A solidão alheia pede respeito
31 março 2016 às 17h38
COMPARTILHAR
Segundo livro do maranhense radicado em Goiânia, Kaio Bruno Dias, o intitulado “Respeite a Solidão Alheia” é um retrato da vida cotidiana
Marielle Sant’Ana
Sabe aquele trecho da música “Quase sem querer” do Legião Urbana, “às vezes o que eu vejo quase ninguém vê”? Bom, é bem isso que a gente enxerga ao se deparar com a poesia do mais goiano que muito goiano, o maranhense Kaio Bruno Dias, no seu mais recente livro lançado “Respeite a solidão alheia”. Ele tem a capacidade de nos fazer perceber coisas que a gente, insensivelmente, não nota em nossas vidas cotidianas.
Com simplicidade e uma linguagem contemporânea despretensiosa, que representa o nosso jeito coloquial de expressar ideias, a obra nos diz a partir de uma perspectiva intimista, introspectiva e também extrospectiva sobre temas que estão divididos em nove partes relacionadas à solidão, amor, frustrações, perda de ônibus e tantos outros. Coisas que uma maioria já deve ter passado, passa ou passará algum dia.
Quem nunca deixou a tevê ligada para abafar o som da própria solidão? Ou ficou no Facebook, Whatsapp e tantos outros aplicativos que visam a interligação entre pessoas, mas se sentia desconectado de si mesmo, solitário em meio a multidão? Um dos poemas que se pode destacar, duramente, esta nossa realidade é esse:
“sempre que ficava só
deixava uma música tocando
para não ter a sensação
de estar sozinho.”
O livro “Respeite a solidão alheia” nos diz algo que vai além da própria solidão tão característica dos escritores ao elaborarem expressivamente seus textos. O poeta, fazendo-nos perceber nossa própria solidão enquanto leitores e nossas identificações com os escritos de algo alheio a nós, transforma sua visão literária singular em algo coletivo, compartilhado a todos os que o lerem.
Assim, por meio da literatura, Kaio nos transporta e nos sensibiliza pela busca do nosso próprio Eu. Uma busca feita por lobos e lobas solitários em que só quem passa sabe e só quem vive sente. Neste mundo contemporâneo enlouquecido, onde “nada é feito para durar” como já anunciou o sociólogo Bauman, essa tal busca por quem somos é uma atitude que pode ser encarada como “corajosa” diante do espelho feito pela nossa consciência. Uma procura, portanto, que deve ser respeitada por configurar-se na mais bela e pura solitude.