Eva  Alterman Blay esmiúça as causas desse processo, seus percalços e motivações

“Como seres humanos somos todos iguais, e como humanos somos todos diferentes: nas crenças, nas línguas, na política, na ideologia, no gênero. É preciso explicar a diversidade do povo judeu, e a persistência das diferenças entre uns e outros”, afirma Eva Alterman Blay, autora do livro O Brasil como destino, que ganha segunda edição em parceria da Editora Unesp com a Imprensa Oficial do Governo do Estado de São Paulo.

Após três décadas de trabalho coletando dados e relatos sobre a imigração judaica para o Brasil proveniente de 17 países – a maioria da Europa Ocidental – e de diferentes classes sociais, a autora reconstrói os cenários da população ao longo dos tempos, questionando o estereótipo do judeu rico e bem sucedido. Revisitando e reformulando o significado de diáspora, a pesquisa refaz uma trajetória que vai desde as preconceituosas imposições à vida comunitária nos shtetlach da Romênia, da Polônia e da Rússia, passando pelo impacto da publicação dos apócrifos Protocolos dos sábios de Sião, bem como pelo itinerário que figuras conhecidas como Armando Kaminitz, Ema Klabin e Tatiana Belinky precisaram percorrer para garantir a sobrevivência até sua chegada ao Brasil, onde preservaram suas raízes culturais mesmo em um mundo completamente diferente.

A coleção de histórias que Eva Blay reúne no livro – permeado por inúmeras fotos – ilumina como os judeus “foram empurrados como a maioria dos imigrantes pelos mesmos motivos e sempre buscaram a tão sonhada paz”. Para tanto, explicita de onde vieram os judeus que escolheram o Brasil como destino, como e onde viviam anteriormente, e por que vieram.

Indo além, questiona por que era necessário afirmar-se como judeu ou por que, para alguns, ser judeu poderia ser interpretado como uma “vergonha”. São as respostas sobre o que realmente significa ser judeu e o que é integrar a classe no país que o leitor vai encontrar nesta obra que registra exemplos de perseverança na luta pela preservação da diversidade das existências e pela tolerância entre povos. Neste sentido, configura-se como uma referência para se compreender os problemas migratórios atuais que o mundo apresenta.

Sobre a autora – Eva Alterman Blay é bacharel, mestre e doutora em Sociologia pela Universidade de São Paulo. Professora titular dessa universidade, recebeu diversos prêmios, advindos especialmente de sua atuação na área da Sociologia das Relações de Gênero. Tem inúmeros livros publicados. Trabalhou na ONU, em Viena, como Inter-Regional Adviser no Departamento de Assessoria à Mulher. Foi senadora da República. Atualmente é professora Emérita Titular Sênior da USP.