Pela primeira vez em 36 anos, as crises e disputas internas podem fazer com que o Partido dos Trabalhadores (PT) e o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) fiquem sem candidato próprio na corrida pela Prefeitura de São Paulo. Isso porque, os petistas discutem apoiar o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL), enquanto os tucanos tendem a conservar a aliança com o atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB).

A briga entre as alas favoráveis e contrárias à adesão a nomes externos, inclusive, deve esquentar nas reuniões que as duas legendas agendaram para os próximos dias. As discussões envolvem consequências para campanhas de vereadores e o futuro de partidos, antes protagonistas nas eleições. O PT, por exemplo, teve cabeça de chapa em todas as eleições na capital paulista desde 1985, quando foi retomado o voto direto, e saiu vitorioso três vezes: com Luiza Erundina (1988), Marta Suplicy (2000) e Fernando Haddad (2012).

Em 2020, com Jilmar Tatto, a sigla teve o pior resultado de um candidato petista na cidade, terminando em sexto lugar, com 8,6% dos votos. Tatto, hoje deputado federal, é a principal voz a questionar o alinhamento automático a Boulos, como prevê um acordo fechado pelo PT no ano passado.

No PSDB, que venceu na capital também três vezes com José Serra (2004), João Doria (2016) e Bruno Covas (2020), a reedição do compromisso com Nunes é tratada como natural pelo segmento que enxerga o prefeito como sucessor de Covas, que morreu em 2021 por conta de um câncer. A situação, no entanto, não é vista com bons olhos por alguns membros. 

As conversas sobre a eleição de 2024 na capital paulista se afunilaram em torno de Nunes e Boulos, que já rivalizam na pré-campanha. O atual prefeito se aproximou do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), ao passo que o deputado federal reforçou os laços com o presidente Lula (PT).

Nos últimos dias, tanto Lula quanto a presidente nacional do PT, Gleisi Hofmann, mandaram recados à militância petista de que está mantido o acordo com Boulos. O deputado abriu mão de concorrer ao governo paulista no ano passado e anunciou apoio a Haddad, a fim de fortalecer a esquerda.

O psolista faz gestos ao PT para tentar pacificar o clima e concorda com a ideia de abrir o posto de vice à sigla. A expectativa dele é que a decisão de apoio avance no congresso de diretórios zonais da capital que os petistas farão nos dias 4 e 5 de agosto.