O Poder das Memórias e a reconstrução do eu na contemporaneidade

Em uma era de excesso de informações, hiperconexão digital, adoecimento emocional e perda de vínculos significativos, a humanidade enfrenta crises de identidade, solidão e desconexão consigo mesma. É neste cenário que “O Poder das Memórias”, da Dra. Marislei Espíndula Brasileiro, surge como uma obra profundamente necessária, que adquiri na livraria física da IEC. O livro convida o leitor a revisitar suas próprias histórias para compreender como as lembranças moldam a identidade, as decisões e o futuro. A obra demonstra que recordar não é um ato passivo, mas um processo ativo de ressignificação, reconstrução e cura.

Com uma narrativa envolvente, o livro combina ciência, espiritualidade, neurociência e experiência de vida. Apresenta reflexões sensíveis, exemplos reais e análises do comportamento humano, explicando como nossas memórias — afetivas, sensoriais, emocionais e culturais — influenciam a forma como percebemos o mundo. A autora conduz o leitor a um exercício crítico: pensar sobre o que deve ser preservado, esquecido ou transformado. A premissa é que más lembranças podem aprisionar, e memórias fortalecedoras podem libertar; portanto, o passado não é um peso, mas um território fértil de aprendizado e desenvolvimento pessoal.

A singularidade e o rigor da obra são diretamente alimentados pela trajetória ímpar da autora. Marislei Espíndula Brasileiro é professora do curso de medicina, justamente na disciplina ligada à neurociência, e converte conhecimento científico em linguagem acessível a todos. É escritora, enfermeira, professora e doutora em Ciências da Saúde pela UFG e em Ciências da Religião pela PUC, sendo a primeira enfermeira do Brasil a concluir dois doutorados simultaneamente. Pesquisadora, gestora educacional e palestrante internacional, atua há décadas na formação de profissionais de saúde, na produção científica e em movimentos culturais e espirituais. Presidente da Academia Goianiense de Letras, é reconhecida pelo trabalho inovador na promoção da cultura, da educação e da produção de conhecimento no Brasil. Escritora desde a infância, tem trajetória marcada por sensibilidade, rigor intelectual e compromisso com o desenvolvimento humano. Sua atuação integra ciência, espiritualidade, arte e cidadania — marcas que também atravessam sua produção literária e científica.

É nesta síntese que seu trabalho estabelece um diálogo profícuo com os pilares da psicologia analítica e individual. A proposta de ressignificação ativa das lembranças ecoa diretamente o conceito de “compensação” e “estilo de vida” de Alfred Adler ao modo de interpretar deste articulista, que o revistou a propósito de uma disciplina na faculdade de Folosofia. Para Adler, não são os eventos objetivos de nossa infância que nos determinam, mas a interpretação subjetiva que fazemos deles. Uma memória dolorosa, se mantida como uma narrativa imutável de inferioridade ou vitimização, pode gerar um “complexo de inferioridade” paralisante. No entanto, ao revisitar e ressignificar essa memória – processo central no livro de Brasileiro –, o indivíduo pode encontrar nela a fonte de sua “luta pela superioridade” no sentido adleriano, ou seja, a força motriz para o desenvolvimento pessoal e a contribuição social.

Da mesma forma, a obra ressoa com os postulados de Carl Gustav Jung. A jornada de revisitar e integrar as memórias assemelha-se ao processo de individuação, pelo qual o ego consciente estabelece um diálogo com o inconsciente pessoal e coletivo. Memórias esquecidas ou traumáticas podem funcionar como “complexos autônomos” que sequestram a energia psíquica. O exercício de “coletar as próprias memórias” e “eliminar falsas memórias” proposto por Brasileiro pode ser visto como um trabalho de conscientização e integração de conteúdos sombrios (a shadow junguiana), essencial para a conquista da totalidade do Self. A integração entre ciência e espiritualidade, marca registrada da autora, também encontra paralelo na visão junguiana da psique, que não reduz a experiência humana ao material, mas abre espaço para o significado simbólico e transpessoal.

“O Poder das Memórias” resgata a ideia de que o caminho para o equilíbrio emocional e social passa pela capacidade de compreender de onde viemos, o que carregamos e como nossas experiências nos transformaram. Em um mundo que incentiva o esquecimento rápido, o consumo imediato e a superficialidade, Marislei Brasileiro propõe o movimento oposto: olhar para dentro, reconhecer a própria história, honrar as raízes e transformar a dor em potência. Acima de tudo, o livro é um convite à autonomia emocional e ao protagonismo da própria história.

Mas não se trata de um livro que se lê e se guarda. Ele é, como a autora oferece, uma ferramenta de reconstrução pessoal num tempo de grandes transições. Contém atividades práticas e, ao final, o leitor terá coletado suas próprias memórias. Mais que isso, poderá ter eliminado falsas memórias e curado aquelas que causavam dores. Em um século marcado por mudanças aceleradas, o livro mostra que a força mais revolucionária pode estar na memória — individual e coletiva. Ressignificar as memórias é, enfim, um ato de caridade com a própria consciência.

Como presidente da Academia Goianiense de Letras (onde sou confrade dela) e reconhecida por integrar ciência, arte e cidadania, Dra. Marislei Brasileiro entrega ao público uma obra que é fruto de décadas de formação rigorosa e sensibilidade humana aguçada. “O Poder das Memórias” posiciona-se na intersecção entre a neurociência contemporânea e a sabedoria perene da psicologia profunda. Mais do que um livro para ser lido, é uma experiência para ser vivida – um convite urgente e revolucionário para que, em meio ao ruído do mundo, redescubramos a força transformadora que habita na quieta e cuidadosa observação de nossa própria história.

O livro “O Poder das Memórias” está disponível nas livrarias e também nas plataformas Amazon e Mercado Livre. Dra. Marislei Espíndula Brasileiro: Doutora em Ciências da Saúde pela Faculdade de Medicina – UFG, Doutora em Ciências da Religião pela PUC, Mestre em Saúde Pública FE/UFMG, Enfermeira pela UFG. @dramarislei