O governador do Estado de Goiás, Ronaldo Ramos Caiado (União Brasil), deu entrevista ao Jornal O Globo para produção de um perfil do político goiano, que almeja disputar a presidência da República em 2026. No texto, o veículo de comunicação refaz a trajetória de Caiado enquanto político que já foi cinco vezes deputado federal, uma vez senador, e está à frente do governo goiano desde 2019, exercendo seu mandato no Palácio das Esmeraldas.

Com aprovação de seu governo acima dos 70% desde o início deste ano, Caiado acaba de eleger Sandro Mabel, também do UB, como o prefeito da capital de seu estado, Goiânia, o que só reforça seu poder político.  “Disputarei a Presidência em 2026. E para ganhar”, afirmou ao Globo. 

Ao mesmo tempo em que Caiado coloca a força da direita como reflexo dos anseios da maior parte dos cidadãos brasileiros, ele diz que no espectro político “não há dono”, alfinetando Bolsonaro. 

Durante a entrevista, Caiado reforça o lançamento de sua campanha para fevereiro deste ano, na Bahia, onde conheceu a primeira-dama Gracinha Caiado. 

Ele diz não ter o luxo, “como Tarcísio (de Freitas, governador de São Paulo)”, de poder esperar até 2026 para se decidir. A festa está marcada na Bahia, onde conheceu sua segunda mulher, a carismática primeira-dama Gracinha, mãe de suas duas filhas mais novas, comandante dos projetos sociais do governo e possível candidata ao Senado daqui a dois anos.

Para 2026, Caiado aposta em uma redução na popularidade do presidente Lula e no afastamento do União Brasil da base governista petista. Além disso, ele acredita que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, deverá optar pela reeleição ao cargo estadual, enquanto a direita enfrenta uma espécie de “prévia informal” no primeiro turno da eleição presidencial. Nesse cenário, ele prevê a disputa entre três potenciais candidatos: um representante da família Bolsonaro, o governador do Paraná, Ratinho Júnior, e, caso elegível, o empresário e ex-coach Pablo Marçal.

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“O Marçal pautou nacionalmente a disputa sem um case real para apresentar. Pois eu o tenho, e se chama Goiás”, disse Caiado ao Globo. 

A análise reflete a expectativa de uma fragmentação na direita, com várias lideranças disputando espaço político e a possibilidade de um segundo turno mais polarizado.

Segurança pública

Um fator destacado pelo O Globo é o desempenho de Caiado na Segurança Pública. Dados da Secretaria de Segurança Pública (SSP) mostram que, desde o início do governo Caiado, houve queda de 85% em latrocínios, 56% em homicídios dolosos, 68% de furto de veículos, 44% de residências e 89% em furto de transeuntes.

O governador de Goiás chegou a discursar em evento em São Paulo para investidores da Faria Lima, reforçando seu compromisso com a segurança pública do Estado. Repetindo seu lema “Em Goiás, ou o bandido muda de profissão ou se muda de Estado”, Caiado foi aplaudido “enfaticamente”, como aponta o Globo, já que  “uma rua sequer” de Goiás é dominada pelo crime organizado. 

Caiado coloca os investimentos em tecnologia de ponta e a incrementação da Polícia Penitenciária como um dos fatores chave para o desenvolvimento dos números da segurança pública. 

Bolsonaro

A relação entre o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tem dado sinais públicos de enfraquecimento, marcada por trocas de acusações que ultrapassam o tom ameno das divergências entre Caiado e o presidente Lula.

Durante a campanha eleitoral deste ano, Bolsonaro esteve duas vezes em Goiânia para apoiar Fred Rodrigues (PL) contra Sandro Mabel (União Brasil), candidato respaldado por Caiado. Em seus discursos, o ex-presidente resgatou atritos antigos, como os desentendimentos durante a pandemia. Na primeira visita, Bolsonaro chamou Caiado de “covarde”, relembrando críticas do governador à minimização da gravidade da Covid-19, então descrita pelo ex-presidente como uma “gripezinha”. Médico de formação, Caiado havia defendido medidas de isolamento social e condenado o negacionismo, o que lhe rendeu o rótulo de “medroso” por parte de Bolsonaro.

Após Fred Rodrigues superar Mabel no primeiro turno, Bolsonaro intensificou os ataques, classificando Caiado como um “rosnador” e provocando: “Enquanto o bolsonarismo está presente no país inteiro, o caiadismo só existe em Goiás.” A escalada verbal reflete a crescente rivalidade entre os dois políticos, que já foram aliados, mas agora disputam influência em suas bases eleitorais.

Relação de Caiado e de Bolsonaro já foi mais amistosa l Foto: Alan Santos / Agência Brasil.

“Sobre a covardia, ele se retratou no dia seguinte. Mas sabe que ele acertou em relação ao rosnador? Cachorro que late, como diz o ditado, não morde, pode-se passar a mão à vontade nele. Agora, com o rosnador, como eu, é preciso mesmo ter cuidado”, colocou Caiado ao Globo. 

Apesar dos atritos, Caiado apoiou Bolsonaro nas campanhas presidenciais de 2018 e 2022, tirando proveito do voto bolsonarista para consolidar sua chegada ao governo de Goiás. 

Mesmo após a derrota de Bolsonaro para Lula em 2022 e o período de reclusão do ex-presidente nos Estados Unidos, Caiado o recebeu no Palácio das Esmeraldas para conversas privadas. A expectativa era de uma aproximação estratégica, mas o governador foi surpreendido pela decisão de Bolsonaro de manter a candidatura de Fred Rodrigues (PL) contra o candidato apoiado por Caiado, Sandro Mabel (União Brasil).

Além disso, Bolsonaro reforçou sua influência ao lançar candidaturas em outras grandes cidades de Goiás e ao insistir em chapas lideradas exclusivamente pelo PL nas regiões mais conservadoras do estado. A postura do ex-presidente no pleito deste ano ampliou o distanciamento com Caiado, evidenciando uma disputa pelo controle político no território goiano.

“Nunca fiz política assim. Mas os resultados me deixaram mais convicto de que em 2026 os eleitores não irão apertar 22 ou 13 pois alguém mandou. Vencerá quem mostrar que pode, e como, tirá-las do atoleiro. Eleição presidencial não é municipal, mas estamos todos cansados da polarização sem resultados práticos em nossas vidas. Os dois últimos governos falharam em unir o país. Não falharei”, colocou Caiado ao Globo.

Ao fim do pleito deste ano, a base do governador de Goiás elegeu 179 prefeitos, entre as 246 prefeituras goianas, incluindo o chefe do Executivo Municipal da capital, Goiânia. 

“Entre o caipira e o moderno” 

O jornal destaca ainda a dicotomia entre alguns valores defendidos pelo governador, tidos como tradicionais, e outros como modernos. O Globo traz a empolgação com a criação da primeira faculdade de Inteligência Artificial do país em Goiás junto às flexibilizações ambientais pensadas para o desenvolvimento do agronegócio tradicional como exemplo da dicotomia “caipira” e “moderno”, como colocou o Globo. 

“Lembro que quando fui ao “Roda-Viva” em 1989 apanhei por encarnar um segmento que “só pensava em lucro, sem sensibilidade social”. Fui demonizado, parecia que vinha do passado, um Sinhozinho Malta de “Roque Santeiro”. Hoje, vejo que não errei no diagnóstico. Eu vinha era do futuro. Nós fomos protagonistas na construção do que hoje representa a pujança do país”, afirmou Caiado sobre sua representação do setor do agro. 

Ainda tentando angariar apoio dos eleitores bolsonaristas, Caiado defendeu a anistia para aqueles que serviram de “massa de manobra”, mas reforçando sempre que aqueles que “elaboraram, conspiraram ou financiaram” devem ser excluídos de qualquer anistia.

Temas sensíveis

Outros temas sensíveis foram abordados durante a entrevista com O Globo. A movimentação de adversários políticos sobre o assassinato do empresário Fábio Alves Escobar Cavalcante em junho de 2021, em Anápolis, e a morte de Ronaldo Caiado Filho, em julho de 2022.

Sobre os processos que se desdobraram do caso Escobar, Caiado afirma que “não tenho dúvida de que usarão isso na campanha. Esse assunto tem viés ainda mais político do que policial”. Ao mesmo tempo, o governador reforça a importância da investigação: “Por isso substituí o delegado do caso por outros quatro, os de mais alto escalão da polícia. Quero que se entre nos detalhes, nas minúcias. Não interessa quem fez, todos os crimes precisam ser resolvidos e ter punição. Só ficarei satisfeito quando essa apuração chegar no mandante”.

Ao falar sobre seu filho, Caiado fica com os olhos marejados e se desculpa: “é que dói… nunca deixarei de sofrer nem entender essa inversão. Ronaldo tinha uma sensibilidade social fora do comum e às vezes me criticava. Éramos muito chegados e ele dizia: mas pai, tá certo isso? Eu o escutava. Perdi meu grande interlocutor. A morte dele me fez ficar ainda mais obstinado em fazer a tarefa de casa do país. Para ele”.