Mariza Santana

O vigor narrativo da escritora chilena/norte-americana Isabel Allende se mantém, a despeito de ela possuir uma extensa produção literária e ter completado 81 anos de idade em agosto último. Mais conhecida pelo best-seller “A Casa dos Espíritos”, que foi adaptado para as telas do cinema com a atriz norte-americana Meryl Streep no papel da protagonista Clara, Isabel Allende é uma excelente contadora de histórias, muitas delas ambientadas no seu Chile natal ou nos Estados Unidos, principalmente a Califórnia, onde ela se radicou há décadas.

O leitor com certeza vai se deliciar com a última obra lançada por Isabel Allende – o romance “O Vento sabe meu nome”. O novo livro trata de temas capazes de mexer com os nossos sentimentos, como perdas familiares e busca pela sobrevivência. Mas adiciona assuntos atuais, como a política para imigrantes nos Estados Unidos, que na época Trump separou pais e filhos, numa crueldade sem tamanho; além é claro, da pandemia de Covid-19, que não pode deixar de ser citada e que mudou o comportamento da população mundial por dois longos anos, ou talvez para sempre.

Em “O Vento Sabe o Meu Nome” somos apresentados a muitos personagens que, embora separados no início da narrativa pelo tempo e pelo espaço geográfico, vão tendo os seus destinos entrelaçados ao longo da história. Samuel Adler, de cinco anos de idade, foi uma das crianças judias resgatadas em Viena, na Áustria, logo após a terrível Noite dos Cristais, em 1938, e levada para a Inglaterra. Sua sobrevivência e o resgate da ameaça nazista ocorreram pouco antes da morte de seus pais e parentes mais próximos. O menino foi condenado a viver como órfão em um país estrangeiro, longe de suas raízes e cultura. Somente o amor pela música e pelo violino foram capazes de propiciar alento a seu coraçãozinho partido.

Já no Arizona, Estados Unidos, em 2019, oito décadas depois, a menina cega Anita Díaz tem sua vida mudada completamente, depois que ela e sua mãe migram ilegalmente de El Salvador para terras norte-americanas e são vítimas da nova política de separação familiar adotada pelo governo local. Enquanto sua mãe desaparece, ela sofre internada em instituições governamentais e depois é cuidada por uma família adotivas temporária. Para se proteger de sua tragédia pessoal, ela se refugia em um mundo mágico particular, tentando suportar tanta dor e sofrimento.

Isabel Allende: escritora lida em praticamente todo o mundo | Foto: Reprodução

Paralelamente à história desses dois protagonistas tão diferentes, a escritora nos apresenta Selena Duran, uma jovem assistente social que luta pelos direitos dos emigrantes ilegais nos Estados Unidos e busca reunir novamente Anita Díaz e a mãe desaparecida; e um advogado renomado, Frank Angileri, que encontra nova motivação na carreira profissional e na vida, ao atuar no caso jurídico da menina salvadorenha cega.

Mestra na arte de criar enredo onde se entrecruzam histórias familiares, em “O vento sabe o meu nome” a escritora Isabel Allende utiliza do seu repertório narrativo e da sua força literária para criar mais um livro arrebatador e coerente com as tragédias humanas que tantos vivem, principalmente os moradores de países da América Central, que fogem da miséria e da violência, e depois de tanto sacrifício, só encontram na terra do Tio Sam um ambiente hostil.

Com certeza, a imigração é um tema que mexe com a opinião dos norte-americanos, que não querem um bando de desvalidos invadindo seu território. Atualmente, a questão da imigração de populações vindas de países pobres ou em situação de guerra é um dos grandes desafios dos países ricos, sejam os Estados Unidos ou a Europa. Com essa imigração crescem os casos de xenofobia e intolerância, da qual nem os brasileiros estão livres (basta ver na imprensa as reportagens de casos de famílias brasileiras que são vítimas de xenófobos em Portugal). Isabel Allende escolheu um assunto delicado, mas creio que é necessário colocar o dedo nessa ferida, e chamar os holofotes para esse problema que é mundial.

Micro biografia de Isabel Allende

Isabel Allende nasceu, na realidade, no Peru, em 1942.  Mas passou a primeira infância no Chile e viveu em vários lugares na infância e na juventude.

Depois do golpe militar do general-ditador Augusto Pinochet em 1973, mudou-se para a Venezuela e depois para a Califórnia, nos Estados Unidos, onde vive desde 1987.

A extensa obra de Isabel Allende foi traduzida para 40 idiomas, com vendas superiores a 77 milhões de exemplares. Isso a torna a escritora mais lida na língua espanhola.

Mariza Santana é jornalista e crítica literária.