A fala do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), de que uma facção criminosa havia orientado voto no então candidato a prefeito da capital Guilherme Boulos (PSOL) teve gravidade suficiente para condená-lo por abuso de poder político e torná-lo inelegível por oito anos. Ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) avaliaram como “muito grave” a fala do governador.

No dia do 2° turno das eleições municipais, último domingo, 27, Tarcísio afirmou que há informações de inteligência apontando que o PCC (Primeiro Comando da Captial) orientou o voto em Boulos. A declaração foi dada a jornalistas no local em que o governador compareceu para votar, acompanhado de seu candidato à reeleição Ricardo Nunes (MDB) e do candidato a vice, Coronel Mello Araújo, indicado por Bolsonaro. Após a fala, Boulos disse que a declaração do governador ‘é uma vergonha’ e o PSOL acionou a Justiça Eleitoral.

— Isso aconteceu aqui na capital também, (disseram) que era para votar no outro. Teve um salve, houve interceptação de conversas e de orientações que eram emanadas de presídios por parte de uma facção criminosa, orientando determinadas pessoas em determinadas áreas a votar em determinados candidatos. Houve essa ação de inteligência, interceptação falando de candidatos, que eles estavam orientando a votar — afirmou Tarcísio de Freitas.

Ainda no domingo, o ministro da Advocacia-Geral da União, Jorge Messias, também se posicionou dizendo que as autoridades não podem ignorar a fala do governador de São Paulo.

Em publicação no X, Messias afirma que a declaração “compromete os princípios republicanos que deveriam guiar o processo eleitoral”. Nesta manhã, o governador — que apoia Ricardo Nunes (MDB) na disputa — afirmou, sem apresentar provas, que o PCC teria feito um documento mandando um “salve”, ou seja, indicando apoio, à candidatura do psolista.

Forças de segurança

Na coletiva de imprensa, no entanto, o governador não deu detalhes sobre de onde teriam vindo esses indícios. O Palácio dos Bandeirantes, a Secretaria de Administração Penitenciária (SAP) e a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo afirmou que “o Sistema de Inteligência da Polícia Militar interceptou a circulação de mensagens atribuídas a uma facção criminosa determinando a escolha de candidatos à prefeitura nos municípios de Sumaré, Santos e Capital. A Polícia Civil investiga a origem das mensagens”.

Nas redes sociais, Boulos criticou as declarações. “Imaginei que ao menos hoje fosse ser um dia mais tranquilo em relação às mentiras que os nossos adversários fizeram durante toda campanha”, disse o candidato.

“O governador Tarcísio acabou de divulgar, ao lado do candidato dele, acabou de fazer uma declaração extremamente grave, sem nenhum tipo de prova, dizendo que o PCC teria determinado voto em mim”, acrescentou.

“Partiram para o desespero absoluto. É o laudo falso do segundo turno, e no dia da eleição, e usando a máquina na boca do governador do Estado.”

Em nota oficial, a campanha do psolista ainda classificou a atitude como “criminosa”. “O governador Tarcísio responderá na Justiça por sua atitude criminosa”, diz trecho do comunicado.