Os dez melhores discos goianos de 2018

30 dezembro 2018 às 00h00

COMPARTILHAR
O ano foi marcado por bandas conhecidas no cenário local que resolveram voltar, mas não com a mesma criatividade de antes, e artistas mais novos com bons álbuns e EPs

Décadas depois, 2018 será um ano complicado de se explicar em todos seus sentidos e assuntos. Inclusive na música. A produção goiana, quando não aderiu ao lançamento de singles – músicas separadas de obras completas -, ficou restrita a poucos bons discos e EPs, independente do formato – digital ou físico -, e muita porcaria. Tivemos até o caso de uma banda de Goiânia que voltou com lançamento a conta-gotas de um álbum que é melhor nem comentar.
Em meio à escassez de bons registros completos, o Opção Cultural tentou garimpar tudo que foi possível encontrar para criar a lista dos dez melhores discos goianos lançados em 2018. Não faremos aqui uma classificação do décimo ao primeiro, os álbuns surgirão em ordem alfabética pelo nome dos artistas. Cabe a você, ouvinte, escolher o que mais lhe agrada. Boa viagem e que tenhamos no ano de 2019 uma quantidade maior de registros para ouvir até cansar.
Bebel Roriz – “Azagaia”
O primeiro disco escolhido pelo Opção Cultural é “Azagaia”, da cantora Bebel Roriz. Com composições da artista, o disco traz dez boas canções que revelam diversas camadas musicais, que vão da MPB, bossa nova e jazz ao eletrônico e rock sem perder a graça. Desde seu início, com a cativante “Marcha para Bidiu”, até seu quase encerramento, em “Ossos do Ofício”, Bebel mostra que os anos dedicados a shows em homenagem à obra de outros artistas trouxe para a cantora a maturidade necessária para um trabalho tão bem amarrado.
Caffeine Lullabies – “Blueprints for a New Ocean”
Desde o lançamento do bom disco de estreia em 2015, a banda Caffeine Lullabies passou por algumas mudanças em sua formação. O guitarrista Ian Alves (Brvnks) deixou o conjunto, se mudou para São Paulo e deu lugar a Gabriel Santana (Components). O EP “Blueprints for a New Ocean” é o último registro de estúdio com o baterista Heitor Lima, que saiu de forma não muito amigável para a entrada de Pedro Hernández (Critical Strike).
As cinco músicas do registro dão a noção de que houve uma mudança significativa na sonoridade da Caffeine Lullabies, com vocais menos gritados e agressivos, melodias que passam a dialogar com o indie rock, não tanto com o hardcore melódico característico da primeira gravação de estúdio, o álbum “The Closest Thing to Death”. Mesmo com a nova pegada, o grupo conseguiu manter a qualidade, como se ouve nas faixas “Grief” e “Monkey Mind”.
Caito – “Imersão”
O cantor Caio Lima, que assina o EP “Imersão” como Caito, se aventura em voo solo depois de sair da banda Almost Down. As quatro canções do registro de estúdio vão do pop ao folk em 14 minutos com qualidade e leveza. A pegada é de música comercial mesmo, sem medo de assumir isso nas composições. “Sossego” é a música mais interessante da gravação.
Cambriana – “Manaus Vidaloka”
As informações sobre o segundo disco da Cambriana pareciam um boato que aumentava sua proporção a cada ano. A banda goiana que chegou a ser trilha sonora de propaganda de companhia de telefonia móvel depois do lançamento do álbum de estreia, “House of Tolerance”, em 2012, gerou em seu público uma expectativa muito grande sobre o novo registro de estúdio. Até que cansaram de esperar e ninguém mais tocou no assunto.
Em 2018, a Cambriana voltou com o disco “Manaus Vidaloka”, que trouxe a banda em outra viagem musical. Ainda bem, porque ninguém suportava mais os projetos paralelos sem graça de parte dos integrantes. “Big Sensations” deixa bem claro, já no início do álbum, que os cinco anos sem lançar nada novo, desde o EP “Worker”, em 2013, não fizeram mal ao grupo e dão a certeza de que a Cambriana não pode ficar tanto tempo em hiato.
Ao lado de “Tônus”, da Carne Doce, poderia muito bem ilustrar a lista de melhores discos nacionais se ainda contasse com a mesma atenção de antes na mídia especializada. Questão de tempo? Veremos! Ouça “Center of the Universe” e deixe o restante do “Manaus Vidaloka” tocar.
Carne Doce – “Tônus”
Na lista dos melhores discos nacionais de quase todas as publicações especializadas em música, “Tônus”, terceiro álbum da banda, trouxe a Carne Doce da explosão das letras de “Princesa” (2016) para a introspecção e o drama do cotidiano de um casal em suas pequenas alegrias e tristezas, inseguranças e paranoias.
Considerado pela vocalista Salma Jô e o guitarrista Macloys Aquino como o disco mais maduro da banda, “Tônus” pode soar estranho para quem está acostumado com canções consideradas mais animadas, mas surpreende pela consistência das letras e encaixe íntimo com as melodias.
Com o terceiro registro de estúdio, a Carne Doce conseguiu o que sempre mirou como objetivo: deixar de ser uma banda rotulada como goiana e ser apenas mais uma representante da música brasileira, seja ela classificada como representante do rock não rock ou da MPB não MPB.
Distorce – “Flesh and Bones” + “Fog” + “Mr. Nobody”
Os amigos de escola Vítor Vidal (vocal e guitarra), Iuri Moreno (baixo) e Felipe Fogaça (bateria) tinham uma banda. Com as músicas praticamente finalizadas, Vidal manteve o grupo, que ganhou nova formação, com Tiago Araújo (Procedê) no baixo e Rodrigo Andrade (Hellbenders) na bateria.
Iuri e Felipe ainda participam de alguns shows e gravaram parte das músicas dos três EPs lançados em 2018. São nove canções divididas nos registros “Mr. Nobody”, “Fog” e “Flesh and Bones”. Juntos, os três lançamentos poderiam muito bem ser um disco completo. A pegada vai do grunge ao stoner com pitadas de ska e hard rock. Destaque para as faixas “The Axeman”, “Fog” e “Eyewall”, uma de cada EP da banda.
Overfuzz – “Drunk Sessions”
Overfuzz é uma das poucas bandas independentes de rock goiano que consegue atrair bom público em seus shows na capital e fora de Goiânia. Depois do bom disco de estreia, “Bastard Sons of Rock ‘n’ Roll” (2015), o trio lança um EP ao vivo chamado “Drunk Sessions”, gravado no Family Mob Studio, em São Paulo.
Apesar de trazer apenas duas músicas novas entre as sete faixas, “Waste of Time” e “The Heat”, além da zoação em “Brunão’s Trip”, com trechos do baixista Bruno Andrade falando durante o show, o lançamento ainda é melhor do que a maioria dos discos que escutei até conseguir fechar a lista nos dez melhores discos goianos de 2018.
Sã – “Una-Maçã”
“Una-Maçã” é o primeiro registro performático roqueiro do trio Sã. Com um dos shows mais teatrais da música goiana, o grupo evoca o rock das décadas de 1960 e 1970, mistura a cultura hippie com atuação no palco, filosofia e muito barulho.
São 29 minutos divididos em seis canções recheadas de vinhetas e discussões sobre o ritmo acelerado e a vida programada dos humanos em seu ritual de repetição diária da rotina. “A Máquina” e “Cura” são as melhores canções do disco e também das apresentações do trio.
Señores – “Aqui É Chernobyl”
Representante do punk rock clássico em Goiás, o trio Señores volta com força em seu novo disco, “Aqui É Chernobyl”, que conta com participação de Rodrigo Lima, vocalista do Dead Fish, em uma das sete canções dos 19 minutos do álbum. Do estilo das bandas que compõem músicas que mais se parecem com hinos de revolta, a banda crava na faixa “Pedro Chernobyl”: “Neto do Césio 137/Filho da miséria mais crua e brutal/A flor de Hiroshima que nasceu no Centro-Oeste/Coroa de espinho, rainha do caos/Aqui é Hiroshima da América Latina/Aqui é Chernobyl do Centro do Brasil“. Não preciso dizer mais nada. Fiquem com a crítica ao péssimo transporte coletivo da Região Metropolitana em “Revolta no Terminal”.
The Galo Power – “Bote”
The Galo Power surpreendeu em 2018 com o impactante “Bote”, que começa com uma música de 11 minutos e 11 segundos, “Começo do Fim/Desande”, uma arriscada e muito longa abertura instrumental. Outro trio que busca referências no rock clássico e na psicodelia sessentista e setentista, assim como a Sã, e que mostra sua qualidade nas canções “Casa do Medo” e “Descarrilhado”.