“The Complete Stories” ainda não foi publicado no Brasil. A expectativa é que chegue às livrarias brasileiras no próximo ano

Ilustração de Jean-Philippe Delhomme | NY Times Reprodução
Ilustração de Jean-Philippe Delhomme | NY Times Reprodução

“Eu disse a uma amiga:
— A vida sempre superexigiu de mim.
Ela disse:
— Mas lembre-se de que você também superexige da vida.
Sim.”

Clarice Lispector, em Aprendendo a viver

Yago Rodrigues Alvim

A crítica literária do The New York Times (NY Times) publicou uma lista dos cem melhores livros de ficção, poesia e não-ficção de 2015. A surpresa, ou nem tão surpresa assim, está entre os dez primeiros colocados, mais especificamente no sexto lugar. É o livro “The Complete Stories” (New Directions), de Clarice Lispector. Com edição de Benjamin Moser e sensivelmente traduzido por Katrina Dodson, a obra ainda não foi publicado no Brasil. A expectativa é de que ele chegue por aqui no ano que vem.

Foto: Reprodução/Rocco
Foto: Reprodução/Rocco

“[…] Quando criança, e depois adolescente, fui precoce em muitas coisas. Em sentir um ambiente, por exemplo, em apreender a atmosfera íntima de uma pessoa. Por outro lado, longe de precoce, estava em incrível atraso em relação a outras coisas importantes. Continuo, aliás, atrasada em muitos terrenos. Nada posso fazer: parece que há em mim um lado infantil que não cresce jamais.

Até mais que treze anos, por exemplo, eu estava em atraso quanto ao que os americanos chamam de fatos da vida. Essa expressão se refere à relação profunda de amor entre um homem e uma mulher, da qual nascem os filhos. […] Depois, com o decorrer de mais tempo, em vez de me sentir escandalizada pelo modo como uma mulher e um homem se unem, passei a achar esse modo de uma grande perfeição. E também de grande delicadeza. Já então eu me transformara numa mocinha alta, pensativa, rebelde, tudo misturado a bastante selvageria e muita timidez.

Antes de me reconciliar com o processo da vida, no entanto, sofri muito, o que poderia ter sido evitado se um adulto responsável se tivesse encarregado de me contar como era o amor. […] Porque o mais surpreendente é que, mesmo depois de saber de tudo, o mistério continuou intacto. Embora eu saiba que de uma planta brota uma flor, continuo surpreendida com os caminhos secretos da natureza. E se continuo até hoje com pudor não é porque ache vergonhoso, é por pudor apenas feminino.”

— Trecho do livro “Aprendendo a viver” ( Rocco, 2004), de Clarice Lispector.

A escritora ucraniana, de nascença, é muitíssimo traduzida fora do país em que fora naturalizada, o Brasil. Por exemplo, no Peru, ela é a única autora brasileira que tem obra completa traduzida. Na reportagem do NY Times, eles a descrevem como “uma dos originais escritores da América Latina”.