Como o dinheiro de ditador líbio levou um ex-presidente francês à prisão

21 outubro 2025 às 19h02

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Pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial, um ex-presidente francês foi encarcerado. Nicolas Sarkozy, que governou a França entre 2007 e 2012, começou a cumprir nesta terça-feira, 21, uma pena de cinco anos de prisão por conspiração criminosa. O motivo, segundo as autoridades francesas, seria um escândalo internacional envolvendo milhões de euros vindos do regime do ditador líbio Muammar Khadafi.
Aos 70 anos, Sarkozy foi levado à prisão de La Santé, em Paris, sob forte esquema de segurança. Ele ocupará uma cela de 9 metros quadrados na ala de isolamento, medida tomada para protegê-lo de outros detentos, muitos deles condenados por tráfico de drogas e terrorismo. Na cela, terá acesso a banheiro, chuveiro, escrivaninha, uma pequena TV e uma hora diária de exercícios solitários.
Apesar de ter recorrido da sentença, a Justiça determinou sua prisão imediata, alegando a “excepcional gravidade dos fatos”. Sarkozy continua alegando inocência e afirma que o processo tem motivações políticas. Em uma mensagem publicada na rede social X, declarou: “Não é um ex-presidente que estão prendendo, é um homem inocente”.
Na manhã de sua prisão, mais de 100 apoiadores se reuniram em frente à sua residência no luxuoso 16º distrito de Paris, atendendo ao chamado de seu filho Louis. Sarkozy saiu de casa acompanhado da esposa, Carla Bruni, acenando para a multidão.
O presidente Emmanuel Macron recebeu Sarkozy no Palácio do Eliseu dias antes da prisão, e o ministro da Justiça, Gérald Darmanin, prometeu visitá-lo na prisão. “Não posso ser insensível à angústia de um homem”, disse Darmanin.
O cerne da condenação envolve alegações de que Sarkozy teria recebido milhões de euros do governo líbio para financiar sua campanha presidencial de 2007. Em troca, ele teria se comprometido a ajudar Khadafi a melhorar sua imagem internacional, desgastada por anos de isolamento diplomático.
Embora tenha sido absolvido da acusação de receber dinheiro pessoalmente, Sarkozy foi condenado por associação criminosa com dois ex-assessores, Brice Hortefeux e Claude Guéant, que participaram de reuniões com representantes líbios em 2005. Os encontros foram intermediados por Ziad Takieddine, um empresário franco-libanês que morreu pouco antes da condenação.
Sarkozy afirmou que levaria dois livros para a prisão: A Vida de Jesus e O Conde de Monte Cristo, este último uma história de vingança contra falsas acusações, uma escolha que ecoa sua narrativa de inocência.
Com essa prisão, Sarkozy se junta a um seleto e sombrio grupo de líderes franceses encarcerados: o rei Luís XVI, executado em 1793, e o marechal Philippe Pétain, condenado por traição em 1945.
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