Entenda por que os eleitores têm de se preocupar com a escolha do candidato a vice-prefeito

23 outubro 2023 às 11h51

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Paulo Rolim
A história recente do país trouxe para a arena política a figura do vice. Importante lembrar que na fase final da transição do regime militar para a democracia plena, após vencer Paulo Maluf no colégio eleitoral do Congresso Nacional, a poucas horas da posse, o presidente Tancredo Neves — esperança talvez utópica do Brasil naquele tempo — passou mal e foi internado às pressas, vindo depois a falecer, em 1985.
A solução para não jogar fora todo o esforço para o restabelecimento da normalidade democrática foi empossar o vice, José Sarney, que, de interino, passou a presidente, de acordo com o desenrolar dos fatos que culminaram com a morte de Tancredo Neves.
A era Sarney, se por um lado trouxe avanços em determinados setores, ficou marcada por inflação galopante — expressão da época — denúncias de corrupção e incertezas quando aos aspectos econômicos e políticos.
Isso possibilitou que velhas raposas políticas de dinastias que secularmente detinham o poder na região nordeste — mesma região de Sarney — vendo as possibilidades de assumirem o governo, com um discurso agressivo e em rede nacional catapultaram uma candidatura que, se vitoriosa em 1989, com o tempo mostrou que o “Caçador de Marajás” (ou de Maracujás, como passaram a ironizar) era um engodo e que fez por merecer o impeachment. O primeiro de um presidente brasileiro.
Voltando ao assunto do vice, nas duas maiores cidades do Estado de Goiás — a capital Goiânia e a vizinha Aparecida — dois vices assumiram o cargo de prefeito. Em Aparecida, Vilmar Mariano patina em uma administração que, em tese, tinha tudo para dar continuidade à vitoriosa e aprovada gestão de Gustavo Mendanha, em uma sequência de boas administrações, com destaque para o governo de Maguito Vilela.
Em Goiânia, com a tragédia que se abateu sobre o eleito Maguito Vilela, em uma hábil jogada política e jurídica permitiram que o vice-prefeito eleito tomasse posse a la Sarney. De maneira definitiva, o carioca — de nascimento e de sotaque — Rogério Cruz assumiu a cadeira do 6º andar do Paço Municipal e comanda a formidável máquina da Prefeitura de Goiânia.
O tempo mostrou que Rogério Cruz, morador de Goiânia há poucos anos e vereador por dois mandatos, não tinha a habilidade necessária para gerir os destinos da população goianiense. De Maguito Vilela, esperava-se uma gestão que sequenciasse a vitoriosa era Iris Rezende e que repetisse o que havia feito na vizinha Aparecida.
Demandas complexas como do trânsito — cada vez mais caótico — que exigem ações positivas e intervenção constante são deixadas “para depois” ou nada é feito. Também a saúde, onde as maternidades públicas com frequência suspendem o atendimento sofre com a inação da gestão municipal.
A educação é um dos setores que mais sofrem e agora, depois de muitos anos — quem lembra da última greve no setor? —, os administrativos municipais estão em greve por direitos como data-base, além de equiparação do auxílio-locomoção aos professores e implantação do sonhado Plano de Carreira. Segundo afirma o Sintego em sua página, “os/as Administrativos/as são os trabalhadores/as com os menores salários de toda a prefeitura de Goiânia! São as/os merendeiras/os, auxiliares de atividades educativas, auxiliares de secretaria, pessoal da limpeza, secretários/as gerais das escolas!”
No cotidiano, além do trânsito caótico, a cidade virou um grande lixão a céu aberto, com um problema que se arrasta há meses: a irregularidade na coleta de lixo.
Outro fato que chamou muito à atenção foi a negativa do prefeito Rogério Cruz em dialogar com a vereadora Aava Santiago, presidente da Comissão de Educação da Câmara Municipal, que, ao lado dos sindicatos da categoria, queria participar de uma reunião para buscar soluções para o atendimento às reivindicações e consequentemente o fim da greve dos administrativos, que cada vez mais tem adesão, atingindo um número maior de escolas. Aava, por determinação do prefeito, foi expulsa do gabinete e não participou da reunião. A Câmara Municipal até que deveria se posicionar ante a situação, mas, pelo andar da carruagem, isso não deve acontecer.
Portanto, nas eleições de 2024, com base em fatos históricos do passado e da situação do presente, além de procurar saber quem é seu candidato (a) à prefeitura, atente para a figura do vice. Ele pode futuramente sentar na cadeira e gerir os destinos de sua cidade.
Paulo Rolim é jornalista e escritor.