Investigações apontam que bicheiro teria ‘patrocinado’ assassinato de Marielle
30 julho 2023 às 10h50
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Com base no depoimento do ex-PM Élcio de Queiroz, que participou da execução da vereadora Marielle Franco, as investigações apontam para o envolvimento de um novo suspeito. Em seu acordo de delação premiada, Élcio Queiroz afirmou que o bicheiro Bernardo Bello teria fornecido o celular e o carro Cobalt prata, utilizado por Ronnie Lessa, apontado como o autor dos disparos.
Élcio assinou um acordo de colaboração após a Polícia Federal reforçar as provas de sua participação no crime, como motorista de Lessa — os dois estão presos desde 2019. O crime aconteceu em 14 de março de 2018. Parte das revelações de Élcio Queiroz embasaram a operação Élpis, que prendeu o ex-bombeiro Maxwell Côrrea, apontado como responsável por campanas de monitoramento da vereadora e por atuar após o assassinato na tentativa de destruição de provas.
Segundo a delação, Bernardo Bello e o chefe de sua segurança, José Carlos Roque Barboza, são suspeitos de terem participado do crime. O primeiro teria dado o celular a Lessa, enquanto o segundo, forneceu o carro. O Ministério Público e a Polícia Federal ainda investigam as informações fornecidas pelo delator. Neste sábado, 29, o Disque Denúncia do Rio divulgou um cartaz pedindo mais informações sobre seu paradeiro — ele está foragido e é suspeito de ser o mandante do assassinato de outras pessoas no Rio.
O ex-PM e delator diz que após o assassinato, Lessa não voltou a receber mais nenhum aparelho nem veículo do grupo de Bello. O aparelho teria sido entregue após a primeira tentativa de cometer o crime, no final de 2017, e tinha como objetivo o manter o contato entre os dois. Esse contato entre Lessa e Bello era mediado por Roque e por um outro ex-PM, e Edimilson Oliveira da Silva, conhecido como Macalé.
Macalé, assassinado em 2020, é apontado em outras investigações do Ministério Público do Rio de Janeiro como integrante do grupo de Bello. Élcio Queiroz apontou Macalé como quem trouxe o “trabalho”, no caso o assassinato, para Lessa. Ele também teria participado, como motorista, da primeira tentativa de matar Marielle, ainda em 2017. Macalé é apontado como integrante do braço armado do grupo de Bello em investigações sobre a morte de rivais no jogo do bicho e em atentados envolvendo a disputa interna que mantêm com os herdeiros do bicheiro Waldemir Paes Garcia, o Maninho.
Ex-genro de Maninho, Bello teria rompido com a família Garcia e é suspeito de ser o mandante da morte do irmão do bicheiro, Alcebíades Paes Garcia, o Bid —morto em 2020. Ele também é suspeito de tentar matar Shanna Harrouche Garcia, sua ex-cunhada. Bello chegou a ser preso na Colômbia, em janeiro de 2022 no processo em que é apontado como o mandante do assassinato de Bid. Ele foi solto após uma decisão do STJ (Superior Tribunal de Justiça) em junho do ano passado.
Na quinta-feira, 27, Bello foi alvo de um novo mandado de prisão sob suspeita de ter mandado matar um advogado em Niterói, em maio de 2022. Segundo o Ministério Público, Carlos Daniel Dias André se tornou alvo do bicheiro após um conflito mediado pelo advogado.