

Segundo ele, o Supremo apenas reafirmou um entendimento que já existia. “O STF reafirmou apenas uma decisão proferida anteriormente na ADPF 165. Consolida-se o entendimento de que a lei que instituiu o bloqueio dos ativos em 1990 era compatível com a Constituição de 1988. Em outras palavras, o plano econômico em si não foi considerado inconstitucional”, explicou.
Com a constitucionalidade confirmada, a Corte Suprema estabeleceu uma condição decisiva: o poupador que quiser receber as diferenças de correção monetária terá de aderir ao acordo coletivo homologado na ADPF 165. “A principal decisão é que o direito do poupador de receber as diferenças está condicionado à adesão ao acordo. Quem quiser receber, vai ter que aderir”, afirmou Martins. O prazo para adesão é de 24 meses a partir da publicação da ata de julgamento da ADPF 165.
O acordo foi firmado entre bancos, a Advocacia-Geral da União, o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC) e a Frente Brasileira pelos Poupadores com o objetivo de encerrar a enorme quantidade de processos sobre o tema. O aditivo de 2020 incluiu o Plano Collor I, mas apenas para valores de contas existentes em abril de 1990, deixando de fora ações que discutem o bloqueio de março daquele ano, o chamado “confisco”.
A decisão também tratou da segurança jurídica. O STF deixou claro que a declaração de constitucionalidade não atinge processos que já transitaram em julgado.
Quem já ganhou o processo manteve o direito adquirido. E quem ainda está litigando perdeu a tese de inconstitucionalidade e só poderá receber se aderir ao acordo
Para ele, a Corte agiu em estrita observância ao princípio da segurança jurídica ao proteger decisões já definitivas. “Isso reforça a estabilidade das decisões judiciais e a confiança do jurisdicionado no sistema de Justiça”, avaliou.
Martins também destacou que a decisão tem caráter pacificador. Segundo ele, o STF buscou equilibrar segurança jurídica, isonomia e eficiência da Justiça ao endossar o acordo coletivo. “É uma forma de pacificação social e de redução do acervo processual. Antes, cada juiz decidia de um jeito. Agora o STF pacificou a matéria”, afirmou.
Apesar disso, ele reconhece que há um ponto crítico para quem ainda não aderiu ao acordo.
A decisão força os poupadores a aceitarem os termos conciliatórios. Na prática, é uma modulação de efeitos para mitigar o impacto de uma declaração de constitucionalidade que prejudicaria a expectativa de milhões de poupadores
Ele também aponta que a exigência de adesão pode ser vista como uma pressão para aceitar valores menores do que os buscados judicialmente, o que levanta discussões sobre o acesso à Justiça.
Para o especialista, a decisão encerra definitivamente a controvérsia jurídica sobre o Plano Collor I. “Quem já tinha o processo encerrado manteve o direito. Quem ainda está litigando perdeu a tese e só poderá receber se aderir ao acordo”, concluiu. Segundo ele, o julgamento prioriza a segurança jurídica e a resolução de conflitos em massa, ainda que imponha uma condição para quem não tem decisão final.
Documentário “Confisco”, da HBO Max
Mais de três décadas após o bloqueio das poupanças que abalou o país, o documentário “Confisco”, da HBO, reacende o debate sobre um dos episódios mais traumáticos da economia brasileira. A produção revisita o Plano Collor e expõe, por meio de relatos pessoais e análises históricas, o impacto profundo que a medida deixou na sociedade.
Uma promessa de salvação que virou pesadelo
O filme reconstrói o ambiente político e econômico que antecedeu o confisco. Eleito sob a imagem de “caçador de marajás”, Collor assumiu o poder com a missão de enfrentar a hiperinflação que corroía o país. A solução apresentada por sua equipe econômica, liderada pela então ministra Zélia Cardoso de Melo, foi tão radical quanto inesperada: o congelamento imediato de ativos financeiros acima de um limite pré-estabelecido.
“Confisco” dá voz a cidadãos que viveram o drama de 1990. São relatos de frustração, perda e desamparo, histórias de pessoas que viram seus planos ruírem da noite para o dia. Muitos descrevem o episódio como um trauma coletivo, que redefiniu a relação do brasileiro com o sistema financeiro e com o próprio Estado.
A participação de Zélia Cardoso de Melo adiciona uma camada rara ao debate. No documentário, ela revisita as pressões políticas, a urgência econômica e o desgaste pessoal que enfrentou após o fracasso do plano. Sua fala revela a tensão entre a convicção técnica e o peso das consequências sociais.
O colapso do plano e a reação do país
Apesar da promessa de estabilização, o Plano Collor rapidamente se desintegrou. A liberação irregular de recursos, a falta de coordenação interna e a incapacidade de controlar a inflação minaram a credibilidade da medida. Em pouco tempo, o país voltou a conviver com a escalada de preços e com a sensação de que o sacrifício imposto à população havia sido em vão.
O documentário também destaca a intensa mobilização judicial e social que se seguiu ao confisco. A enxurrada de ações na Justiça e a pressão popular contribuíram para desmontar o plano e deixaram como legado uma profunda desconfiança nas políticas econômicas de choque.
Uma memória que ainda incomoda
Ao revisitar um dos capítulos mais controversos da história recente do Brasil, “Confisco” não apenas resgata fatos, mas convida o espectador a refletir sobre os limites da intervenção estatal e o custo humano das decisões econômicas. O documentário mostra que, embora o país tenha avançado desde então, as marcas daquele período continuam presentes, seja na memória das famílias afetadas ou na cautela com que os brasileiros encaram o sistema financeiro até hoje.
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