Popload Festival: Lorde se redime de 2014, At The Drive-In ignora idiotas, Death Cab e Blondie arrancam arrepios

02 dezembro 2018 às 00h00

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Além da neozelandesa, que fechou o evento, fãs de outras bandas, como MGMT, Mallu Magalhães, Tim Bernardes e Letrux, tiveram a oportunidade de ver seus ídolos de perto

Em São Paulo
Chegar à entrada principal do Popload Festival, no Memorial da América Latina – em frente ao metrô da Barra Funda, no feriado de 15 de novembro em São Paulo -, foi o primeiro sinal de que o público estava tomado por fãs da cantora neozelandesa Lorde. Colhendo os frutos do disco “Melodrama” (2017), segundo da carreira da jovem compositora de 22 anos, na fila da entrada da pista era nítido o sucesso da artista entre aqueles que enfrentaram o calor desde cedo para ficar mais perto do palco do evento, que chegou neste ano à sua 6ª edição.
Mas o dia seria longo até os fãs entrarem em sintonia com a cantora. Os portões foram aberto pouco antes de meio-dia. A primeira atração a surgir no palco do Popload Festival foi a carioca Letícia Novaes, que desde 2017 adotou o nome artístico Letrux. Figurino vermelho, a imagem da capa do disco “Letrux Em Noite de Climão” (2017) no telão ao fundo do palco e muita lacração. O já bom público do festival foi muito bem recepcionado no início de tarde quente com “Vai Render”. “Avisa lá no centro/Que eu tô a perigo/Tô cheia de amigo.”
E foi bem isso o que aconteceu: uma grande festa a céu aberto. A performance impecável de Letícia, que sabe trabalhar bem suas letras, que mais são poesias do que canções, dialoga bem com todas as fases do climão que suas músicas descrevem. “Bom dia. Boa tarde”, cumprimentou a artista os presentes no início do festival. Para a primeira atração, muita gente cantava e dançava ao som da atração de abertura do Popload.
“Ninguém Perguntou por Você”, uma espécie de vingança irônica de um ex-companheiro, manteve a boa animação. Depois veio “Puro Disfarce”, gravada em parceria com Marina Lima no disco. Aí pintou o primeiro e um dos poucos discursos políticos do festival: “Espero que não seja muito cedo para dizer duas palavras que vão permear nossos próximos anos: Fora, Bolsonaro”. E continuou a cantar “Socorro/Socorro/Me lembra que a cena foi/Puro disfarce
Meu verão acabou/Minha hora já deu e vou lá/Sorrir consegui me virar pra sair/O amor pode vir que eu já vou“, de “Puro Disfarce”.
“Que lindezas! O bom de fazer show cedo é que eu vejo o quanto vocês são gatinhos… Gatinhxs”, brincou Letrux com a plateia. “Coisa Banho de Mar” deu espaço a “Unchained Melody”, do The Righteous Brothers. Se existe amor depois do horror, era a hora de “Amoruim”. “O amor tem que ser sem expectativa, a mãe das frustrações. […] Vamos combinar que ano que vem vai ser bem horroroso. […] A gente não vai deixar um capitão mandar nos nossos desejos”, defendeu Letrux.
Em momento solo no palco, Letrux cantou, tocou guitarra em “5 Years Old” e trouxe o show para uma veia mais apaixonada. “Sou muito chorona, apesar de capricórnio.” Mas em seguida volta para o climão de “Hypnotized”: “Eu só queria dormir/E acabei me apaixonando/Eu só queria me apaixonar/E acabei dormindo“. “A próxima canção quero dedicar a todas as mulheres aqui presentes”, disse Letrux antes de cantar “Que Estrago”.
Um show que é praticamente uma sessão sexual em todas as suas fases, vibrações, brochadas e empolgações entre a artista e o público pela sintonia e animação, da depressão da noite ruim ao êxtase da festa. “Flerte Revival” e “Noite Estranha, Geral Sentiu” deram fim ao show com Letrux se jogando na plateia, tendo dificuldades para conseguir voltar ao palco e fazer uma homenagem no microfone: “Obrigada. Valeu, gente. […] Oito meses ontem (14/11). Chega! Marielle, vi…”.
A artista não conseguiu terminar de falar a palavra “vive” antes de o microfone ser cortado, enquanto ela mostrava uma placa de rua que trazia o nome da vereadora assassinada no Rio de Janeiro na noite de 14 de março.

Quase não deu errado
Depois do show animado da Letrux, a missão de Mallu Magalhães e Tim Bernardes, que entraram juntos no palco às 13h23, era de manter a empolgação do público com um show mais intimista. Sentado em frente ao piano, Tim puxou “Cais”, de Milton Nascimento, do disco “Clube da Esquina” (1972), “A História Mais Velha do Mundo”, do terceiro álbum da O Terno, e “Recomeçar”, de sua carreira solo. Mallu de fato não entrou no mesmo clima que Tim ao vivo.
O casamento dos dois no palco, todos de branco, sentados e na mesma sintonia, parou no momento em que Mallu cantou. Parecia tímida e introspectiva demais para a proporção que tomou a 6ª edição do Popload Festival, o segundo ano seguido em que era realizado no Memorial da América Latina depois de quatro anos na Audio. Nos momentos em que cantou, a artista parecia aquela adolescente perdida dos tempos do “Tchubaruba” no Myspace.
O que tinha tudo para ser uma junção interessante quase não deu muito errado. Os dois começaram a cantar e caiu uma chuva que incomodou bastante. Coisa que em São Paulo é natural – mudar de uma tarde ensolarada sem nuvens para um céu fechado e deixar todo mundo encharcado. Mesmo assim, canções mais conhecidas de Mallu, como “Navegador”, animaram parte da plateia, que tentava aceitar que não tinha para onde correr e que as capas de chuva vendidas a R$ 5 não valem nada.
“Essa chuva foi só para essa música. Pode tirar a capa”, tentou brincar Tim Bernardes, mas a água não parou de cair até o show acabar. “Quis Mudar” deu lugar à versão de “Negro Amor”, gravada em 1977 por Gal Costa, que virou “It’s All Over Now, Baby Blue”, de Bob Dylan, na voz de Mallu a partir da metade da canção. Em alguns momentos, como aqui, a voz da cantora parecia mais à vontade.
Da guitarra, Tim voltou para o piano e cantou “Volta”, do O Terno. “Olha só, Moreno”, de Mallu, encerra a sequência de músicas com “Nó”, da banda de Tim. A chuva apertou ainda mais e muita gente tentou se esconder nas coberturas dos bares e foodtrucks. A maioria se entregou e viu que não tinha muito o que fazer. No meio da tentativa das pessoas de proteger o que podiam, músicas como “Por Que Você Faz Assim Comigo?” e “Velha e Louca”, da Mallu, “Melhor do Que Parece” e “Culpa”, da O Terno, foram executadas pelos dois no palco.
Quando Mallu Magalhães cantou “Mais Ninguém”, o animado hit dançante da Banda do Mar, o público respondeu cantando. O show foi encerrado com “Será Que Um Dia”, de Mallu. O festival tentou trazer uma dobradinha inédita ao vivo, que ficou aquém do esperado. Em muitos momentos Tim salvou o show, porque parecia que Mallu não estava no palco.

Despedida inédita e emocionante para alguns, irritante para muitos
A espera acabava para muita gente. Quando a banda texana At The Drive-In lançou seu melhor disco, “Relationship of Command”, em 2000, o terceiro da carreira do grupo, um ano depois os integrantes resolveram acabar com a At The Drive-In sem nunca terem passado pelo Brasil. O Popload Festival foi o grito guardado na garganta de muitos fãs por 17 anos… ou mais.
Quando o vocalista Cedric Bixler-Zavala, o guitarrista Omar Rodríguez-López, o baterista Tony Hajjar, o baixista Paul Hinojos e o guitarrista Keeley Davis surgiram de preto no palco que mostrava a imagem de uma hiena desenhada no telão ao fundo, o surto coletivo de parte da plateia nem precisou aguardar as maracás de Cedric na abertura de “Arcarsenal” começarem a fazer barulho para se mostrar presente. Era a energia esperada para explodir desde a adolescência para quem aguardou tantos anos por aquele show.
Mesmo com o som um pouco embolado no início do show, era possível ver pulos e braços no ar nos primeiro minutos da apresentação do At The Drive-In – o que assustou parte dos fãs da Lorde que aguardavam a artista na grade desde cedo. Com sua presença enérgica, cheia de saltos, gritos, danças, corridas no palco e instrumentos arremessados para todos os lados, logo Cedric mostrou que aquilo era verdade. Todos estavam mesmo diante do At The Drive-In ao vivo no Brasil.
Já na segunda música, “Governed By Contagions”, do disco de reunião “in•ter a•li•a”, de 2017, Cedric joga água nas costas para suportar o calor e segue o ritual de entrega e inquietação no palco. “Sleepwalk Capsules”, de 2000, volta a colocar os fãs em êxtase, mesmo que Cedric não tenha mais a voz de antes, continua um hipnotizador de plateias com o microfone nas mãos – ou voando em várias das vezes que o objeto é arremessado para o alto. Se os fãs da Lorde não entenderam tanta barulheira e energia, foda-se. Esperem até a hora da atração que pagaram para ver e não encham o saco. Trata-se de um festival, e outras bandas subiriam ao palco. Azar o seu se resolveu tomar tanta porrada sonora na frente desde cedo.
“Hostage Stamps” foi a segunda canção do disco mais recente a ser tocada no Popload. Com vocal rápido, variações e melodia quebrada em alguns pontos, a música manteve o show em bom nível, com direito a uma grande jam para encerrar a canção ao vivo. Mas quando voltava para o “Relationship of Command” o público vibrava. E “Invalid Litter Dept.” caiu como uma bênção nos ouvidos de um público em transe. Quando as primeiras notas de “Enfilade” foram notadas, a empolgação já havia ligado o “problema é seu” para as caras feias dos amantes do pop que estavam mais perto.
Enquanto “No Wolf Like The Present”, do “in•ter a•li•a”, era executada, a imagem da Ponte Octávio Frias de Oliveira, a Ponte Estaiada, engarrafada e em chamas era exibida no telão. “Pattern Against User” deu indícios de que o show caminhava para o seu fim. Motivo de sobra para aproveitar como se aquela fosse uma oportunidade única o show da At The Drive-In até o corpo e o pescoço reclamarem no dia seguinte. No início de “One Armed Scissor” a sensação de êxtase e entrega era mais nítida pelos berros, pulos, inquietação e vibração do público do que em qualquer outro momento.
Infelizmente, ao se apresentar no sábado (17/11) no Rio de Janeiro e domingo (18/11) em Porto Alegre, a banda anunciou que acabaria novamente. Felizes são os que tiveram a oportunidade de ver músicos que se entregam no palco e não se importam com a torcida contra que finge não entender como funciona um festival, com atrações diferentes e de estilos que nem sempre dialogam. Azar deles, porque, pelo sorriso de criança feliz na cara de muita gente, aquele show será lembrado para o resto da vida. Já você vai se lembrar da Lorde quando a próxima sensação do pop chegar? O próprio Cedric se irritou muito com parte da plateia e agradeceu apenas a alguns quando deixou o palco às 15h31. Faz parte! Gente idiota que se acha dona do mundo e do momento tem em toda esquina, inclusive na grade do Popload Festival.

Susto e gratidão
A também dos Estados Unidos Death Cab For Cutie arrastou um público grande para o Popload Festival. O grupo formado em 1997 nunca havia se apresentado no Brasil. E só chegou a São Paulo na turnê de seu 11º disco, “Thank You For Today” (2018). Quando, às 16h15, uma pessoa da produção subiu ao palco e avisou que a banda quase cancelou o show que faria naquela tarde porque o vocalista Ben Gibbard teria se machucado e sentia muitas dores. Um tombo antes da apresentação fez com que o músico tivesse de tomar duas injeções para encarar o palco.
Mas foi só começar “I Dreamt We Spoke Again”, do mais recente álbum, que os fãs deixaram o susto passar e se entregaram à gratidão. Muitos inclusive choraram, mesmo com Gibbard sentado o show inteiro e não conseguindo esconder as caretas de dor durante a apresentação. Nem o vocalista parado em uma cadeira reduziu a emoção do público, que cantava junto do início ao fim. E o Death Cab seguiu a ordem do disco novo e emendou “Summer Years”. “The Ghosts Of Beverly Drive” trouxe a banda para a gravação anterior, “Kintsugi”, de 2015. O início do refrão, “I don’t know why, I don’t know why/I return to the scenes of these crimes“, tirou muita gente do chão.
O show voltou 18 anos na carreira do grupo com “Photobooth”, do “The Death Cab For Cutie Forbidden Love EP” (2000). Gibbard aproveitou o momento para saudar o público: “É a nossa primeira vez no Brasil”. E contou o acontecido, também inédito em turnês, de cair antes de entrar no palco e ter de ser medicado para conseguir se apresentar. Quando o Death Cab começou a executar “Title and Registration”, do “Transatlanticism” (2003), era grande a quantidade de fãs que gostaria que o show continuasse apenas com músicas do mesmo disco.
Mas “Gold Rush” trouxe novamente a apresentação ao álbum de 2018. “Crooked Teeth” arrancou novas lágrimas de parte da plateia com a primeira música do disco “Plans” (2005) e continuou nele com “I Will Follow You Into The Dark” apenas com o vocalista no palco, que segundos antes pediu desculpas aos fãs por ter demorado tanto para se apresentar no Brasil. “Black Sun”, do Kintsugi, manteve a animação de um show catártico. “Northern Lights”, a melhor canção do disco deste ano, encaixou bem na apresentação.
Do álbum de 2008, “Narrow Stairs”, veio “Cath…”, antes de “Soul Meets Body”, do disco “Plans”. “Até a próxima, quando estarei de pé no show”, agradeceu e foi muito aplaudido Gibbard. Com muita dificuldade, o vocalista caminha devagar até o piano no fundo do palco e deixa o público arrepiado com “Transatlanticism”, cantada em coro junto com os fãs. Às 17h15, quando o show acabou, os olhares eram de satisfação e incredulidade entre aqueles que pagaram para ver o Death Cab pela primeira vez em um show inesquecível, que ficará ecoando “I need you so much closer” por muito tempo na cabeça de quem lá estava.

Surpresa
Enquanto os fãs do MGMT tentavam chegar mais perto do palco, um outro espaço, Heineken Jukebox, abria a porta para dali surgirem a cantora Liniker e a banda O Terno juntas com a música “Culpa”. Parte do público escolheu as canções seguintes que eles tocariam de artistas que já se apresentaram em outras edições do Popload Festival. Vestidos com macacões pretos, os quatro tocaram “Feels Like We Only Go Backwards”, do Tame Impala, e “Você Não Vai Passar”, de Ava Rocha. A junção deu muito mais certo do que Tim Bernardes, vocalista da O Terno, com Mallu Magalhães, no palco principal.
Bem produzido no estúdio, uma lástima ao vivo
Um show pode ser muito bom, sem graça ou tão péssimo que chega a ficar muito aquém do nome e importância do artista esperado pelos fãs ao vivo. E o MGMT era uma das atrações mais prestigiadas do Popload Festival de 2018. Assim como eu já aguardei, com bastante expectativa, o show da banda do Brooklyn, Nova York, no Lollapalooza Brasil de 2012, no Jockey Club, em São Paulo, muita gente pagou caro para ver o MGMT de perto no dia 15 de novembro no Memorial da América Latina. Essa decepção não me pegaria com força duas vezes.
E não deu outra. Com uma produção de palco muito mais atrativa do que no show de 2012, que ocorreu diante de um espetáculo assustador de raios no céu e trovões que se misturavam com os acordes da banda ao vivo, para o Popload Festival o MGMT trouxe pilastras no palco, telões com imagens casadas com os músicos em cada uma das canções executadas ao vivo. Era isso o melhor do espetáculo que a banda pôde oferecer: belas imagens.
O som do MGMT ao vivo peca na falta de potência e dá sempre a impressão de que poderia ser melhor preenchido nas viradas das músicas, com mais peso na bateria, uso de mais músicos e outros instrumentos. Mas a apresentação se mantém numa sem-gracice que cansa até os que se dizem mais fãs da banda ao vivo. São raros os momentos de empolgação do público, que só são fortemente visíveis quando o grupo executa o primeiro hit do show, “Time To Pretend”, na segunda canção do setlist, e quando emenda “Kids” e “Eletric Feel” na parte final.
Até fechar bem a apresentação o MGMT mostra que ainda não aprendeu ao escolher a bonitinha, mas muito para baixo “The Youth”, do disco “Oracular Spectacular” (2007), que emplacou quatro das dez músicas na apresentação no Popload. Talvez o momento em que uma das quatro canções do álbum “Little Dark Age” (2018) – muito comemorado pelos fãs, mas um fracasso ao ser executado ao vivo – mais dá certo seja em “Me and Michael”.
MGMT é a típica música de balada: dá muito certo na pista de dança, mas não arrisque gastar seu tempo e dinheiro com a banda ao vivo. Economize ou escolha um show no qual os músicos conseguem ao menos tirar o público do chão. Isso não vai acontecer na apresentação do MGMT em um palco, sem toda a beleza e milagres que os programas de mixagem e masterização fazem com uma gravação. Foi como se, entre 17h56 e 18h50, quem estava no Popload Festival e preferiu recarregar a pulseira com crédito para comer coxinha, um sanduíche ou buscar uma bebida tivesse lucrado mais do que os que perderam tempo vendo o MGMT na chuvinha antes de anoitecer no Memorial da América Latina.

“Menino bonito”
De repente, às 19h03, o público foi pego com a voz doce da cantora Céu e o refrão “Menino bonito, menino bonito, ai!“, de “Malemolência”. A artista surgiu no palco Heineken Jukebox ao lado do duo de DJs Tropkillaz. E as primeiras músicas executadas por eles que o público pediu foram “The Look”, do Metronomy, e “New Person, Same Old Mistake”, do Tame Impala. “Mesmo com essa chuvinha, você estão aqui belíssimos”, agradeceu Céu. E seguiram com “Angels”, do The XX, “Down By The Water”, da PJ Harvey, e “Candy”, do Iggy Pop.
Debbie Harry, senhoras e senhores
Aos 73 anos, 44 depois do início da banda Blondie, a vocalista Debbie Harry mostrou animação, divertiu o público e ensinou ao MGMT como se fazer um show de verdade na primeira música: “One Way or Another”, do disco “Parallel Lines” (1978). Um dos grandes ícones da new wave e do punk, o grupo contagiou a plateia das 19h25 até o final do show, às 20h28. Com uma capa escrita em inglês “stop fucking the planet” (parem de ferrar o planeta), Debbie era a grande estrela no palco. Longe de ter a voz de antes, a vocalista deixou claro que sabe cativar ao vivo depois de tantas décadas em viagens com a Blondie desde 1974.
“Doom or Destiny”, do disco “Pollinator” (2017), mostrou que mesmo as novas da Blondie podem deixar o público em êxtase, seja ele formado por fãs do At The Drive-In, Death Cab For Cutie, MGMT ou Lorde. No telão, a suástica nazista era socada por uma mulher com o rosto tampado enquanto a frase “punch a nazi” (soque um nazista) era mostrada junto com a imagem.
“Nós só estamos aqui porque vocês convidaram e agora nós só queremos nos divertir (have fun)”, disse Debbie antes de cantar “Fun”, uma das mais recentes e dançantes do “Pollinator”. Teve até espaço para um solo de bateria de Clem Burke no final da canção. As novidades abriram espaço para a clássica “Call Me”, de 1980. O Memorial da América Latina se transformou em uma gigantesca pista de dança. Do disco “Autoamerican” (1980) veio “Rapture”. Em seguida, Debbie Harry tirou os óculos escuros e cantou “Maria”, do álbum “No Exit” (1999), e fez a plateia acompanhar os versos em um gigantesco coro.
O cover da banda The Paragons, “The Tide Is High”, lançado no disco “Automerican”, fez os fãs cantarem alto. “Long Time” retomou o disco mais recente da banda. O refrão pode ser encarado como uma declaração de que demorou demais para a Blondie tocar no Brasil, a terceira atração inédita do festival no País: “Does it take you a long time?/Does it make you upset?/Does it make you think everybody wants to be your friend?“.
Outra parte da letra parecia responder o refrão: “Take me, then lose me, then tell them I’m yours/Are you, happy?“. A vocalista disse que o novo disco, “Pollinator”, foi feito em defesa do meio ambiente. “Eu espero que possamos ir à Região Norte e à Amazônia”, disse Debbie antes de cantar “Long Time”.
Debbie aproveitou “Atomic”, do “Eat To The Beat” (1979) para apresentar a banda, que veio ao Brasil sem Chris Stein, guitarrista que fundou a banda junto com a vocalista: Clem Burke na bateria, Leigh Foxx no baixo, Matt Katz-Bohen nos teclados e Tommy Kessler na guitarra. Por esse motivo, o hit “Heart of Glass” foi dedicado por Debbie Harry a Chris Stein. “Temos mais uma canção para vocês. Vamos lá”, anunciou Debbie. E o show histórico foi encerrado com “Dreaming” e seu refrão “Dreaming/Dreaming is free” (Sonhar/Sonhar é de graça), do disco “Eat To The Beat”.

Superbanda?
No intervalo que antecedeu a atração principal da noite, a cantora neozelandesa Lorde, subiu ao Heineken Jukebox a intitulada Superbanda: Michele Cordeiro na guitarra e baixo, Edimar Filho no baixo e guitarra, Cris Botarelli no teclado, Chuck Hipolitho na bateria e Martin Mendonça na guitarra. A cada música, uma vocalista diferente assumia o posto.
Na primeira canção, “Maniac”, do Phoenix, Emmily Barreto, do Far From Alaska, botou peso nos vocais da faixa ao vivo. Depois, o cantor Jaloo desafinou um pouco, esqueceu parte da letra, mas até que segurou bem as pontas ao executar “The Less I Know The Better”, do Tame Impala.
Bruna Guimarães, a Brvnks, mandou ver em “Crystalised”, do The XX. Mas foi Luiza Lian quem roubou a cena com “FOIMAL”, do Boogarins. E da bateria, Chuck Hipolitho fechou a apresentação da Superbanda cantando “I Wanna Be Your Dog”, do The Stooges.
Redenção da neozelandesa
Quando se apresentou pela primeira vez no Brasil, no Lollapalooza em 2014, Lorde parecia perdida naquele palco gigante e foi questionada depois do show. Quatro anos depois, com a Melodrama World Tour na estrada e o segundo disco lançado, a neozelandesa sabia muito bem o que faria ao encerrar a noite do Popload Festival e o motivo de estar no lugar em que a colocaram. Foi só sair do som a música “Running Up That Hill”, da Kate Bush, às 21h05, enquanto os cinco dançarinos e Lorde apareciam no palco, que o público foi à loucura.
Em seu figurino vermelhão supersexy, Lorde hipnotizou os fãs quando a introdução de “Sober” – “Night, midnight, lose my mind/Night, midnight, lose my mind/Night, midnight, lose my mind” – começou a ser cantada. Plateia conquistada. A cantora pop reinou soberana. “Para nós, é muito importante estar aqui”, agradeceu o carinho dos fãs Lorde. “Homemade Dynamite” seguiu a ordem do disco “Melodrama” (2017) e uma plateia que cantava cada letra da canção. Em seguida, Lorde cumprimentou o público em outro idioma, que pareceu muito um “bonne nuit” em francês.
“Tennis Court” levou o show ao início da carreira e lembrou os tempos do disco “Pure Heroine” (2013). “Obrigada”, soltou em português Lorde ao público. “It’s so hot”, brincou com o calor a artista de 22 anos. O único cover da apresentação foi “Magnets”, do Disclosure. “Buzzcut Season” manteve a noite no “Pure Heroine”. Em inglês, Lorde destacou o quanto os fãs brasileiros são apaixonados, que gosta dessa energia e que podia sentir tudo isso do palco. Com as palmas dos fãs, a neozelandesa cantou “Ribs”, do “Pure Heroine”, depois de “Hard Feelings”, do “Melodrama”.
A música que Lorde dedicou a um crush foi “The Louvre”, que depois deu espaço a “Writer In The Dark”, as duas do “Melodrama”, com um peso emotivo gigantesco. Lorde disse que se sentia muito bem naquele momento. Pouco tempo depois, a plateia foi iluminada por luzes de celulares levantados pelo público. A cantora parecia muito empolgada com a vibração dos fãs, que acompanhavam cada movimento de Lorde no palco. “Eu prometo que voltarei mais rápido desta vez”, declarou depois de uma espera de quatro anos e meio do seu público brasileiro.
“Liability” manteve a intensidade do drama de Lorde ao interpretar suas canções na beira do palco. “Eu sou muito grata por vocês continuarem a me acompanhar.” Lorde descreveu “Liability” como “uma canção sobre estar muito solitária”. “Nós amamos vocês exatamente do jeito que vocês são”, disse emocionada a cantora. Parte do público aproveitou a deixa para gritar “ele não”. Os dançarinos voltaram a acompanhar a artista e ela puxou “Sober II (Melodrama)”, seguida de “Supercut”, que antecedeu o hit “Royals”.
“Perfect Places” e “Team” levam o show para o seu encerramento. “Obrigada. Thank you so much”, se despede Lorde, pouco antes de tirar a blusa e ficar de sutiã no palco. “Esta música é para dançarmos juntos.” “Green Light” acaba com uma chuva de papel picado e Lorde sai do palco correndo ao cumprimentar os fãs: “Obrigado, São Paulo. Thank you and good night”. O que talvez Lorde poderia ter dito e que esperamos que aconteça em 2019 é “até a próxima”.

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