O vereador Oséias Varão (PL) avaliou a crise instalada no partido após as críticas públicas feitas por Michelle Bolsonaro à aliança do PL com Ciro Gomes (PSDB) no Ceará. A ex-primeira-dama, que preside o PL Mulher nacionalmente, contestou no domingo, 30, o apoio ao ex-adversário político de Jair Bolsonaro durante o lançamento da pré-candidatura do senador Eduardo Girão (Novo) ao governo do Ceará.

A reação de Michelle levou a cúpula do PL a convocar uma reunião emergencial para a tarde desta terça-feira, 2, em Brasília, com a participação dela, de Valdemar Costa Neto, dos filhos do ex-presidente e de outras lideranças.

Ao comentar a situação, Oséias Varão afirmou que a direita ainda atravessa um momento de reorganização após a prisão de Jair Bolsonaro.

Segundo ele, há uma disputa natural sobre quem assume o protagonismo político durante a ausência do ex-presidente.
“Nós estamos num processo em que a nossa principal liderança foi silenciada, ocultada e presa. O que vivenciamos hoje é uma certa indefinição sobre quem ocupará essa posição. As pessoas estão falando pelo Bolsonaro, e acreditamos que os filhos e a esposa são os mais indicados para isso.”

Para o vereador, as divergências entre Michelle e a direção do PL refletem diferenças de estratégia eleitoral, não um racha.
“O que está acontecendo, na minha visão, é uma divergência estratégica sobre a melhor forma de a direita se posicionar politicamente.”

Composição no Ceará

Varão defendeu a aliança com Ciro Gomes para enfraquecer o PT no Nordeste.
“A direita bolsonarista tem cerca de 30% do eleitorado, assim como o lulismo. Para ganhar eleições majoritárias, é preciso compor com o centro. No caso do Ceará, a melhor alternativa para tirar o PT do poder é a composição com o Ciro Gomes, apesar das divergências.”

Ele afirma que essa estratégia teria sido orientada pelo próprio Bolsonaro. “Concordo com Flávio Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro, Carlos Bolsonaro e Valdemar Costa Neto. As principais lideranças estão alinhadas na necessidade dessas composições.”

Michelle Bolsonaro

Sobre o posicionamento público de Michelle, Oséias reagiu com cautela, elogiando sua trajetória e pedindo paciência.
“Admiro muito a Michelle. Ela é uma guerreira, tem qualidades extraordinárias. Mas é natural que quem tem menos experiência política defenda posições diferentes. Precisamos apaziguar os ânimos e construir consenso.”

Oséias Varão rejeita a ideia de que Michelle busque protagonismo indevido ou que haja um racha na família Bolsonaro: “não existe possibilidade de racha na direita bolsonarista. São divergências naturais que serão resolvidas.”

Reunião emergencial

Oséias afirma que a reunião desta terça-feira tem como objetivo reconstruir o alinhamento interno. “A iniciativa é chamar todos para o diálogo, de forma respeitosa, e tentar convencer sobre a posição do partido. Nosso papel agora não é alimentar divergências, mas buscar consenso.”

O vereador nega que a crise prejudique o eleitorado do PL, embora reconheça o momento de reorganização: “temos nosso principal líder preso e estamos nos reacomodando. É natural. A reunião de hoje é justamente para colocar os pingos nos is, conversar sobre as diferenças e produzir convergências.”

Entenda o caso

A tensão surgiu no último domingo, quando Michelle participou do lançamento da pré-candidatura de Eduardo Girão (Novo) ao governo do Ceará. No evento, ela classificou como “precipitada” a articulação feita por André Fernandes (PL) com Ciro Gomes, recém-filiado ao PSDB. Do palco, chegou a afirmar: “Fazer aliança com o homem que é contra o maior líder da direita, isso não dá.”

Aliados afirmam que Michelle guarda ressentimentos em relação a Ciro Gomes, que apoiou a ação no TSE que tornou Jair Bolsonaro inelegível. As declarações da ex-primeira-dama repercutiram imediatamente entre os filhos do ex-presidente.

Nas redes sociais, Flávio Bolsonaro criticou a postura de Michelle, dizendo que ela “atropelou” uma articulação autorizada pelo próprio Bolsonaro e classificou sua atitude como “autoritária”. Eduardo Bolsonaro reforçou a crítica ao publicar: “Meu irmão Flávio está correto. Foi injusto e desrespeitoso com o André.” Carlos Bolsonaro também se manifestou, afirmando que é preciso manter união e respeito à liderança do pai. As reações ampliaram o racha familiar e expuseram novas tensões internas no grupo político, apenas uma semana após Carlos declarar apoio a Michelle em uma reunião no PL.

Leia também:

Michelle Bolsonaro indica topar ser vice de Tarcísio de Freitas