Vitória de Rodrigo Paz na Bolívia reacende debate sobre avanço da nova direita na América do Sul
22 outubro 2025 às 18h27

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A recente eleição presidencial na Bolívia, vencida por Rodrigo Paz Pereira, do Partido Democrata Cristão (PDC), com expressivos 54% dos votos, tem gerado discussões sobre uma possível guinada ideológica na América do Sul. Paz Pereira, representante de uma nova direita liberal-conservadora, defende um modelo de “capitalismo para todos”, com foco na desburocratização do Estado e fortalecimento da iniciativa privada. Mas será que essa vitória representa uma mudança de rumo na região?
Em entrevista exclusiva ao Jornal Opção, o cientista político Guilherme Carvalho traça, nesta quarta-feira, 22, um panorama sobre o cenário político sul-americano e os impactos da eleição boliviana. Para Carvalho, a vitória de Paz Pereira não representa uma guinada ideológica, mas sim a continuidade de uma tendência já presente.

“Não é que a direita esteja derrotada. No Brasil, por exemplo, ela perdeu por apenas um ponto percentual. A hegemonia da esquerda é relativa, pois governantes como Gabriel Boric e Lula precisam fazer governos mais amenos, já que vivemos uma cultura mais liberal-conservadora nos costumes”, destaca.
Segundo o especialista, pesquisas indicam que a maioria da população brasileira tem inclinações de centro para a direita, o que reflete um padrão cultural que se estende por toda a América Latina.
Diferenças institucionais
Apesar da relevância da eleição boliviana, Carvalho alerta que os efeitos sobre outros países, como o Brasil, são limitados. “É muito difícil dizer que os resultados na Bolívia afetam diretamente o Brasil. Os sistemas eleitorais são bem diferentes. O Brasil tem um presidencialismo multipartidário com dois turnos e uma grande oferta de candidaturas competitivas. Já na Bolívia, há menos candidatos e coligações mais robustas”, afirma.
Ascensão da nova direita
O cientista político destaca que o modelo liberal-conservador vem sendo cada vez mais demandado pela população sul-americana, impulsionado por fatores como crescimento populacional, conflitos internacionais e mudanças tecnológicas. “Com o aumento da população e menos empregos disponíveis, surgem alternativas como os aplicativos móveis, que promovem a autonomia do empreendedor. A direita tem se apropriado dessas pautas com competência, oferecendo soluções diante da escassez de recursos e da demanda crescente por bens e serviço”, destaca.
Carvalho observa que o Estado, antes visto como provedor, agora é percebido como obstáculo. “O Estado é visto como vilão, uma limitação para o cidadão acessar os bens que deseja. O discurso da nova direita promete facilitar a vida do micro e pequeno empreendedor, dar acesso a crédito e reduzir o tamanho do Estado. Isso tem grande apelo, especialmente quando o candidato não tem histórico ligado a políticas paternalistas”, afirma.
Corrupção e instabilidade
A instabilidade política também contribui para a busca por alternativas, mas não é determinante, aponta o especialista. Carvalho cita o exemplo do Peru, que caminha para seu sexto presidente em quatro anos, em meio a denúncias e ciclos de impeachment. “Nesses casos, o discurso ideológico perde força. O foco passa a ser em como oferecer saídas estáveis. A corrupção é uma pauta importante, mas secundária diante dos problemas macroeconômicos estruturais”, aponta.
Um caminho em curso
A vitória de Rodrigo Paz Pereira na Bolívia é mais um capítulo de uma reconfiguração política que já estava em curso. A nova direita, com discurso liberal-conservador e foco em empreendedorismo, vem ganhando espaço como resposta às limitações do Estado e às demandas sociais e econômicas da população.
Segundo Guilherme Carvalho, essa movimentação não representa uma ruptura, mas sim uma adaptação às novas realidades globais e regionais. “As pessoas têm buscado caminhos diferentes. Conhecendo os modelos já oferecidos pela esquerda, centro e direita tradicional, elas estão apostando em novas propostas que prometem estabilidade e autonomia”, explica.
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