Trio goiano de rock lançou no último sábado (2/4) o álbum Cafeína, o primeiro de estúdio da banda em sete anos de carreira e muita história para contar

Trio goianiense lançou seu primeiro disco de estúdio, que ganhou o nome Cafeína | Foto: Divulgação
Trio goianiense lançou seu primeiro disco de estúdio, que ganhou o nome Cafeína | Foto: Divulgação

Se você nunca ouviu falar na banda Versário, de Goiânia, criada em 2009, talvez já tenha visto os seus integrantes se apresentando no palco de algum bar ou boate da capital. Arthur Andraus (vocal e baixo), David Lacerda (bateria) e Osmar Netto (vocal e guitarra), além da Versário, são o trio que executa o projeto cover Beat and Shout, que aliás é um ótimo tributo aos Beatles nessa cidade quente e seca.

Uma cidade que tem roqueiro demais, mas adoram dizer que é a terra do sertanejo. Eu não sei quem foi o louco que reduziu a cultura musical de Goiás a somente um estilo! Mas insistem nessa tecla chata, velha e mais do que batida.

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Enfim… A Versário, a mesma do cover de Beatles, lançou no último sábado (2/4) seu primeiro álbum de estúdio com nove canções, que ganhou o nome de Cafeína. No dia 17 de março, a banda já havia divulgado o videoclipe da música Vértices, que abre o disco.

Como já foi publicado no Jornal Opção, Vértices mostra um motociclista, que pega sua moto e encara a estrada com toda a liberdade que podia até um encontro com a banda, que toca no meio da pista de uma rodovia.

O disco, que foi lançado pelo selo goiano Falante Records, um braço da Fósforo Cultural, está disponível no Spotify para ser ouvido de graça. Gravado na Suíte do Metrópolis Retrô, em Goiânia, o álbum teve produção de Fabius Smooth, vocalista e guitarrista da banda Vícios da Era. Apenas a canção Lucidez não foi composta pela Versário, mas por Smooth e Bruno Bonfá.

Além do lançamento virtual, a banda vai receber pedidos pela página no Facebook para fazer, por encomenda, uma edição especial em LP (vinil) do álbum Cafeína pelo preço de R$ 70.

O disco

A energia pop rock bem marcada de Vértices, que se mistura com uma atmosfera bem rock’n’roll, abre bem o disco Cafeína. A faixa abre uma sequência de 26 minutos de canções que dialogam com uma energia mais contagiante do rock e em outros momentos se acalma com uma pegada mais tranquila das baladas do estilo.

Capa do disco na versão lançada em CD, que foi vendido a R$ 10 no show de lançamento |Foto: Reprodução/Facebook
Capa do disco na versão lançada em CD, que foi vendido a R$ 10 no show de lançamento | Foto: Reprodução/Facebook

Depois de Vértices vem Foi Se Aventurar, que mostra uma maturidade do trio na escolha definida por um estilo bem marcado no pop rock radiofônico e que facilmente entraria na lista de canções executadas em uma rádio FM.

Quis cometer seus erros/E escreveu pra contar/Deu mais um passo a frente/Preferiu se arriscar/Foi se aventurar/Foi se aventurar/Só lhe restou/Se aventurar“, são versos retirados da música que marcam bem esse destino de quem se arrisca em composições próprias.

Se Assim For Pra Ser dá indícios da vertente das baladas de pop rock que integram o disco. Apesar de descrever como influência dos integrantes bandas como Nirvana, Pearl Jam, AC/DC e Red Hot Chili Peppers, Se Assim For Pra Ser mostra o trio muito mais direcionado a sons nacionais dos anos 90 como Jota Quest, Tianastácia, Skank e LS Jack.

Esse lado do pop rock nacional como identidade fica ainda mais evidente na junção interessante de letra e melodia puxada por bateria e violão de Sede de Vida. Em alguns momentos da música, o vocal lembra algumas canções da banda mineira Tianastácia entoadas pela voz do Maurinho, um dos vocalista do grupo de Belo Horizonte, principalmente no disco Criança Louca (2001).

É claro que, enquanto Osmar canta “Tenho sede de vida/Não sei pra onde/Só quero ir/Gosto que minha mente/Esteja aberta pra respirar“, Maurinho no Tianastácia falava de outros assuntos e mostrava um lado mais louco do pop rock nacional. Mas com certeza “Só quero que meu corpo/Tenha mais tempo para consumir/Enquanto aqui espero/Mais uma dose pra relaxar” são versos de Sede de Vida que caberiam em uma música do grupo mineiro tranquilamente.

Volta ao rock

Lucidez busca um lado mais roqueiro pé na estrada que já tinha aparecido com Vértices, lá na primeira faixa do disco. Mesmo com toda a energia rock’n’roll da música, com tudo muito bem tocado, parece faltar algo que talvez ao vivo seja diferente de ouvir a faixa gravada no álbum.

Aí vem a faixa título do disco: Cafeína. “Enquanto vejo faróis acesos/Eu continuo a rodar/Preciso ter os olhos abertos/Pra ver o tempo voar.” O bom riff de guitarra de Cafeína, acompanhado desses quatro primeiros versos, parece dar a ideia de que a música vai ter uma energia esmagadora com uma bateria sendo atropelada por uma pancadaria sem tamanho. Só que aí a música se mantém na mesma toada, que é legal, mas poderia ser melhor. No refrão “Fico acordado/Olhos abertos“, a canção retoma o ânimo inicial.

Enquanto Houver Tempo retoma o lado balada do disco, mas com toda a intensidade dos versos radiofônicos: “Resolvi levar a vida que eu sempre quis/E buscar tudo aquilo que me faz feliz“. E continua nos momentos seguintes naquela junção de estrofe mais lenta e uma leve acelerada no refrão. Interessante. Vem até uma espécie de quebrada, não muito absurda, na bateria da música, e um coro diferente do restante do álbum.

Gosto do Que Vejo é a canção vento na cara com possibilidade de ser o hit grudento do disco. “Eu vou fechar os olhos/Pra ir um pouco mais além/Eu gosto do que vejo/Me faz sentir tão bem.” Um baixo que delimita bem a melodia e um clima de cabeça tranquila e boa vibração. Cara do que se espera de uma banda de pop rock.

Clima final

A canção que fecha o disco, Por Bem, lembra ainda mais uma música voz e violão do Tianastácia, com toda a calmaria e viagem de quem pensa sobre a vida no final de tudo. “No fim, levo no bolso histórias pra contar/Voei, vivi.”

Os 26 minutos do álbum Cafeína são uma boa experiência para quem se acostumou em ver a Versário tocar cover de Beatles perceber que o trio tem capacidade para fazer música própria de qualidade. Mas em alguns momentos o disco dá impressão de que é tudo muito bem tocado, mas faltou alguma energia ou tentativa de arriscar mais. Talvez ao vivo essa estrutura do Cafeína seja ainda melhor. Espero poder ver o show em breve.

Assista ao videoclipe da canção Vértices: