Partidos fortalecidos em 2024 dão sinais de disputas internas para definir os rumos de 2026
02 dezembro 2024 às 09h04
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Com o fim das eleições municipais deste ano, alguns partidos que saíram fortalecidos do pleito já se sentem confortáveis o suficiente para antecipar as disputas estaduais e federais de 2026. O União Brasil, o MDB e o PSD já dão sinais de que testes de forças internas acontecem a fim de definir os rumos das siglas para as eleições.
Naturalmente, o Governo Federal já articula alianças a nível nacional e estadual a fim de esvaziar a oposição ao máximo possível. Enquanto parte dos filiados aos três partidos que mais se fortaleceram em 2024 pregam um distanciamento do governo Lula (PT), outros membros dessas siglas dão sinais claros de aproximação.
Neste pleito, o PSD elegeu 891 prefeitos, o MDB 864 e o União Brasil 591. Em número de vereadores, o cenário não é muito diferente. Segundo dados da Justiça Eleitoral, MDB elegeu 8.113 vereadores no país, o PSD 6.624 e o UB 5.490 parlamentares em todo o país em 2024.
União Brasil
Para além dos ministérios que o UB já ocupa, um dos sinais mais claros de aproximação entre a sigla e o Governo Federal é a relação com Elmar Nascimento, o líder do União Brasil na Câmara.
No pleito municipal deste ano, o Nascimento, que é histórico rival dos petistas na Bahia, apoiou nomes dos petistas no estado. Bastidores da política apontam desejo do parlamentar em ocupar algum ministério, e a possibilidade de redistribuição de cargos para abraçá-lo não está descartada. No entanto, Nascimento nega movimentações neste sentido.
O principal objetivo do governo neste momento é impedir uma candidatura de oposição a Lula em 2026. Os acenos ao líder do União na Câmara, Elmar Nascimento, e aos ministros Celso Sabino, do Turismo, e Juscelino Filho, das Comunicações, para garantir a neutralidade do União Brasil. Ao mesmo tempo, ocorrem alianças a nível estadual para ocupar governos locais e que podem também levar a apoios para o Senado.
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Ao mesmo tempo, uma ala dentro do União Brasil apoia o nome de Ronaldo Caiado (UB-GO) para disputar o Planalto, e correligionários deste movimento afirmam já haver maioria para votá-lo à posição nas eleições internas. O próprio presidente da sigla, Antônio Rueda, exalta essa movimentação. Além disso, setor significativo do partido coloca como impossível aproximação com Lula.
No MDB
Uma das principais forças do MDB contra o atual Governo Federal é o prefeito reeleito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB). Com o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, Nunes busca levar o MDB à oposição de Lula em 2026. Ao Jornal O Globo, o prefeito afirma ser “coerente” apoiar quem o apoiou.
Os desconfortos entre Nunes e o Partido dos Trabalhadores se intensificaram após vídeo publicado na reta final da disputa em São Paulo, no qual o prefeito reeleito é acusado de violência doméstica. A peça contava com participação da primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja.
Se soma a esse movimento, Sebastião Melo, prefeito eleito em Porto Alegre, após derrotar o nome apoiado por Lula, mesma situação de Ricardo Nunes.
A proximidade de Nunes com Baleia Rossi, presidente do MDB, também pode ser indicativo dos rumos da sigla em 2026. Baleia coordenou a campanha de Nunes em 2024 e em 2022 advogou pela candidatura própria no lugar de aliança com o PT. Rossi também é amigo de Michel Temer, inimigo declarado do PT, desde o impeachment sofrido por Dilma Rousseff.
Enquanto uma parte do MDB demonstra descontentamento, outra ala do partido trata os desentendimentos com o Governo Federal como pontuais e acredita que o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), não tem força política suficiente para influenciar os rumos do partido. Segundo esse grupo, é inevitável que Nunes busque apoio financeiro em Brasília, o que deverá estreitar os laços entre as partes até as eleições de 2026.
Na última sexta-feira, 29, Nunes esteve ao lado de Lula em um evento no Palácio do Planalto, onde foram anunciados investimentos para a cidade de São Paulo, reforçando sinais de alinhamento.
Ao mesmo tempo, aliados de Lula iniciaram articulações para que o MDB indique o candidato a vice em uma eventual campanha de reeleição do petista. Entre os nomes cotados estão o governador do Pará, Helder Barbalho, e os ministros Renan Filho (Transportes) e Simone Tebet (Planejamento).
PSD
O PSD, sob liderança de Gilberto Kassab, adota uma postura ambígua à medida que alterna entre sua aliança com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e gestos de aproximação ao presidente Lula. Kassab, que acumula o cargo de secretário de Governo de Tarcísio, tem evitado comprometer a sigla com um único caminho para a eleição presidencial de 2026.
Em um jantar com a bancada do partido no Congresso, na última semana, Kassab colocou a candidatura própria do PSD como decisiva para definir o comportamento da sigla em 2026. Caso opte por não lançar candidatura, é provável que os filiados sejam liberados para apoiar quem quiser.
De qualquer forma, o desconforto de ala do PSD com Lula deve anular qualquer aproximação explícita. Entre os possíveis nomes para uma candidatura própria, destaca-se o governador do Paraná, Ratinho Júnior.
Apesar disso, a relação com o Governo Federal continua a evoluir em frentes estratégicas. Uma das apostas do Planalto é atrair Rodrigo Pacheco (PSD-MG), atual presidente do Senado, para um ministério após o fim de seu mandato no Legislativo, em fevereiro de 2025.
Lula também já demonstrou intenção de apoiá-lo como candidato ao governo de Minas Gerais em 2026.
Pacheco nega intenção de virar ministro, e diz ainda que pode encerrar sua vida pública a partir de 2027, quando seu mandato de senador chega ao fim.
Simultaneamente, o governo Lula intensifica articulações regionais para reforçar alianças. Em estados como Rio Grande do Norte, Piauí, Ceará e Pará, há movimentações para consolidar parcerias entre PT, PSD, MDB e União Brasil, com o objetivo de isolar grupos bolsonaristas nas disputas por governos estaduais e cadeiras no Senado.