Segunda noite do festival mostrou ao público boas atrações locais, do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Ceará, Bahia, Pernambuco, São Paulo e um contagiante rock português

Badauí garantiu a sessão nostalgia da noite de sábado com o show do CPM 22 | Foto: Bruna Aidar/ Jornal Opção
Badauí garantiu a sessão nostalgia da noite de sábado com o show do CPM 22 | Foto: Bruna Aidar/ Jornal Opção

O início de noite de sábado (6/8) começou com uma baixa na programação do 22º Goiânia Noise Festival, na Esplanada JK do Centro Cultural Oscar Niemeyer. A banda Tequila Baby, de Porto Alegre (RS), que já havia comunicado na quarta (3) o cancelamento dos shows em Goiânia e Brasília (DF) marcados para este final de semana, realmente não veio para a capital goiana. O vocalista Duda Calvin precisou fazer uma cirurgia de apendicite e não se recuperaria a tempo de se apresentar com o grupo.

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Com isso, o primeiro show, da banda goiana Sótão, marcado para as 17 horas, foi atrasado em meia hora. A o grupo seguinte, Almost Down, subiu ao palco 2 às 18 horas. Os dois são representantes de qualidade do rock com influências do movimento seguinte ao hardcore melódico do final dos anos 1990 conhecido como post-hardcore.

Não consegui ver o show completo da banda Cattarse, de Porto Alegre. Mas as duas músicas que cheguei a acompanhar me agradaram bastante, já da fase com letras em inglês retiradas do disco Black Water (2016). Apesar de terem tocado para um público ainda muito reduzido até as 19 horas de sábado, a impressão deixara foi a melhor possível. O trio formado por Igor van der Laan (vocal e guitarra), Yuri van der Laan (baixo) e Diogo Stolfo (bateria) tem atitude e cara de banda de hard rock com uma boa pitada de blues e metal.

Por que o nome tem duas letras “t”? Igor explicou no palco que Cattarse é igual Metallica, que tem dois “l” ou Led Zeppelin, com dois “p”. Com ou sem sentido de ser a letra duplicada, a banda é boa e merece atenção.

Embalados pelo EP Immaterial (2016), a catarinense Rec On Mute mudou completamente a atmosfera de uma plateia ainda apática às 19 horas no palco 2 do Goiânia Noise. De Jaraguá do Sul (SC), o quarteto formado por Gabriel Barg (guitarra e voz), Julio Domingos (guitarra), Kélson Marcelo (bateria) e Wilson Lopes (baixo) talvez tenha quebrado um pouco a sequência dos shows que aconteceram antes da banda.

Mas toda a energia com influências de shoegaze, uma certa barulheira que mistura o indie clássico e grunge e certa pitada de experimentalismo agradaram os poucos presentes naquele momento. Talvez não fosse o evento ou o horário ideal para o grupo, mas, além das namoradas que acompanhavam empolgadas cada movimento dos garotos no palco, outras pessoas saíram da apresentação deles com uma boa impressão. Apesar de não terem falado nada além da música, a banda tocou o tempo inteiro com uma camiseta vermelha do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) sobre o bumbo da bateria.

Do clima intimista, o Noise voltou ao screamo e ao post-hardcore com a já conhecida Aurora Rules, que, apesar dos problemas com a guitarra de Lucas Rezende, que parou de funcionar em algumas músicas, a banda fez um bom show, com parte do público cantando junto músicas como Eu Vou Vencer. Os goianos preparam um disco novo. Durante a apresentação, eles tocaram a recém-concluída Sinta. Goiânia segue bem representada no estilo.

Mudança na programação

Lúcio Maia mostrou toda sua técnica no show da Nação Zumbi | Foto: Bruna Aidar/ Jornal Opção
Lúcio Maia mostrou toda sua técnica no show da Nação Zumbi | Foto: Bruna Aidar/ Jornal Opção

A próxima banda seria a goiana Sheena Ye, mas com a ausência do Tequila Baby, outra atração de Goiânia se apresentou às 20h09 no palco 2. Depois de 14 anos longe do festival, a Chef Wong’s voltou ao Goiânia Noise como “banda reserva”, como o trio foi anunciado pelo mestre de cerimônia do evento, o vocalista Fal, da Rollin’ Chamas. Aliás, o mesmo Fal chamou a Aurora Rules de “Aurora Roots”.

O trio Chef Wong’s, vestidos de roupas pretas com gravatas borboletas vermelhas e aventais vermelhos com um M ao contrário, em alusão à logo do McDonald’s para formar o W do nome da banda, mostrou o mais cru e puro punk rock com clara influência de Ramones. Homenagens ao vocalista João Punk, do grupo Lobinho e os Três Porcão, que está internado pro problemas de saúde, e aos Ramones, fizeram parte do bom show da Chef Wong’s, com direito a irmã tiete do baterista.

Aí sim foi a vez da Sheena Ye, que passou a ser atração do palco 1. Com um público um pouco maior às 20h33 (a organização do festival não divulgou a quantidade de pessoas que esteve no festival na sexta e no sábado), mostraram seu forte rock com cara de adolescente e atitudes com referências visíveis de Vivendo do Ócio (BA). Parte das músicas fazem parte do EP, que tem quatro canções, e está disponível em plataformas online como o Spotify.

Para se ter uma ideia, o guitarrista Douglas Dieck, que tem muitas partes das músicas dedicadas aos seus solos, completou 24 anos na sexta-feira (5). O festival, que está na sua 22ª edição, tem a mesma idade do vocalista e baixista Mário Nacife. “Esse festival tem 22 anos e eu tenho 22 anos. O Noise sempre dando atenção para o rock autoral. O rock autoral não deve morrer nunca”, disse Nacife ao final do show.

Parem tudo

Isso mesmo! Parem tudo. Parece básica, mas foi a melhor banda a se apresentar no Noise de 2016 até aquele momento entre as “desconhecidas”: The Dirty Coal Train. A mistura portuguesa de garage rock, pós-punk e rock encantou o público, que viu um trio formado por duas guitarras e bateria fazer o baixo parecer nem faltar no palco. A guitarra com tonalidade mais grave, inclusive a voz também, de Beatriz Rodrigues, contrasta bem com o vocal um pouco gritado e a guitarra mais melódica de Ricardo Ramos.

Uma boa dica para conhecer o trabalho desses portugueses de Lisboa é o disco Super Scum. Muita energia no palco, contato com a plateia, rock sem muita invenção, virtuose total ao vivo e a combinação de roupa, com todos de vermelho, transformaram o show em um belo espetáculo musical.

Do garage rock ao country foi a mudança ocorrida quando o Hillbilly Rawhide (PR) começou seu show no palco 1. Uma pena que o baixo, um dos grandes atrativos da banda, não tenha soltado uma nota sequer nas três primeiras músicas. Apesar não ter sido um show muito diferente do que fizeram em 2013 em Goiânia, canções como Uma Cerveja, Uma Cachaça e Um RemedinhoCavaleiros da Morte, Ferrovia Centro-Oeste e a clássica O Enxofre e a Cachaça fizeram o público se render à mistura rockabilly dos curitibanos, que passeiam muito bem entre o country com fivela de caubói, chapéu, bota e muito rock a cada dose de bebida, seja ela qual for.

Jonnata Doll e os Garotos Solventes fizeram um bom show | Foto: Bruna Aidar/ Jornal Opção
Jonnata Doll e os Garotos Solventes fizeram um bom show | Foto: Bruna Aidar/ Jornal Opção

Nada de vocal

O palco 2 marcou a volta do Retrofoguetes (BA) a Goiânia. Às 22h11, um quarteto todo vestido com macacões laranjas mostrou todas as vertentes musicais possíveis que duas guitarras, baixo e bateria podem extrair em um show instrumental pra lá de interessante. O terceiro disco de Rex (bateria), Morotó Slim (guitarra), Julio Moreno (guitarra), que ganhou o nome de Enigmascope Volume 1 – Temas Compostos e Executados Pelos Retrofoguetes, que será lançado em agosto, é o sucessor de Chachachá, de 2008.

Fato curioso do show: Enquanto o público queria mais, e parecia que a banda tocaria mais uma música, o baterista Rex se levantou para dizer que não são de falar muito, começou a agradecer à presenta da plateia, quando Fal apresentava, no palco 1, às 22h40, o cearense Jonnata Doll e os Garotos Solventes. Bem que os caras do Retrofoguetes tentaram mandar mais um som, mas não teve jeito.

Jonnata Doll é a versão do rock star do imaginário coletivo: bastante performático, chama atenção mesmo, seja pela música ou pelo o que faz no palco. O disco homônimo de 2014 mostra muito isso. Se o público não gostou de Rua de Trás ou Esperando Por Você, ficou bem atento, seja por achar legal ou bizarro um vocalista que arranca a roupa, coça o saco, tira a calça, puxa o sinto e se chicoteia com força, tenta rasgar a cueca ou vai para a galera cantar.

Volta aos goianos

Two Wolves é um quinteto de Senador Canedo que lembra bem a parte mais pop rock do indie atual. O disco Just Listen To (2015) mostra bem esse lado, que pode ser resumido de forma tosca e simplória em uma junção de The Killers e Two Door Cinema Club batidos no liquidificador. Eles começaram seu show às 23h30 no palco 2, onde muita gente já esperava para ver a apresentação dos paulistas do CPM 22.

Depois do Two Wolves, veio a Vish Maria, outra representante goiana no sábado do Noise. Artista da Monstro Discos, organizadora do festival, a banda é formada por Alex Mac’Arthur no órgão, piano, teclados e vocais, Kellen Lomazzi no vocal, Yan Ferreira na guitarra, Diego Silvestre no baixo e vocal e Paulera na bateria.

O som “sem definições” classificados por eles como “plural” e vencedor do “Oscar de melhor produção intelectual virtual e sensorial, diretamente produzido por seres não terrestres e amigos imaginários” é mesmo uma grande mistura de muita coisa. Tem hora que parece metal, em outros momentos experimental, chega a parecer psicodélico, inovador e pode ser conferido melhor no disco Vish Maria (2016). A cerveja do bar estava mesmo gelada!

Two Wolves foi um dos representantes goianos na segunda noite do Noise | Foto: Bruna Aidar/ Jornal Opção
Two Wolves foi um dos representantes goianos na segunda noite do Noise | Foto: Bruna Aidar/ Jornal Opção

Sessão nostalgia

Até 2004, ir a um show do CPM 22, ou Caixa Postal Mil e Vinte e Dois (SP), era a certeza de voltar pra casa com roxos espalhados pelos braços e muitas rodas punk, de hardcore, pogo ou como você quiser chamar. Hoje, é só uma bela sessão nostalgia com muita gente gravando muitos vídeos no snapchat e um pouquinho de empolgação que logo passa.

Sei como que as coisas são.” Precisou só de o vocalista Badauí cantar esse verso de Desconfio que eu tinha a certeza que saberia cantar quase todas as músicas do show. Eu também já fui novo. Mas o show continua e a sensação é que aquele tempo já passou. Mas o público não arredou pé até Regina Let’s Go, entre 0h32 de domingo (7) e 1h48.

A sessão nostálgica continuou com Chegou a Hora de Recomeçar, foi quebrada com Entre o Céu e o Inferno, voltou com Dias Atrás. Aí veio a fraquíssima A Nova Ordem, que deu espaço para a velha O Mundo Dá Voltas, Contagem Regressiva, que deu espaço para a chata Vida ou Morte. Novidade mesmo foi Revolução, composta com Henrique do Blind Pigs (Porcos Cegos), que também não é boa.

Depois entrou Atordoado, Um Minuto Para o Fim do Mundo, Irreversível, Não Vá Embora e uma tentativa engraçada de tocar War Pigs, do Black Sabbath. Foi aí que Badauí caiu em um discurso sem muito sentido contra as pessoas que entraram na onda do game Pokemón Go. Em seguida o CPM 22 tocou Felicidade Instantânea, Indubitável, Tarde de Outubro e fechou o show com Regina Let’s Go. Foi legal, mas só isso. E o Phill, quando estava no Dead Fish, era um guitarrista menos decorativo no palco. Até o Portoga e o Wally apareciam mais no CPM 22 quando eram da banda.

Phill, Fernando e Luciano durante o show do CPM 22 | Foto: Bruna Aidar/ Jornal Opção
Phill, Fernando e Luciano durante o show do CPM 22 | Foto: Bruna Aidar/ Jornal Opção

Meu maracatu pesa uma tonelada

 

Considerado o nome mais forte do manguebeat ao lado do Mundo Livre S/A, a Nação Zumbi (PE) encerrou bem a madrugada de domingo com um show iniciado por volta de 1h50. Defeito Perfeito abriu a apresentação e deu lugar a Foi de Amor. Dela para Bossa Nostra seguida de Hoje, Amanhã e Depois.

O vocalista Jorge Du Peixe, que tocava alfaia na banda até 1997, assumiu os vocais quando Chicho Science morreu em um acidente de carro. Veio dele a crítica ao governo interino de Michel Temer (PMDB). “Estamos vivendo uma quase ditadura. A gente deseja para o País novas e melhores auroras.” Em seguida o grupo executou a recente Novas Auroras e depois Meu Maracatu Pesa Uma Tonelada.

“O Nação Zumbi também gosta de David Bowie”, disse Du Peixe antes de a banda tocar uma versão bem mais animada de China Girl, que abriu espaço para a contagiante Quando a Maré Encher. Do disco mais recente veio Cicatriz, seguida da mais antiga O Cidadão do Mundo.

Depois de O Cidadão do Mundo, da fase Chico Science e Nação Zumbi, ainda vieram Banditismo Por Questão de Classe, que foi anunciada por Du Peixe como “um momento em que vivemos um banditismo por questão de classe”, em nova referência à forma como Temer chegou ao cargo de presidente.

A sequência das mais antigas continuou com Manguetown, Maracatu Atômico e A Praieira, até o fim do show com Da Lama ao Caos, porque “um homem roubado nunca se engana“.

Jorge Du Peixe comandou a Nação Zumbi na madrugada de domingo | Foto: Bruna Aidar/ Jornal Opção
Jorge Du Peixe comandou a Nação Zumbi na madrugada de domingo | Foto: Bruna Aidar/ Jornal Opção

Último dia

Hoje a festa começa às 17 horas com a banda Rural Killers.

Programação

Domingo (7/8)
Palcos 1 e 2
17h00 – Rural Killers (GO)
17h30 – Ímpeto (Conjunto de Música Regional Ímpeto) (GO)
18h00 – Lattere (GO)
18h30 – Burt Reynolds (Banda Burt Reynolds) (SP)
19h00 – Royal Dogs (MA)
19h30 – La Raza (SP)
20h00 – Serial Killer (RJ)
20h30 – Woolloongabbas (GO)
21h00 – Dance of Days (SP)
21h30 – Os Cabeloduroo (DF)
22h00 – The Galo Power (GO)
22h30 – BNegão & Seletores de Frequência (RJ)
00h00 – Matanza (RJ)

Estúdio Noise
Peixefante – 18h00
Noise Triad – 19h00
Rapsódia – 20h00
Marmelada de Cachorro – 21h00
Heavens Guardian 22h00

Casa de Música
DJ Zanka – 17h00
Mano Curado – 17h45
Tese – 18h30
Calango – 19h15
DJ Lagoa – 20h00
Cypress Junkies (EUA) – 20h45
Batalha de MCs – 21h30
Gasper – 22h15
DJ Alan Honorato – 23h00

Ingressos antecipados: Tribo (Rua 36, St. Marista), Detroit Steakhouse (Av. 136, St. Marista), Seven Rock Shop (shopping Buena Vista), Hocus Pocus (Av. Araguaia), Loja do Ervilha, Woodstock Bar e Shuffle Mix (Av. Araguaia)

Valores: R$ 30 por dia antecipado, R$ 40 na porta do evento

Mais informações no site do Goiânia Noise Festival