‘Pseudociência’: profissionais de saúde divergem sobre livro de Natalia Pasternak
27 julho 2023 às 12h38
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A microbiologista e presidente do Instituto Questão de Ciência (IQC), Natalia Pasternak, causou polêmica ao lançar o livro “Que bobagem!: pseudociências e outros absurdos que não merecem ser levados a sério”, em parceria com o jornalista Carlos Orsi. Na obra, a dupla afirma que a homeopatia, acupuntura e psicanálise não passam de “placebo” por carecerem de evidências científicas sobre sua eficácia. As alegações, no entanto, não foram bem vistas por profissionais que exercem essas práticas.
O médico Cláudio Calixto, que realiza atendimentos de homeopatia e acupuntura, em Goiânia, afirma que a microbiologista não tem formação acadêmica para opinar sobre estudos científicos medicinais, visto que não atua na área. Ele ainda lembra que os procedimentos criticados por Natalia são resguardados por estudos científicos, sendo, inclusive, ofertadas no Sistema Único de Saúde (SUS) e regulamentadas pelo Conselho Federal de Medicina (CFM).
“Nunca vi nenhum médico falando contra [a homeopatia]. O espectro de tratamento da homeopatia é muito variado, podendo tratar doenças crônicas a quadros psicológicos. Porém, há casos que são tratados com homeopatia e outros. A homeopatia entra muito nos casos onde a medicina convencional não conseguiu surtir efeito”, explicou. O SUS oferece tratamento homeopático em mais de 3 mil municípios desde 2006.
A Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano também repudiou as afirmações de Natalia e Carlos no livro. Em uma nota publicada nas redes sociais, a escola se refere ao livro da microbiologista e do jornalista como sendo um “ataque feroz, gratuito e despropositado à psicanálise”.
“Não esboçam qualquer movimento relevante para ajudar a população a distinguir uma psicanálise rigorosa, fundamentada em solo clínico, teórico, metodológico, ético e epistêmico consolidado, da proliferação indiscriminada de embustes praticados em seu nome, visando beneficiar-se de seu prestígio”, diz trecho da nota, que reforça que a dupla não ter formação médica para criticar os métodos medicinais.
Pseudociência
Mas, o que fez os autores do livro caracterizarem essas áreas como pseudociência? Eles explicam no prefácio do livro que as pseudociências, em geral, têm uma ligação emocional, histórica, familiar com a pessoa, então não é algo que passa toda vez por um crivo de racionalidade e de compreensão do processo científico.
Eles explicam que homeopatia, acupuntura e psicanálise foram extintas de sistemas públicos de saúde de outros países exatamente porque carecem de evidências científicas sobre sua eficácia. Mesmo sem essas evidências, as áreas são populares no Brasil, inclusive com algumas delas sendo ofertadas no SUS e regulamentadas pelo CFM (Conselho Federal de Medicina).
O especialista em teoria do conhecimento e professor de filosofia da Universidade Federal de Goiás (UFG), Cristiano Novaes explica que nem todo conhecimento que não seja científico é caracterizado como uma pseudociência.
Isso porque, conforme Cristiano, uma área do conhecimento se torna uma pseudociência a partir do momento em que não sendo ciência, pretende se passar por uma. Ele explica ainda que o tema ciência é controverso. “Determinar a ciência é muito complicado. Os cientistas, muitas vezes, fazem ciência sem saber que estão fazendo”, concluiu.
O que é efeito placebo?
Placebo é qualquer substância ou tratamento inerte (ou seja, que não apresenta interação com o organismo) empregado como se fosse ativo. Efeito placebo é quando essa substância ou procedimento produz um efeito fisiológico positivo, mesmo que não tenha capacidade para isso, melhorando os sintomas.
O que explica o funcionamento do placebo ainda é uma questão para a ciência. Entretanto, sabe-se que as expectativas do paciente em relação ao sucesso do tratamento têm papel central no efeito. Além disso, quanto mais otimistas as pessoas e menores as pílulas, maiores as chances de funcionar.