Volte a andar de skate com disco de estreia da Deb and The Mentals
17 março 2017 às 21h04
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Primeiro álbum da banda paulistana mistura influências dos anos 1990 nos pouco mais de 28 minutos divididos em 11 faixas
Em maio de 2015, durante uma das noites do Festival Bananada, no Centro Cultural Oscar Niemeyer, o músico Alexandre Zampieri, o Capilé (Sugar Kane, Water Rats e Camarones Orquestra Guitarrística), me entregou um EP e disse “ouça depois, é uma banda nova que eu produzi”. Aquele registro com quatro músicas, nomeado Feel The Mantra (2015), foi reproduzido muitas vezes nos últimos dois anos em casa e no trabalho.
A influência grunge do quarteto formado por Deborah Babilônia (vocal), Guilherme Hypolitho (guitarra), Stanislaw Tchaick (baixo) e Giuliano Di Martino (bateria) chamou minha atenção. Tanto que eu aproveitei uma das idas a São Paulo para assistir a um show da banda Deb and The Mentals no Morfeus Club.
Dois anos depois, o grupo lançou seu primeiro disco completo. Mess, com 11 músicas, foi disponibilizado no YouTube na quinta-feira 9 de março e em serviços de streaming um dia depois. Como aconteceu no EP, a gravação e produção ficaram nas mãos de Capilé, do estúdio Costella, em São Paulo.
Já a masterização do trabalho aconteceu em Nova York (Estados Unidos), feita por Justin Schturtz, no estúdio Sterling Sound. Já passaram pela mão de Schturtz álbuns do Slipknot, Blue October, James Taylor, Paramore, HIM e de outros artistas. O disco tem participação dos músicos Rafael Brasil, guitarrista da Far From Alaska (RN), Rick Mastria, que toca guitarra no Dead Fish (SP) e Sugar Kane (PR/SP), Alê Briganti, baixista da Pin Ups (SP), e o baterista André Dea, o Pindé (Sugar Kane e ex-Vespas Mandarinas).
Toda a estética visual da banda lembra o início da MTV Brasil nos tempos dos vídeos em fitas VHS. Tanto que o nome da banda é escrito no mesmo formato do primeiro logotipo da MTV no País.
Mess
O disco de estreia da Deb and The Mentals, que tem 28 minutos e 40 segundos de duração e será distribuído pela Laja Records, de Vila Velha (ES). A abertura do álbum, com a canção Bleeding, se não pelo videoclipe, feito pelo baterista Giuliano, o GG, já dá vontade de tirar a poeira daquele skate encostado em algum canto do quarto e voltar a tentar ficar em pé no carrinho novamente. Uma música de 1 minuto e 54 segundos que dá uma ideia da energia noventista garageira misturada com skate punk e grunge que marca toda a gravação.
Na sequência vem a faixa título do disco: Mess. Influências como a do Hole ficam ainda mais evidentes no vocal de Deborah. Menos agitada do que Bleeding, Mess tem uma letra quase súplica. “Hello, can you be my mess?” A música que vem depois, Do It Now, segura a boa energia do disco em 2 minutos e 58 segundos com um riff bem marcado. A simplicidade das letras evidencia a força e sinceridade do som. “Come on and shake it up/’Cuz I will do it now/Let’s do it all night/I wanna do it now.”
Ponto alto
Quase com o mesmo tempo de Do It Now, a música I’m OK é uma das que eu mais ouvi desde a semana passada. Com um refrão acompanhado com o tempo de palmas, a letra “I can’t sleep but/I don’t wanna look back” dá a sensação de uma pessoa que tenta superar algo não muito bem resolvido do passado e deixar tudo isso para trás.
A qualidade é mantida com a forte Invisible Twin, que é quando o peso grunge da bateria começa a ficar mais evidente no disco, já desde o início da melodia. Na melhor sequência do álbum, a eletrizante Alive não deixa dúvida de que a graça do som da Deb and The Mentals está na diversão de tocar.
E a lógica de música pela música com base nos anos 1990 segue com gosto em Monster’s Story, que mantém a animação do disco de pé. Old Boots continua a viagem ao garage rock de duas décadas atrás com muita qualidade.
Três últimas
Music Says To Me é o primeiro anúncio de que o disco caminha para seu fim. A letra é uma declaração de tudo que a música é na vida de Deborah e da banda. Ao menos é o que parece. E a melodia segue com um contínuo espancamento invariável de bateria e riffs simples bem marcados. Aí vem Let You Know, com cara de balada de baile de formatura de High School americana, a famosa prom (promenade dance), mas que tem ritmo mais animado do que o esperado em festas desse tipo e uma letra que é uma despedida com ar de discurso de término.
A última canção do disco é melancólica, lenta e fecha muito bem o álbum. Evil Sea é o lado mais visceral desmascarado para dar final ao registro. Com roupagem depressiva acústica, é fácil de imaginar a música embalando dor de cotovelo de muito adolescente. Se você ouviu o disco enquanto andava de skate, a faixa de encerramento do disco combina bem com aquele fôlego final, já morto, de alguém que não subia em um carrinho há muito tempo. Vida longa à Deb and The Mentals!
Ouça o disco completo: