O livro “a nova utopia” (Quatro Cantos, 160 páginas), de Régis Bonvicino, será lançado nesta quinta-feira, 29, às 19 horas, na Livraria da Vila, no Shopping Pátio Higienópolis, em São Paulo. Bonvicino é poeta, tradutor e crítico literário. É uma poeta com dicção própria, que expande seus próprios experimentos. Pode-se sugerir que bebeu em várias fontes exatamente para não repeti-las. É um inovador que não fica estagnado e suas experimentações são consistentes, porque resultam de projetos sólidos, pensados.

O poeta começou a escrever o livro em 2014, mas, ante uma tragédia familiar, a morte de uma filha, ficou recluso. O tempo foi útil para que escrevesse novas poemas. “Posso dizer que, além de ser o maior projeto escrito, também é o mais complexo”, assinala.

“a nova utopia”, com 67 novos poemas (vale sublinhar que 67 anos é a idade de Bonvicino), contém poemas, prosa poética curta e prosa poética mais longa. Segundo a divulgação, o livro “é marcado por uma variedade linguística, decorrente de espelhamentos, ou seja, de uma investigação do mundo contemporâneo de miséria e de mendigos, de decadência e desesperança, aqui e no exterior, Brasil e Europa em cotejos, contrastes e confrontos”.

Régis Bonvicino, poeta, tradutor, crítico literário e editor | Foto: Facebook

As cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, São Luís do Maranhão, Paris, Nice, Roma e Sevilha são cenários dos poemas. Não se trata, porém, de diário de viagem, e sim de “comparações e paralelos críticos”. “O livro consiste numa tentativa de interpretação dessas realidades e não em um ‘discurso’ sobre ela, ou como os poemas são minuciosamente construídos. Escrita seca, mas sensível, articulando arte e cultura no cotidiano duro das pessoas na contramão dos sentimentalismos etéreos”, diz Bonvicino.

Graficamente em branco e preto, o livro lida “com ‘personagens’ em nível de sobrevivência: fascismos, guerras, imigrantes, indiferença, fome, atentados. Nesse aspecto, pode-se dizer que, de algum modo, se relaciona com o neorrealismo italiano, sobretudo o de Pier Paolo Pasolini e Roberto Rosselini” — diretores de cinema (Pasolini, por sinal, era poeta).

A divulgação do livro postula que “‘a nova utopia’, ao penetrar na realidade das ruas e de seus conflitos, representa tentativa de buscar uma explicação para o caos e referida barbárie contemporânea. É um livro reflexivo e, por isso, não há nele poemas edificantes ou lugares de repouso. Seu tema mais central é o espaço público urbano degradado; os mendigos afloram como atores principais que não atuam; nos bastidores, os novos utopistas propõem, ambiguamente, suas ideias”.

Leituras da obra de Bonvicino

Poemas do argentino Oliverio Girondo traduzidos por Régis Bonvicino | Foto: Jornal Opção

O crítico cubano Ricardo Alberto Pérez anota que a criação poética de Bonvicino funde, numa combinação feliz, “a obsessão pela linguagem com vocação intensa de estar nas ruas”.

Na orelha da obra, o crítico uruguaio Eduardo Milá escreve: “A lucidez poética de Régis Bonvicino se joga inteira quando evita toda nostalgia de outros tempos — tanto poéticos como históricos — para confrontar este presente histórico com o tempo da poesia”.

O poeta e crítico Luís Dolhnikoff analisa: “Porque essa é uma poesia de uma beleza áspera e de uma imagética bruta, além de minuciosa. Disseca a seco a feiura caleidoscópica da cidade-mundo e do mundo urbanizado. E aproxima, afinal, a poesia brasileira contemporânea desse mundo até lhe roçar as chagas”.

No prefácio do libreto “Deus Devolve o Revólver” (2019/2020), um dos mais importantes críticos literários do país, Alcir Pécora, firma: “A qualidade dessa poesia, por si mesma, é extraordinária — eis o que precisa ser dito antes de mais nada”.

Régis Bonvicino: poeta, tradutor e crítico

O poeta Régis Bonvicino, de 67 anos, nasceu em São Paulo. É poeta, tradutor (de, entre outros, Oliverio Girondo, Jules Laforgue, Robert Creeley e Charles Bernstein), crítico literário e editor. Já publicou mais de 30 obras (livros de poesia, plaquete, críticas, antologias e traduções).

Bonvicino tem poemas traduzidos para mais de 20 idiomas: inglês, o hindi, o francês, o espanhol, o chinês, o catalão, o holandês, o dinamarquês, entre outros.

É fundador da revista “Sibila”, de poesia e crítica literária. A publicação circula há mais de 20 anos.