Primeira noite do Noise divide público entre Black Alien e Sepultura
06 agosto 2016 às 18h06
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Atrações mais esperadas da sexta-feira (5/8) mostraram que plateia estava disposta a acompanhar verso a verso todas as músicas dos artistas principais
A intenção era chegar cedo e pegar o primeiro show de perto, da banda goiana Sixxen, às 19 horas de sexta-feira (5/8) na Esplanada JK do Centro Cultural Oscar Niemeyer. Mas o fechamento da edição semanal do jornal e outras matérias me fizeram perder não só a Sixxen, mas os também representantes locais Ineffable Act, Overfuzz e a cearense Selvagens a Procura de Lei.
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Com estacionamento a R$ 10 e pouco público por volta das 21h10, quando os californianos do The Shrine subiram ao palco 1 do 22º Goiânia Noise Festival, foi fácil chegar até mais perto para acompanhar uma das atrações que eu apostava como uma das melhores do evento nos três dias. Foi um pouco de balde de água fria. Apesar das músicas bem enérgicas e todo o rock do trio de Venice, algo entre o som baixo que ia para o público e a falta de movimentação dos artistas me fez pensar que o grupo parece ser melhor gravado do que ao vivo. Quem sabe em uma outra oportunidade, com som mais limpo, não seja possível tirar essa impressão.
Tirando algumas pessoas mais perto do palco, o restante do público assistiu ao show do The Shrine praticamente imóvel. Eu ainda insisto em dar outra chance para banda, mas não me convenceu dessa vez. Canções como Death To Invaders, Dusted And Busted e Destroyers renderam alguns elogios da plateia à banda, com comparações às vezes pertinentes e outras nem tanto. Em uma delas, um garoto disse que eles lembravam o Black Sabbath. OK.
Em seguida, às 21h40, o quarteto feminino Girlie Hell atraiu alguns olhares pela mistura que flerta com o metal e muita melodia vinda dos discos Till The End (2015) e Get Hard! (2013). Infelizmente o som que chegava ao público parecia muito abafado, mas ainda era possível distinguir os instrumentos e a voz de Bullas Attekita (vocal e guitarra). Mas no meio da apresentação guitarra de Júlia Stoppa, a Kaju, parou de funcionar. Um problema que demorou um bom tempo para os técnicos do palco resolver. A resposta do público foi um pouco melhor do que no show anterior.
Presença mais do que certa nas edições do Goiânia Noise, os veteranos do Mechanics atacaram com uma novidade: dois bateristas, um de frente para o outro. No início, músicas como Clímax, Fracasso e Sangue pareciam interessantes na jogada com quatro baquetas espancando tons, caixas e pratos. Mas a variação era pouca e a jogada visual bem feita começou a ficar algo desnecessário.
Fora as críticas, o Mechanics fez um bom show no “festival mais longevo do Centro-Oeste”, como lembrou o vocalista Márcio Júnior. Ele disse que a sobrevivência do Goiânia Noise por tanto tempo se dá pelos fracassos, “porque sucesso qualquer otário aguenta”. Se isso foi indireta para alguém, pergunte para o Márcio Júnior. Não fui eu que disse isso. Pelo menos dessa vez ele não arremessou uma lata de cerveja fechada durante o show, como aconteceu no Noise de 2015 no Martim Cererê, e infelizmente a vítima fui eu, que tomei um susto quando ela estourou no meu peito.
Discurso político
Se o rock é a casa da resistência, como o festival sustentou em sua divulgação de 2015, o vocalista do Mechanics marcou bem delimitada a sua posição. “Fora, Temer. Fora, Temer. Fora, Temer. Não ao golpe.” Isso na mesma noite que, no Rio de Janeiro, durante a abertura das Olimpíadas, o presidente interino Michel Temer (PMDB) era vaiado por parte do público no estádio Maracanã.
E teve mais: “Vontade de matar qualquer Bolsonaro tem. Vontade de matar qualquer Feliciano tem” ao começar a música Ódio E Vontade De Morrer.
Às 22h40 começou o show mais problemático da primeira noite de apresentações musicais do Goiânia Noise. O som do público no palco 2 estava tão abafado e baixo que nas primeiras quatro músicas não era possível entender muita coisa enquanto o Ressonância Mórfica tocava. Um dos mais fortes representantes do metal goiano passou por muitas dificuldades.
A solução encontrada foi aumentar o vocal, mas aí o som dos instrumentos praticamente desapareceu. Nos últimos 10 minutos de show a coisa melhorou um pouco, só que eu não consigo dizer se foi um show bom ou ruim. Pela empolgação da plateia e da banda no palco pareceu visualmente foda. Ouvir que é bom eu não consegui praticamente nada.
E teve mais recado direto. O vocalista Marcos Campos, no protesto mais engraçado e inovador do festival, gritou “Delegado Waldir, vai caçar pokemón”. Antes de cantar a música Plutocracia, ele dedicou a música à “família tradicional brasileira” em sua representação de tudo que existe, na visão do vocalista, de mais atrasado, preconceituoso e moralista.
Vez do rock
Na vez dos “tiozões do rock”, como brincou um amigo, a banda Devotos de Nossa Senhora Aparecida, ou apenas Devotos de NSA, começou a contar com um som melhor e mais nítido no palco 1. Teve gente na plateia que ironizou: “Parece que o som só fica bom quando é banda de fora que vai se apresentar”. Mas o The Shrine também enfrentou problemas.
Em junho os paulistas lançaram o bom disco Audio Generator pela Monstro Discos, organizadora do Goiânia Noise. O Devotos de NSA acaba sendo lembrado na maioria das vezes como “a banda do Thunderbird”, o ex-VJ da MTV Brasil, do início dos anos 1990. Além de Luiz Thunderbird no vocal, baixo e guitarra, o Devotos conta com Ricardo Kriptonita na guitarra e vocal, Zé Mazzei na guitarra e baixo, além do excepcional músico Paulo Zinner na bateria.
Thunderburd avisou que eles não tocariam Pau No Seu Cu porque “foi proibido pelo Michel Temer eu cantar”.
Babylon By Gus
Se em 2004 era O Ano do Átomo (Babylon By Gus volume 1) do Mister Niterói, em 2016 Gustavo Black Alien (RJ) voltou com tudo para contar como um Rolo Compressor como era em 1972, quando No Princípio Era O Verbo (Babylon By Gus volume 2). E foi o show que, até aquele momento, quando o relógio já marcava 0h11 de sábado (6), atraiu todo o público que se dedicava aos artistas e DJs do palco Casa de Música, ao lado de uma pista de skate ocupada por quem quisesse dar um rolê.
Gustavo, que já fez dupla com Speedfreaks, como na faixa Aumenta O Som DJ, e quando Black Alien fez parte do Planet Hemp entre 1997 e 2001. Black Alien homenageou Speedfreaks dos tempos em que faziam som juntos, o Planet Hemp e o rapper paulista Sabotage, assassinado em 2004.
Do Sabotage, Black Alien cantou a cappella os trechos de Um Bom Lugar que ele gravou: “Há três tipos de gente/Os que imaginam o que acontece/Os que não sabem o que acontece“. Em seguida, o carioca citou o caso da prisão dos integrantes do Planet Hemp, que em 1997 foram detidos por uma acusação de “apologia às drogas”. Em 2013, o juiz Vilmar José Barreto Pinheiro foi aposentado compulsoriamente ao ser condenado por ter recebido propina de um traficante. “Não sei se vocês sabem, mas o juiz que prendeu o Planet Hemp hoje está preso por corrupção.”
Do Planet Hemp, Black Alien cantou a música Contexto (Que é que joga a fumaça pro alto?). Babylon By Gus é presença obrigatória no show do rapper, que representa a versão mais cadenciada do flow carioca no rap, ao contrário das rimas rápidas e pesadas nos anos 1990 de São Paulo. Na plateia, tinha mulher que dizia ser Gustavo Black Alien “um homem perfeito” e que “casava com ele”. Outros choravam e se emocionavam a cada música puxada por Black Alien.
Como Eu te Quero, Umaextrapunkprumextrafunk, Mister Niterói, From Hell Do Céu, Na Segunda Vinda, O Estranho Vizinho da Frente, e Identidade fizeram parte do repertório do show que entrou na madrugada de sábado. Parte da plateia disse que foi o melhor show da primeira noite do Goiânia Noise.
Sepultura do Brasil
Ainda no finalzinho do show do Gustavo Black Alien no palco 2, os fãs da banda mineira de metal Sepultura, que de Minas só tem o baixista Paulo Júnior na atual formação, começaram a gritar o nome da banda e pedir o início da apresentação. Para quem não gosta de rap, deve ter sido difícil suportar até as 1h20 para ver Derrick Green (vocal), Andreas Kisser (guitarra), Eloy Casagrande (bateria) e Paulo Júnior ao vivo. Mas não custava nada deixar a outra apresentação acabar sem dar uma de fã pitizendo. Até porque não era o show da Larissa Manoela nem Galinha Pintadinha que vocês estavam aguardando, né?!
Mas a falta de educação de parte dos headbangers foi compensado com sequências que incluíram Kairos, Desperate Cry, Convicted In Life e a nova I Am The Enemy, gravada em maio na Suécia. Attitude, Biotech Is Godzilla, Dusted, Polícia (cover do Titãs), Territory, Arise, Refuse/Resist e Ratamahatta.
O show é parte da turnê de 30 anos da banda, que em 2016 completa 32 anos de estrada. Tanto que a banquinha de venda de produtos do grupo trazia camisetas de vários discos do Sepultura. A apresentação marcou a volta do grupo a Goiânia, que havia tocado na capital goiana em agosto de 2014 no aniversário de 10 anos do Bolshoi Pub. Se para os fãs de Black Alien o carioca fez o melhor show da sexta, na opinião da legião do Sepultura foram os mineiros que detonaram tudo.
Para encerrar, o guitarrista Andreas Kisser puxou Que Bonito É (Na Cadência Do Samba), de Luiz Bandeira, com uma dança meio desengonçada de Derrick, que preferiu não arriscar o vocal e disse que aquela não era a música final. Em seguida, veio o maior sucesso da história do Sepultura: “Sepultura do Brasil. Um, dois, três, quaaaaaatro”. E foi com Roots Bloody Roots, hino obrigatório em um show da banda, que a primeira noite do Goiânia Noise foi encerrada no palco 1. Teve o after da Tilt, para aqueles que ainda tinham energia, até as 4 horas de sábado.
Apesar dos problemas técnicos, foi uma boa primeira noite de shows no 22º Goiânia Noise Festival. E neste sábado (6) a música começa às 17 horas com o show no palco 1 da banda Sótão.
Programação
Sábado (6/8)
Palcos 1 e 2
17h00 – Sótão (GO)
17h30 – Almost Down (GO)
18h00 – Cattarse (RS)
18h30 – Rec On Mute (SC)
19h00 – Aurora Rules (GO)
19h30 – Sheena Ye (GO)
20h00 – Tequila Babyy (RS)
20h30 – The Dirty Coal Train (POR)
21h00 – Hillbilly Rawhide (PR)
21h30 – Retrofoguetes (BA)
22h00 – Jonnata Doll & Os Garotos Solventes (CE)
22h30 – Two Wolvess (GO)
23h00 – Vish Mariaria (GO)
23h30 – CPM 22 (SP)
01h00 – Nação Zumbi (PE)
Estúdio Noise
18h00 – REVOLTED
19h00 – Lobinho e os Três Porcão
20h00 – Half Bridge
21h00 – Chá de Gim
22h00 – Trivoltz
Casa de Música
DJ Camilla Brandão – 18h15
Linhas Férteis – 19h00
Fora do Habitat – 19h45
Batalha de MCs – 20h30
DJ Rayane Coimbra – 21h15
AKA PXRVXN – 22h00
Faroeste – 22h45
Igor Bidi (RJ) – 23h30
DJ Mário Pires – 00h15
After Tilt
Das 2 horas às 4 horas
Domingo (7/8)
Palcos 1 e 2
17h00 – Rural Killers (GO)
17h30 – Ímpeto (Conjunto de Música Regional Ímpeto) (GO)
18h00 – Lattere (GO)
18h30 – Burt Reynolds (Banda Burt Reynolds) (SP)
19h00 – Royal Dogs (MA)
19h30 – La Raza (SP)
20h00 – Serial Killer (RJ)
20h30 – Woolloongabbas (GO)
21h00 – Dance of Days (SP)
21h30 – Os Cabeloduroo (DF)
22h00 – The Galo Power (GO)
22h30 – BNegão & Seletores de Frequência (RJ)
00h00 – Matanza (RJ)
Estúdio Noise
Peixefante – 18h00
Noise Triad – 19h00
Rapsódia – 20h00
Marmelada de Cachorro – 21h00
Heavens Guardian 22h00
Casa de Música
DJ Zanka – 17h00
Mano Curado – 17h45
Tese – 18h30
Calango – 19h15
DJ Lagoa – 20h00
Cypress Junkies (EUA) – 20h45
Batalha de MCs – 21h30
Gasper – 22h15
DJ Alan Honorato – 23h00
Ingressos antecipados: Tribo (Rua 36, St. Marista), Detroit Steakhouse (Av. 136, St. Marista), Seven Rock Shop (shopping Buena Vista), Hocus Pocus (Av. Araguaia), Loja do Ervilha, Woodstock Bar e Shuffle Mix (Av. Araguaia)
Valores: R$ 30 por dia antecipado, R$ 40 na porta do evento
Mais informações no site do Goiânia Noise Festival