Com Letícia Sabatella, Denise Del Vecchio e Larissa Bracher, espetáculo que reúne “Antígona”, “Medeia” e “Electra” enfim chega a Goiânia

“Trágica.3” já se apresentou em diversos lugares do País e agora chega a Goiânia. Espetáculo será no dia 16 de janeiro
“Trágica.3” já se apresentou em diversos lugares do País e agora chega a Goiânia. Espetáculo será no dia 16 de janeiro | Foto: Divulgação

Yago Rodrigues Alvim

Nascido no interior de São Paulo, em Lençóis Paulista, Guilherme Leme começou a estudar teatro há cerca de 40 anos. “Eu tinha por volta de 15 anos de idade. Vivi toda uma carreira de ator”, afirma. Já a carreira de diretor, tem apenas dez anos. “Na verdade, sou um velho ator e um jovem diretor”, diz ele na entrevista que concedeu ao Opção Cultural, a respeito de “Trágica.3”, espetáculo do qual é diretor e que reúne três das grandes tragédias gregas — “Antí­gona”, “Medeia” e “Electra” — e três das mais renomadas atrizes brasileiras: Letícia Sabatella, Denise Del Vecchio e Larissa Bracher.

Como surgiu a ideia de fazer “Trágica.3”?
Eu já tinha feito uma tragédia grega, a “Antígona”. E foi a primeira tragédia que dirigi. Foi uma experiência muito interessante, pois a peça, que se chamava “Rock Antígona”, era uma adaptação, uma leitura contemporânea sobre o mito de Antígona. Eu gostei muito da incursão das tragédias e da experiência, pois minha proposta era misturar muita música e artes plásticas dentro deste espaço teatral, de dar a mesma importância às artes plásticas, à música e à dramaturgia. Resolvi, então, dentro dessa pesquisa, trabalhar novamente com tragédias gregas.

Eu, que tinha muita vontade de montar “Medeia” e que gostava muito do monólogo que o Heiner Müller escreveu para esta peça, me propus a montá-la. Mas o texto é um poema muito curto, que não daria o tempo de uma peça; seria apenas 20 minutos. Eu precisaria de mais dois poemas para ter o espetáculo inteiro. Assim, eu reli “Antígona”, que já tinha montado, e me propus a fazê-la de modo mais radical ainda, na vertente musical. Por isso convidei Letícia Sabatella que é musica. Além disso, tem “Electra”, que também tinha vontade de montar. Com “Antígona” e “Ele­c­tra”, eu convidei dois autores, o Caio de Andrade e o Francisco Carlos para escrever também dois textos poéticos a partir dos mitos. Tudo isso, por volta de 2013.

Diretor Guilherme Leme_2
Foto: Divulgação

Quais foram os desafios da pesquisa e da montagem? Como foi este trabalho?
Tudo que não é desafio, não me interessa. Eu gosto de desafio e um novo espetáculo tem que sê-lo, tem que ser algo que eu nunca tenha feito. É lógico que, em um primeiro momento, é como mergulhar em um vazio, no escuro. Você precisa pesquisar, estudar muito, ter uma equipe competente junto a você e dar a mão a todos e perguntar “vamos pular no abismo?” e, assim, pular. Durante a queda, as asas precisam nascer. Elas têm que aparecer para podermos voar e isso requer muito trabalho, muita entrega e, claro, muita paixão. Eu sou apaixonado por tragédia.

O espetáculo tem algo a dizer à realidade atual? Afinal, são tragédias clássicas adaptadas em uma realidade contemporânea.
Mensagem não tem, não sou muito dessa história de mensagem. Mas estamos falando de tragédias gregas e ela falam sobre a humanidade, do processo civilizatório da humanidade, sobre o ser humano. O ser humano é contemporâneo e tudo o que diz respeito a ele é contemporâneo. Na Anti­guidade, era igual; afinal tudo vem da tragédia grega. Está tudo lá, pois é o berço da civilização.

Quan­do pensamos em qualquer situação de vingança, mentiras, guerras e tragédias, na Antiguidade eles também passavam por situações assim. O homem é um ser reincidente destas questões. Faz parte do gênio humano esses sentimentos. Tudo o que se vê na literatura, nos cinemas, teatro e teledramaturgia sai das tragédias e comédias gregas. Portanto, o que vivemos agora, de certa forma, em outro tempo já foi vivido.

Como foi trabalhar com a música e, no caso, com a atriz Letícia Sabatella?
A minha pesquisa, que começou com “Antígona”, propunha que a música tivesse uma importância tão grande quanto o texto. Para o próprio texto, ao qual queria mais esta pegada musical, procurei alguém que cantasse e a Letícia canta divinamente e toca alguns instrumentos. O Fernan­do e o Marcelo também são músicos. Os três compuseram as músicas. Eles trazem a música em uma conversa com o texto. A música é outro personagem que está em cena.

Como foi o trabalho com Denise Del Vecchio, atriz que foi premiada pelo espetáculo e que dá vida ao poema de Heiner Müller?
A Denise tem o dom da palavra e isso era essencial para “Medeia”. O segmento da Medeia é focado na imagem e na palavra — nós trabalhamos com um vídeo durante a apresentação da Denise. E eu queria muito isto, a conversa entre a imagem e a palavra. A Denise tem esta propriedade de uma grande atriz de simplesmente, sem ação e movimentação cênica, conseguir toda a emoção necessária para o texto, no caso, da “Medeia”.

A atriz Larissa Bracher entrou recentemente no lugar de Miwa Yanagizawa? Como foi isso?
A Larissa entrou no lugar da Miwa, pois ela passou por uma cirurgia na coluna. Ela estava com hérnia e teve que operar. A Larissa, que já tinha trabalhado comigo na primeira montagem que fiz de “Antígona”, ou seja, ela participa desde o início do processo. Ela vive “Electra” agora, que foi uma performance feita através de um exercício de resistência corporal.

Qual a sensação de dar vida a um espetáculo que reúne um elenco renomado e envolve ainda artes plásticas e música?
É fantástico para mim. Vejo que a pesquisa, o ca­minho que estou trilhando tem sido reconhecido, com uma boa aceitação. E é nestes mares que pretendo navegar.

Guilherme Leme: “Em ‘Trágica.3’ estamos falando de tragédias gregas, que tratam da humanidade de seu processo civilizatório”