Freud, Adler e Frankl pensaram de maneiras diferentes sobre o sentido da vida, e suas respostas continuam moldando nossa compreensão do ser humano. Foi o que percebi com mais nitidez ao preparar uma palestra espírita recorrendo a textos passados da Faculdade de Filosofia: Freud, o pai da psicanálise, acreditava que o sentido da existência não pode ser separado da sexualidade, que para ele não era apenas um impulso carnal, mas uma energia vital que atravessa o desenvolvimento humano desde a infância.

Um caso célebre que ilustra isso é o do “Homem dos Lobos”, paciente atormentado por recordações infantis de teor sexual que ele não compreendia, mas que organizavam sua angústia adulta. Freud mostrou que o problema não estava no episódio em si, mas na maneira inconsciente como o sujeito lidava com seus próprios desejos, medos e proibições. Para o criador da psicanálise, encontrar algum sentido na vida é aprender a conviver com essa força interna que tanto impulsiona quanto ameaça, simbolizando-a, transformando-a e, muitas vezes, sublimando-a em trabalho, vínculos afetivos, arte e criação. Não há uma resposta definitiva para a existência; há a tarefa permanente de negociar com o desejo e de encontrar caminhos socialmente possíveis para viver com ele.

Adler, que rompeu com Freud, deslocou a pergunta para outra dimensão. Para ele, o ser humano nasce sentindo-se pequeno, insuficiente, e passa a vida tentando superar essa inferioridade. Um exemplo muito citado por Adler é o do jovem que não conseguia decidir sua profissão. A indecisão, que parecia apenas dúvida, escondia o medo de fracassar e confirmar sua própria sensação de inadequação. Adler o ajudou a perceber que escolher uma carreira não é um gesto isolado, mas uma forma de participar da vida coletiva. Quando o rapaz descobriu que podia ser útil, encontrou motivação. Assim, a vida ganha sentido quando deixamos de nos preocupar apenas com nossa própria insuficiência e passamos a participar da comunidade, contribuindo com algo maior do que nós mesmos.

Frankl, por sua vez, ofereceu uma visão radicalmente distinta, baseada em sua experiência nos campos de concentração nazistas. Ele percebeu que algumas pessoas sobreviviam ao horror porque sustentavam dentro de si uma razão para continuar: um amor, uma tarefa, um compromisso íntimo. Ele narra o caso de um prisioneiro que permanecia vivo sustentado pela esperança de reencontrar o filho. Mesmo sem comida, sem dignidade e sem garantias, esse pai levantava-se diariamente porque tinha um porquê. Frankl concluiu que não é o prazer, nem a superação da inferioridade, mas a vontade de sentido que move o ser humano. E esse sentido não se inventa arbitrariamente; é descoberto na criação, nas experiências afetivas e culturais, ou na maneira como enfrentamos um sofrimento inevitável.

As três visões, apesar de diferentes, compõem um retrato profundo da condição humana. Freud lembra que somos seres atravessados por conflitos internos, e que viver é aprender a transformar desejos que não escolhemos. Adler afirma que ninguém encontra sentido sozinho: a vida ganha direção quando contribuímos para algo além do nosso próprio ego. Frankl recoloca a existência numa chave espiritual e pessoal, mostrando que cada pessoa carrega uma tarefa única no mundo — algo que só ela pode realizar.

Dentro da visão espírita, especialmente nas reflexões de Joana de Ângelis, o sentido da vida nasce da evolução espiritual e do amor que se expande em direção ao outro. Para ela, o ser humano não está condenado às próprias sombras, mas chamado à autotransformação contínua. A dor, para Joana, não é apenas limite, mas convite ao crescimento interior. Assim, enquanto Freud revela nossos conflitos, Adler destaca nossa necessidade de vínculo e Frankl fala do chamado íntimo ao propósito, Joana acrescenta que cada existência possui um valor eterno: viver é educar o espírito para a luz de todas as vidas de agora e das próximas a caminho de sermos cada vez mais felizes no território da emoção e da paz da paz interior.