O União Brasil (UB), fruto da fusão concretizada em 2022 entre Democratas e PSL, e o Partido Liberal (PL) estão entre os maiores partidos políticos do País. Juntas, as siglas têm 150 parlamentares na Câmara dos Deputados e 20 no Senado. Sem falar nos mandatários municipais. Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em 2020 o UB — ainda Democratas — conseguiu eleger 5.199 membros, sendo 459 para prefeito, 442 para vice-prefeito e 4.298 para vereador. Já o PL, segundo o TSE, teve 4.147 eleitos: 345 prefeitos, 364 vice-prefeitos e 3.438 vereadores.

Os números mostram duas potências políticas em pleno trabalho no Brasil. Muitos fatores explicam a expressividade dessas legendas. Se por um lado temos um União Brasil que vem de uma trajetória enraizada no jogo político, com nomes experientes que vão passando o bastão para seus escolhidos, do outro temos um Partido Liberal que experimentou um “boom” de filiados e candidaturas nos últimos anos, graças ao seu representante maior: o ex-presidente Jair Bolsonaro.

Presidente do UB em Goiás, o governador Ronaldo Caiado é considerado um amigo e aliado de Jair Bolsonaro. Excetuando-se o período de rompimento durante a pandemia — quando Caiado, como governador e médico, defendeu o isolamento social e a vacinação, indo contrário aos posicionamentos do então presidente Bolsonaro —, os dois políticos sempre caminharam juntos. A aproximação ficou ainda maior nos últimos tempos, com Caiado marcando presença em eventos bolsonaristas importantes.

Antes circulando nos bastidores da política, hoje brilha à luz do dia a possibilidade de o governador goiano contar com o apoio do ex-presidente na corrida ao Palácio do Planalto em 2026. Os sinais estão vindo seguidamente. O último ocorreu em abril, no Agrishow, em Ribeirão Preto (SP). Na ocasião, Jair Bolsonaro disse que, se não retornar ao cargo de presidente, está deixando “sementes”. Apontando para o governador de Goiás, ele afirmou que essas sementes têm “condições de germinar e dar bons frutos ao País”.

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“Se eu não voltar um dia, fiquem tranquilos. Plantamos sementes ao longo desses nossos quatro anos que descobriram também a capacidade para levar adiante esse grande País chamado Brasil. Mesmo as sementes mais velhas, com um pouco de água, têm condições de germinar”, sublinhou.

Há uma abertura clara, uma aproximação latente que pode definir, ao final, Bolsonaro como “general” eleitoral de Caiado. No entanto, em Goiás, o PL parece se comportar de maneira desprendida dessa realidade em construção. Dirigida pelo empresário e senador Wilder Morais, que, inclusive, teria sido cotado para concorrer à Prefeitura de Goiânia com o apoio da base caiadista, a legenda investe em candidaturas próprias e parece “peitar” o projeto do governador para 2026, que inclui fortalecer seu próprio nome nos municípios para daqui a dois anos e quatro meses, e o de seu vice, Daniel Vilela (MDB), que tem sido preparado para pegar o bastão do governo de Goiás também em 2026.

Ao Jornal Opção, o ex-deputado federal Major Vitor Hugo, pré-candidato à Câmara Municipal de Goiânia e figura proeminente no PL — e tido como o primeiro-amigo de Bolsonaro em Goiás —, confirmou a dimensão do projeto do PL no Estado. Segundo ele, o partido tem pré-candidatos a prefeito em ao menos 150 municípios goianos; cerca de 60 pré-candidatos a vice e quase 2 mil pré-candidatos às câmaras municipais ao redor do Estado.

Conforme levantamento feito pelo Jornal Opção, o PL tem pré-candidaturas próprias nos maiores e principais municípios goianos (com mais de 100 mil habitantes), entre eles Goiânia, Aparecida de Goiânia, Anápolis, Rio Verde, Jataí, Catalão e Novo Gama. Com exceção de Novo Gama, onde o pré-candidato do PL, o prefeito Carlinhos Mangão, é também o nome apoiado pelo governo, e em Águas Lindas, onde o pré-candidato do União Brasil, Lucas Antonietti, é apoiado por uma aliança que inclui PL e Republicanos, nos outros municípios o partido de Wilder Morais sai em campo e testa sua força, consequentemente provocando uma cisão no projeto do governador para 2026.

Assim como o PT de Lula e o UB de Caiado, o PL parece estar no caminho para, também, construir um projeto para 2026. É sabido que, aquele com a pretensão de se eleger presidente da República e ocupar o Palácio do Planalto, em Brasília, precisa pensar o projeto de forma micro e macro, começando justamente pelas eleições municipais. Afinal, são os prefeitos e vereadores eleitos no pleito deste ano que demonstrarão a força do candidato que os apoia. Além disso, serão eles os cabos eleitorais com atuação regional daqui a dois anos, abrindo o caminho e fortalecendo o nome escolhido pela aliança para a corrida presidencial.

No caso do PL, percebe-se uma movimentação de Wilder Morais com vistas ao Palácio das Esmeraldas. Contudo, a ambição do senador pode ter efeitos malquistos. Pela toada da carruagem, o cenário que se desenha é o mesmo de Anápolis, por exemplo: uma direita dividida e pulverizada entre as candidaturas do governo e a do PL, e automaticamente uma esquerda fortalecida em torno de um nome único.

Em Goiás, o desenho que se faz de divisão da direita para 2026 já anima, inclusive, lideranças tradicionais do PT. “Na possibilidade de o PT ganhar as eleições em Anápolis, ganhar as eleições em Goiânia, e estar no governo federal, abre uma vaga muito grande dentro do tabuleiro para ser articulado para 2026, que é o cargo de governador de Goiás. Se a gente conseguir fazer uma articulação já fechando esse campo, a partir de agora, nós poderemos ampliar muito o nosso leque de alianças”, disse o coordenador executivo da campanha de Adriana Accorsi, Luís César Bueno, em entrevista ao Jornal Opção.

É notório que, quem tem a máquina, tem a vantagem em uma eleição, e isso não é diferente com o governador do Estado a respeito de 2026. Soma-se a isso a possibilidade de angariar o apoio de Jair Bolsonaro, com uma vice indicada por ele. Nesse cenário, as movimentações do PL em busca da abertura de espaços podem estar, na verdade, abrindo caminho – mas para os opositores.