Rap e rock dividem espaço com suspeita de agressão no último dia do Vaca Amarela

27 setembro 2016 às 08h23

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Evento teve um grande final no Martim Cererê cheio até depois das 2h15 de segunda (26) para ver atrações como Hellbenders e Gabriel o Pensador

Augusto Diniz
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O domingo (25) foi marcado pela diversidade musical na 15ª edição do Festival Vaca Amarela. Seria essa a única lembrança que o evento deixaria não fosse uma suspeita de agressão que pode ter envolvido seguranças e um policial armado, que teriam espancado algumas pessoas que tentaram entrar sem pagar pulando o muro do Centro Cultural Martim Cererê, no Setor Sul.
Na internet, há relato de que esse suposto policial, pois ainda não há a confirmação de que se tratava mesmo de uma pessoa da polícia, teria se passado por “dono do evento” para, junto com alguns seguranças, agredir um grupo de garotos que tentou entrar sem pagar no festival.
https://www.facebook.com/andre.luiz.967422/posts/1240519235999765?pnref=story
“Acabamos de tomar conhecimento da situação narrada pelo Simão José e estamos completamente estarrecidos com o relatado. Nada do descrito corresponde aos ideias do Vaca Amarela, repudiamos todos os atos de violência. Estamos ainda em choque com o relato, a melhor palavra para descrever nosso sentimento é de impotência”, diz o início da nota divulgada pelo festival sobre o caso relatado por uma pessoa que estava do lado de fora do Martim Cererê.
Sobre o envolvimento de seguranças contratados pelo evento, a Fósforo Cultural, produtora do Vaca Amarela, afirmou que o perfil descrito para identificar a pessoa que estava armada e teria inclusive apontado uma arma para um desses garotos, no relato divulgado no Facebook, não se parece com ninguém da organização do evento. Na nota, o festival diz que não contrata seguranças armados e nem os coloca para atuar na área externa do Centro Cultural.
“Na produção dos eventos, temos uma questão constante de policiais de folga armados. A produção não pode impedir o direito de ir e vir de ninguém, bem como não pode interferir na fiscalização de porte de armas de oficiais devidamente identificados. Infelizmente.”
https://www.facebook.com/festivalvacaamarela/posts/1118160351597460
Shows
Infelizmente perdi as cinco primeiras bandas. Não vi os shows da Mausoléu de Helena, G9 Gang, Sixxen, Piscadela Verde (PA) e Atomic Winer. Sem atraso, a paulista BBGG mostrou toda sua energia e barulheira no palco do Teatro Pyguá às 18h30. As vocalistas e guitarristas Ale Labelle e Dani Buarque, que vieram acompanhadas de uma formação improvisada, sem a baixista Joan Bedin e o baterista Mairena, que não puderam viajar, tocaram guitarras altas acompanhadas de muitos berros, punk, grunge, garage rock, energia e uma boa sujeira sonora.
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Do Pyguá para o Teatro Yguá com a diversão roqueira sem compromisso de Fal (vocal), Leozinho (baixo), Thiago (guitarra) e Augusto (bateria). A banda Rollin’ Chamas começou o show, o primeiro de Augusto na bateria, com Adalgisa e pedidos de voto para o candidato a vereador Vitor Cadillac (PSOL). É O Sal, na qual Fal brincou que o novo baterista é o primeiro desde o Edimar (que deixou a banda) a acertar determinadas partes da música, deu lugar a O Papa Tá Com Aids. Por Que Será?, Calango e Revolução foram algumas das músicas que divertiram o público.
Na sequência, a mistura de hard rock e grunge da Evening, de Anápolis, agradou bastante. Léo Carneiro (vocal e guitarra), Paulo Passos (vocal e baixo) e Ruben Passos (bateria) atraíram a atenção de muitos curiosos que já estavam no Vaca Amarela às 19h40 de domingo.

Depois foi a vez da MC Jade, do grupo VMG, se apresentar no Teatro Yguá ao lado do MC Safé e do DJ Codo. Com rimas como “Devia se desarmar/Antes que eu me desanime” e “Eu tava precisando me inspirar/E só pra conspirar/Eu resolvi me virar”, Jade encantou o público e mostrou a força do rap goiano. Algumas canções traziam versões sampleadas de Tequila Sunrise, do Cypress Hill, por exemplo. “Eu sou VMG/Você quer pagar pra ver/Então paga.”
“Rock astrológico”
Anunciada como uma banda de rock astrológico, a DogMan mostrou mais uma vez a força do disco Homo Homini Canis lançado em junho. Com um showman mais contido desta vez, Haig Berberian comandou a banda formada por Rogério Paulo (bateria), Túlio Caetano (guitarra), Thiago Carlos (baixo) e Israel Wolf (guitarra) na mistura já conhecida nos festivais goianos de southern e hard rock.
Cover obrigatório nos shows da DogMan, House Of The Rising Sun, do The Animals, fez o público cantar junto. E não podia faltar o Haig sem camisa senão não seria uma apresentação de verdade da banda. As muito boas Bitter e Look At The Sky, onde tudo acaba, no céu, segundo Haig, se destacaram na apresentação.

Em seguida foi a vez de acompanhar de perto o primeiro show da rapper, ou qualquer outra coisa, Milkee, de São Paulo. Coincidentemente, ela fez sua estreia nos palcos no Teatro Yguá um dia depois da apresentação do MC Guime passar por Goiânia. Nem é tão coincidência assim. Os dois são produzidos pela mesma pessoa.
Talvez não fosse o melhor lugar para ela estrear. Mas a cantora segurou bem a onda estreando para pouca gente e quase nenhuma interação do público com ela. Se essa primeira apresentação acontecesse, por exemplo, na abertura do show do Guime, com certeza Milkee teria recebido mais atenção de uma plateia mais direcionada ao produto musical que ela é.
Milkee estava tão bem treinada que seguiu à risca o que o setlist mandava, com indicações de quando dar boa noite à plateia, frases como “essa foi pra miga, beijo”. Tudo ali bem roteirizado para a garota seguir. Até como cantar em cada uma das músicas. “Sinto – voz suave (calma); Pretin – voz mais forte – calma início + refrão agitado (agradece)” eram algumas das dicas e orientações à artista em sua primeira experiência ao vivo.
Aliás, experiência essa que contou com três câmeras que registravam tudo para produzir um videoclipe. Além do cover de Flora Matos (Pretin), a paulista também cantou Bitch Better Have My Money, da americana Rihanna. “Levanta a mão quem tá solteira. Já faz uns match aí” foi uma das frases ditas pela garota. Essa não estava no roteiro descrito no setlist. Mas o pedido para tirar uma foto com a galera e o resto estava.

Hora do demônio
Não. Ninguém incorporou o satanás. Ou será que sim? O fato é que o baterista da Overfuzz Victor Ribeiro apareceu no palco do Teatro Pyguá às 22h15 todo pintado de vermelho, com cifres e segurando um tridente. Pela agressividade na bateria e presença de palco, seria mesmo o anjo caído? “A gente não está aqui para ofender a crença de ninguém. Isso aqui é um show de rock, é um show lúdico”, disse Victor.
O sempre muito bom show da banda ficou prejudicado por problemas na bateria, que tomaram muito tempo dos 45 minutos que o trio formado por Victor, Bruno Andrade no baixo e Brunno Veiga no vocal e guitarra tinham. No Bliss fechou mais uma vez a apresentação dos goianos.
Às 23 horas foi a vez do rap reassumir o papel de protagonista no festival com os também goianos da Faroeste. DZ, MMK e o DJ Rodrigo Lagoa abriram o show com Desce. As letras misturam energias que se dividem entre a agressividade gangster e canções sobre amor e assuntos relacionados. Cada Vez Mais Alto também fez parte da apresentação. “Faz barulho quem tá curtindo a noite, faz barulho quem tá curtindo o Faroeste. Isso é rap goiano”, disse ao público DZ. Fica Dubai, Feroz E Leal, Reconstruir, Incessante, Icarus, Seláh e Sem Nó marcaram um bom show dos goianos.

Das rimas certeiras à agressividade do Hellbenders no Teatro Pyguá às 23h50. O público que se espremeu para ver o quarteto goiano viu a banda abrir o show com uma canção nova, um pouco diferente do habitual, mas também muito boa. No início de No Thinking, os pedais da guitarra de Diogo Fleury (vocal e guitarra) não funcionaram e de início a solução foi ligar o instrumento direto no amplificador.
Memorize It foi a primeira música do segundo disco a ser tocada em um teatro que mais parecia uma estufa de calor e fumaça do palco. Atípico nos shows do Hellbenders, eles tocaram um cover. A música escolhida foi Breed, do Nirvana. E que foi bem recebida pelo público.
Mas na sequência só músicas próprias: Brand New Fear, The Hunter, Where I Hide e Possibilities Among Desire. A última parte do show veio com o trio de frente da banda, Diogo, Braz Torres (vocal e guitarra) e Augusto Scartezini (baixo) sem camisa pelo calor insuportável: Bloodshed Around e Hurricane.

Última atração
O Martim Cererê, que cabe pouco mais de 1 mil pessoas, estava lotado. Mesmo com parte do público que não gosta de Gabriel o Pensador indo embora, ainda assim era possível notar que seria difícil entra no Teatro Yguá para acompanhar o show. E já era 1h05 de segunda (26) quando o rapper carioca subiu ao palco.
O show foi aberto com o grito de cansaço do artista com a realidade em Chega. Linhas Tortas conta a paixão de Gabriel por escrever. Aliás, foi o show mais filmado pelo celular, seja no Facebook, Instagram ou outras redes sociais. Um detalhe: pelos integrantes da banda de Gabriel o Pensador. Não coloquei nessa conta os vídeos feitos pelo público, que participou bastante da apresentação.
Em Lavagem Cerebral duas pessoas foram chamadas para cantar com o artista no palco. 2345MEIA78 teve participação de uma garota da plateia. Cachimbo da Paz, a terceira música do show, levantou o público. Fé Na Luta é a mais nova de Gabriel o Pensador, com clipe lançado há dois meses, que é sampleada de Dias de Luta, Dias de Glória, do Charlie Brown Jr.
Pátria Que Me Pariu voltou a 1997 antes de um momento de improviso com o DJ Leandro. Nesse momento, o DJ Codo, que havia se apresentado com a Jade mais cedo, assumiu a mesa e mostrou toda sua habilidade com o toca discos. Palavras Repetidas, que tem como sampler Pais E Filhos, do Legião Urbana, foi a escolhida para seguir após o cover Zóio De Lula, do Charlie Brown Jr.
Solitário Surfista e Retrato De Um Playboy 2, mais fraca do que a primeira versão da música, continuaram a chamar o público para cantar junto com Gabriel. Tudo Certo também traz É Disso Que O Velho Gosta, de Gildo Campos e Berenice Azambuja. Rap Do Feio também tem participação do público no palco. Antes, Gabriel cantou a cappella Guri, canção gaúcha conhecida na voz de César Passarinho.

Bis
Astronauta, sampleada de música do mesmo nome de Lulu Santos, abre o bis, que também tem Eu & A Tábua, com sampler de A Dois Passos Do Paraíso, da banda Blitz. Alguns versos de Three Little Birds e Could You Be Loved, de Bob Marley, também foram incluídos no final do show. Taj Mahal, de Jorge Ben Jor, antecedeu Até Quando. E até ano que vem, Vaca Amarela.