Sobre pobreza e modernidade
05 maio 2018 às 10h12

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Livro de Milton Santos, publicado há 40 anos, mantém-se atual pela contundência com que o autor ataca o problema da miséria, sobretudo, nos aglomerados urbanos, onde a globalização é mais eficaz

Nenhum estudioso da pobreza urbana soube ainda como enquadrar o problema e apontar soluções satisfatórias. Tudo que se faz é juntar um ou outro ponto do intricado mar, num amontoado de palavrório sem que nada se resolva.
Olhando para o tema, esta afirmação parece ter sido formulada agora. Mas não. Foi Milton Santos que, em 1978, procurou demonstrar em seu livro “Pobreza Urbana” que a pobreza apresenta uma espécie de nó górdio, incapaz de ser problematizado com clareza.
Milton Santos foi um professor e intelectual brasileiro de reconhecimento internacional, falecido em 2001. Ele é autor de livros importantes como “A Natureza do Espaço”, “Técnica, Espaço, Tempo: Globalização e Meio Técnico-Científico Informacional” e “Por Uma Outra Globalização”.
Seu pequeno tratado de 136 páginas sobre uma das questões que sempre afligiu as sociedades, ontem e hoje, ganhou uma nova edição em 2009, com reimpressão em 2013 (Edusp). A demanda demonstra quão valiosa é sua leitura. Segundo Santos, a pobreza é um mal que não pode ser estudado pelas mesmas ferramentas que se estuda a cidade revestida da economia moderna, com teorias de urbanização e emprego pleno.
O universo da pobreza está alijado dessas prerrogativas. Há que se mergulhar nele para vivenciá-lo e retirar dali os nós aos quais a pobreza está atada. Para o autor, o fenômeno da pobreza urbana está ligado à própria modernização, “pela forma que assume em pleno período tecnológico, que é responsável pelo desenvolvimento do subemprego e da marginalidade.”
Além disso, o autor afirma que são preponderantes o fator histórico e a maneira como é pensada e cultivada a globalização, que dá aos gestores do capital ainda mais poder de exploração da miséria do mundo.
Hoje em dia, ninguém estuda a realidade brasileira, em sua face geoeconômica e política, sem antes se inteirar do pensamento de Milton Santos.