A Polícia Civil (PC) finalizou o inquérito envolvendo o duplo homicídio por envenenamento orquestrado pela advogada Amanda Partata, de 31 anos, há um mês. No documento encaminhado à Justiça na última segunda-feira, 15, o delegado adjunto da Delegacia Estadual de Investigações de Homicídios (DIH), Carlos Alfama, indiciou Amanda por duplo homicídio contra o ex-sogro e a mãe dele, além de dupla tentativa de homicídio contra o avô e o tio do ex-namorado.  

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Em nota, o Ministério Público (MP) afirmou que recebeu os autos e que deve denunciar ou não Amanda ainda esta semana. A advogada foi presa no dia 20 de dezembro, três dias depois da morte de Leonardo Pereira, de 58 anos, e sua mãe, Luzia Tereza Alves, de 86 anos, em Goiânia. Ela se encontra detida na Casa do Albergado desde então. Segundo a Diretoria-Geral de Administração Penitenciária (DGAP), não há alterações no comportamento da indiciada. 

Amanda negou o crime no dia em que foi presa, alegando ser inocente. As vítimas, de acordo com a PC, foram envenenadas durante um café da manhã em família, onde Amanda foi a responsável por comprar bolos de pote, suco, biscoitos e até uma orquídea. O veneno foi identificado em dois potes pela Polícia Técnico Científica. 

Além das vítimas fatais, o marido de Luzia, João Alves Pereira, de 82, também estava presente no lanche, mas se recusou a comer o pote de bolo por ser diabético. A quarta vítima citada no novo relatório da PC é o tio do ex-namorado da advogada, Agostinho Alberto Alves. Ele apareceu na casa para pegar uma ferramenta e encontrou todos sentados na mesa conversando. 

Quando a advogada o viu, ela fez o convite para Agostinho se servir oferecendo diretamente um bolo no pote. O homem, porém, recusou a oferta porque, pelo horário, poderia afetar seu almoço. Depois de pegar a ferramenta ele deixou o imóvel pela porta dos fundos. 

O delegado Carlos Alfama afirmou no relatório que tanto Agostinho quanto João só não vieram a óbito “por circunstâncias alheias à vontade da indiciada”. O crime foi motivado pelo sentimento de rejeição que a indiciada sentiu em razão do fim do relacionamento com o filho de Leonardo. 

No dia em que comprou o veneno pela internet, inclusive, Amanda teve uma conversa por um aplicativo com o ex e o questionou sobre o que lhe causaria mais sofrimento, no caso a perda de alguém que ele amasse. 

Crime premeditado 

Um laudo anexado ao inquérito mostra que Amanda pesquisou sobre as consequências do veneno no organismo um dia antes do crime e após o café da manhã. A perícia feita no celular da advogada também encontrou uma pesquisa sobre “qual exame de sangue detecta” o veneno, se “tem como descobrir envenenamento” pelo veneno usado e se a substância “tem gosto”. 

Amanda também pesquisou um dia antes do café da manhã sobre hepatomegalia, um aumento exagerado do fígado que pode ser causado por envenenamento.  Horas antes de ir a casa do policial civil, ela procurou saber se “intoxicação alimentar mata”. 

Inicialmente, quando ainda não havia suspeita de crime, a família das vítimas não descartava esta possibilidade, o que foi rapidamente descartado pela perícia devido à rapidez com que Leonardo e Luzia morreram. No dia 18 de dezembro, já com Leonardo morto e a avó do ex na UTI, a advogada fez uma última pesquisa destacada pelo laudo: “análise de material biológico”. 

No relatório entregue à Justiça, o delegado afirma que estes novos detalhes acrescidos à investigação “tornam inafastável a conclusão de que ela premeditou e estudou os crimes de homicídio que praticou contra as vítimas”. O relatório também aponta que ainda seguem em análise pela perícia suplementos alimentares que foram presenteados por Amanda à família do ex. Estes produtos foram entregues à polícia pela viúva de Leonardo. 

Falsa gravidez 

Logo após o término, Amanda teria mentido sobre uma gravidez para se manter próxima do ex e de seus familiares, inclusive simulando um chá revelação. Ao mesmo tempo que demonstrava carinho ao ex, a advogada usava, segundo a polícia, identidades falsas nas redes sociais e outros números de telefone celular para mandar ameaças ao filho de Leonardo.

O depoimento de um motorista de aplicativo foi fundamental para elucidação do caso, pois foi ele quem trouxe o veneno em um pacote, sem saber do que se tratava, de Itumbiara (onde Amanda morava) para Goiânia (no hotel onde ela estava hospedada). A partir daí, e com imagens de câmeras do hotel, a polícia identificou o veneno usado. Foram encontrados documentos no celular da advogada que comprovam a compra.

Amanda agora responde por dois homicídios duplamente qualificados (motivo torpe e emprego de veneno) e duas tentativas de homicídio também qualificados pelos mesmos motivos. No caso de Luzia e João, a possível punição pode ser agravada também pela idade das vítimas. 

O delegado fez um novo pedido de prisão preventiva contra ela. Uma das justificativas alegadas é o histórico identificado envolvendo outros ex-namorados que foram enganados por ela com falsa gravidez, a forma como ela cometeu o crime, contra pessoas que a acolheram em casa e a exclusão de provas que estavam no celular dela antes de ter sido apreendido.