No domingo, 21, Sônia Cleide, pré-candidata a vereadora por Goiânia (PT) foi mais uma vez vítima de violência. Segundo informações, dois homens tentaram arrombar o portão da casa de Sônia com chutes e murros. Ao acender a luz e gritar, a vítima não conseguiu afastar os criminosos. O padrão de luz da casa de Sônia foi desligado. A polícia foi acionada e os homens, que não foram identificados, fugiram. 

Um dia depois, a segunda suplente de vereadora recebeu uma carta anônima com declarações racistas e ameaças de morte direcionadas a ela, ao seu filho Daniel Andalakituche e à sua companheira Valdicelia Pedreira. Os escritos a chamaram de “macaca”, exige que ela se mude do local onde mora e desista da pré-campanha política para vereadora. 

Carta anônima recebida por Sônia Cleide na qual sofre racismo, injúria, intolerância e ameaça.

Sônia também faz parte da promoção de um terreiro de Umbanda — religião afro-brasileira que junta elementos de dogmas africanos e cristãos  — o qual já sofreu tentativa de invasão policial. Foram seis viaturas policiais motivadas por uma denúncia de que estaria sendo feito um sacrifício de uma criança no local. Segundo apuração da reportagem, a autora da denúncia é uma vizinha pastora evangélica, moradora de uma prédio ao lado do terreiro. 

Em entrevista ao Jornal Opção, Sonia Cleide diz não se demonstrar desanimada em relação à pré-campanha por conta do racismo. 

Quero que todos saibam o que eu to passando para que tenhamos políticas públicas que garanta nossa luta em prol das mulheres, homens e juventude negra. Não estou desanimada, ver o apoio que estou recebendo me faz mais forte para continuar. Independe da campanha eu sempre me envolvi com militância e não vou parar por aqui
– Sônia Cleide

Sônia Cleide é ativista pelos Direitos Humanos, desenvolveu sua trajetória em atividades que atuam no movimento de mulheres negras, na saúde da população negra, nos territórios quilombolas, além de ser uma das fundadoras do Grupo de Mulheres Negras Malunga e da Articulação de Mulheres Negras Brasileiras (AMNB). Ela também já foi Superintendente de Igualdade Racial de Goiás de 2009 a 2011.

“Enquanto superintendente eu tive dificuldades no começo. Integrar um escalão de importância no governo te deixa um pouco protegida, porém fui discriminada diversas vezes, mas não como está acontecendo agora”, afirma Sônia Cleide.

Foram registrados dois boletins de ocorrência junto à Delegacia Estadual de Atendimento às Vítimas de Crimes Raciais e de Intolerância (DEACRI) da Polícia Civil de Goiás (PCGO). Em entrevista ao Jornal Opção, a delegada que está à frente do caso, Carolina Neves, considerou que os crimes cometidos se enquadram nos crimes de injúria racial e racismo pela Lei nº 7.716, violência política de gênero, previsto no código eleitoral e ameaça a pessoa de Sônia e sua família. 

“Os inquéritos policiais foram instaurados e os procedimentos iniciais foram iniciados envolvendo perícias. O objetivo das investigações é descobrir os autores dos crimes envolvendo a carta de ameaça e a tentativa de invasão domiciliar. Ainda não temos conclusões sobre os casos. As diligências de investigações estão em processo.”

Crimes como esses são fundamentados pelo racismo estrutural — herança da escravidão — que se manifesta na naturalização de ações, hábitos, falas e comportamentos que promovem diretamente e indiretamente a violência, segregação e preconceito racial contra pessoas negras. Esses comportamentos criminosos devem ser combatidos a todo instante, visto que o racismo é mata. 

Segundo dados do Atlas da Violência publicados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), uma pessoa negra foi vítima de homicídio a cada 12 minutos no Brasil entre janeiro de 2012 até o fim de 2022.  Além disse, entre 2021 e 2022 os casos de violência contra pessoas da comunidade LGBTQIA+ aumentaram 39,4%. 

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