Primeiro disco do Pixies completa 28 anos
22 março 2016 às 04h17
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Na segunda-feira (21/3), o álbum Surfer Rosa chegou ao 28º ano após seu lançamento, em 21 de março de 1988, como grande influência para outros artistas
Augusto Diniz
“With your feet on the air and your head on the ground/Try this trick and spin it, yeah/Your head will collapse but there’s nothing in it/And you’ll ask yourself/’Where is my mind?’ (Com seus pés no ar e com sua cabeça no chão/Experimente este truque e gire, sim/Sua cabeça vai quebrar, mas não há nada dentro dela/E você se perguntará/’Onde está minha mente?’).” Se você ouvir os cinco primeiros versos no vídeo acima, da canção Where Is My Mind?, e mesmo assim não te fizer lembrar da música, melhor parar a leitura aqui.
Surfer Rosa, lançado em 21 de março de 1988, é o primeiro álbum da carreira da banda de rock Pixies, criada em 1986 na cidade de Boston, Massachusetts, nos Estados Unidos. O disco é o sucessor do EP Come On Pilgrim (1987). Só que toda a crítica positiva em torno do Surfer Rosa tem um nome: o californiano Steve Albini, de Pasadena.
Procure, por exemplo, um som de bateria que soe parecido com o que você vai ouvir em Bone Machine, primeira canção do Surfer Rosa, até a última, Brick Is Red. O produtor musical e engenheiro de som Steven Frank Albini, ou somente Steve Albini, de 53 anos, e seu complexo de estúdios de gravação Electrical Audio, em Chicago, Illinois, não são considerados lendas da música sem motivo.
O disco deste texto não foi gravado em Chicago, mas sim no Q-Division, em Boston. Black Francis (vocal e guitarra), Kim Deal (vocal e baixo), Joey Santiago (guitarra) e David Lovering (bateria) fizeram as gravações das 13 canções do Surfer Rosa com Steve Albini. O álbum saiu pela 4AD no Reino Unido, foi distribuído nos Estados Unidos pela Rough Trade Records e foi relançando em 1992 pela Elektra Records.
Sucesso de público? Não. Do disco só saiu um single que entrou nas paradas com o lançamento de Surfer Rosa: Gigantic.
Só que a crítica adorou o Surfer Rosa. E não foram só os críticos de música que adoraram o álbum, o primeiro do Pixies. Muito músico levou o disco muito a sério, como PJ Harvey, Billy Corgan (Smashing Pumpkins), e Kurt Cobain (Nirvana), que afirmou ter se inspirado bastante no Surfer Rosa para gravar o Nevermind (1991), registro mais importante do grunge.
O sucesso só veio para o Pixies com Here Comes Your Man, do disco seguinte, Doolittle, em 1989. Mas o Surfer Rosa, que tem fatos curiosos em torno de sua gravação, é um marco para a música, principalmente para o rock, seja ele independente ou não.
A começar pelo produtor e engenheiro de som Steve Albini, que não aceita cobrar royalties de um disco que assina. Só fica com o pagamento pelo tempo de trabalho com a banda no estúdio. Na série da HBO Sonic Highways (2014), que conta o processo de gravação do disco de mesmo nome do Foo Fighters, a primeira faixa, Something From Nothing, foi gravada no estúdio de Albini em Chicago.
E nesse episódio o produtor conta o motivo de não aceitar receber direitos autorais por um disco que produziu. “Já imaginou um carpinteiro que passa em frente a uma casa que construiu, sei lá, 20 anos antes e diz ‘olha só como essa casa é boa, ela ainda está de pé, vou cobrar por ela continuar inteira até hoje’.”
Para o vocalista e guitarrista do Foo Fighters, Dave Grohl, Albini é um gênio da música, mas prefere receber por suas obras como um “encanador”, “um encanador de primeira, mas um encanador”, quando poderia cobrar como um artista.
De acordo com informações divulgadas na época, Albini teria recebido US$ 1,5 mil para produzir o Surfer Rosa, dos Pixies, e se negou a ganhar direitos autorais na venda das cópias do disco. A 4AD teria gasto US$ 10 mil com a gravação do disco no total.
O disco foi gravado em dez dias, mas Steve Albini disse à época que era possível terminar a gravação em uma semana. A demora de mais dois ou três dias teria acontecido pelas experimentações que ele resolveu fazer, como em Gigantic e Where Is My Mind?, que ele colocou a vocalista e baixista Kim Deal para cantar no banheiro, para chegar a um eco que fosse mais realista no som.
Outra coisa que parece estranha no processo de gravação do Surfer Rosa foi captar a voz de Black Francis em Something Against You com um amplificador de guitarra na busca de um som vocal que fosse mais violento, passasse mais raiva para quem ouvisse o disco. Para uma banda que falava sobre voyeurismo e mutilação em suas letras, nada disso era tão estranho, apesar de nada comum.
A foto da capa, com uma mulher de topless, é de Simon Larbalestier, que teve adicionado um crucifixo na imagem. O nome do disco saiu da canção Oh My Golly!, no verso “Besando chichando con surfer rosa“.
Kurt Cobain gostava tanto do disco que Steve Albini produziu em 1993 o In Utero, do Nirvana. PJ Harvey também contratou Albini por causa do Surfer Rosa, que trabalhou com ela em Rid Of Me (1993).
Em 2012, o Stereogum soltou uma lista com os 20 melhores discos produzidos por Steve Albini, que gosta de colocar as bandas juntas para gravar ao vivo no estúdio ao invés de separar a gravação dos instrumentos, estuda técnicas de captação do som ambiente e dos efeitos do ar na sala do estúdio no áudio gravado.
Nessa lista estão discos do Mogwai, The Jesus Lizard, PJ Harvey, Big Black (banda de Albini), o álbum de 1988 do Pixies e o In Utero do Nirvana.
Ouça o disco Surfer Rosa (1988), dos Pixies, completo: