Quase quatro meses depois da imposição das tarifas norte-americanas sobre produtos brasileiros, o governo federal realizou a primeira reunião, nesta segunda-feira, 24, com secretários estaduais dos estados brasileiros. O encontro ocorreu no Palácio da Alvorada, convocado pelo ministro da Indústria e presidente da República em exercício, Geraldo Alckmin (PSD), durante a viagem de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à África.

Em entrevista exclusiva ao Jornal Opção, Joel Sant’Anna, o secretário de Indústria, Comércio e Serviços de Goiás, revelou que Goiás cobrou do governo federal atenção especial para o açúcar orgânico e a vermiculita, produtos estratégicos que seguem penalizados pelo tarifaço norte-americano. A reunião, convocada por Geraldo Alckmin, foi a primeira após as sobretaxas e reuniu secretários estaduais, ministros e representantes de instituições internacionais.

O secretário goiano fez um pedido direto a Alckmin para que interceda junto ao governo americano na revisão dessas tarifas. Ambos os setores seguem prejudicados pelo tarifaço e ainda não foram contemplados nas recentes revogações anunciadas pelo presidente Donald Trump.

O encontro teve como objetivo promover o comércio exterior nos estados, com o lançamento do Plano de Promoção da Cultura Exportadora, apresentação dos projetos da nova linha de financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e a coleta de demandas estaduais.

Sant’Anna relatou os bastidores da reunião e destacou os pedidos feitos pelo estado para reduzir os impactos do chamado tarifaço. Segundo o secretário, Alckmin reuniu todos os secretários estaduais para ouvir demandas e lançar o programa “Exporta Mais”, em parceria com a ApexBrasil. O objetivo é ampliar o apoio às exportações e enfrentar os prejuízos causados pelas sobretaxas impostas pelos Estados Unidos.

“Foi quando a gente pediu para ele que Goiás ainda não tinha sido atendida, porque o problema do açúcar não foi resolvido. Goiás ainda está com 50% de tarifa sobre o açúcar orgânico, e somos o maior exportador para os Estados Unidos, por meio da usina Jalles Machado, em Goianésia”, afirmou.

Além do açúcar, Sant’Anna ressaltou que a vermiculita também sofre com a mesma taxa de 50%. “Estamos acumulando minério sem poder exportar para os Estados Unidos. Goiás tem uma das maiores minas do mundo e é o maior exportador brasileiro de vermiculita, muito utilizada na construção americana e no combate a incêndios”, disse.

O secretário explicou que o pedido ao governo federal foi para que as negociações bilaterais avancem, assim como ocorreu com outros setores. “Solicitamos que o governo, como já fez com a carne, a laranja e o café, dê continuidade às negociações para atender Goiás na exportação de açúcar orgânico e vermiculita. São os dois produtos de maior relevância e volume que ainda estão prejudicados pelo tarifaço do governo Trump”, apontou.

De acordo com Sant’Anna, o vice-presidente demonstrou atenção especial ao caso da vermiculita. “Ele pediu detalhes sobre a exportação desse mineral. O açúcar já vinha sendo discutido pela CNI, mas a vermiculita chamou atenção pela importância estratégica”, apontou.

Sant’Anna destacou que esta foi a primeira vez que o governo federal reuniu secretários estaduais desde a imposição das tarifas. “Foi a primeira vez que ele chamou os secretários para ouvir diretamente os problemas da exportação. O governo não tinha conhecimento dos detalhes de cada estado, e nós alertamos sobre a situação”, disse.

Em seu pronunciamento, o secretário reforçou publicamente a defesa dos interesses de Goiás e dos empresários goianos, diante da imprensa e de representantes dos setores econômicos, do BID, da CNI, da CNA e da ministra Gleisi Hoffmann.

Apesar de não haver prazos definidos, Sant’Anna considera que o encontro abriu espaço para novas tratativas. “O mais importante foi levar publicamente o pedido. Todos ouviram e registraram os problemas que Goiás enfrenta. Agora cabe ao governo dar continuidade às negociações”, finalizou.

Setores estratégicos

Os setores de açúcar e vermiculita têm papel estratégico na pauta de exportações de Goiás. Em 2024, o estado enviou aos Estados Unidos US$ 80.800.641 em açúcar e registrou US$ 6.066.368 em exportações de vermiculita, de acordo com dados da Superintendência de Comércio Exterior e Atração de Investimentos Internacionais da SIC.

Em 2025, porém, o impacto do tarifaço já se reflete nos números. Entre janeiro e outubro, Goiás exportou US$ 66.947.699 em açúcar para o mercado americano. No caso da vermiculita, a queda foi ainda mais acentuada: apenas US$ 761.115 no mesmo período.

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