COMPARTILHAR

As palavras do escritor húngaro László Krasznahorkai, quando recebeu o Prêmio Nobel de Literatura de 2025, foram interpretadas como uma profissão de fé na própria literatura: “Estou profundamente feliz por ter recebido o Nobel — sobretudo porque esta premiação significa que a literatura existe por si só. Talvez ofereça esperança até mesmo àqueles nos quais a própria vida mal se manifesta.” Observando textos e análises sobre sua obra, pude compreender que Krasznahorkai construiu uma literatura de ritmo próprio, exigente, em que o tempo se dilata e a linguagem se converte em experiência. Sua prosa, descrita como hipnótica e labiríntica, não busca agradar ou fornecer respostas imediatas, mas provocar uma meditação profunda sobre o que há de mais silencioso e denso na experiência humana.

A frase “a literatura existe por si só” aparece com frequência nas interpretações de estudiosos como núcleo de sua concepção estética. Em um mundo dominado por métricas, algoritmos e pressões de mercado, Krasznahorkai reafirma a autonomia da arte: a literatura não deve servir a fins externos, mas existir como território próprio de liberdade e introspecção. Escrever, nesse sentido, não é um gesto de entretenimento, mas uma forma de resistência ao esvaziamento contemporâneo e de preservação do sentido.

Nas análises que consultei, observa-se que, em romances como “A Melancolia da Resistência” (Az ellenállás melankóliája, 1989), “Satantango” e “Seiobo There Below”, Krasznahorkai explora temas recorrentes: solidão, decadência, loucura, opacidade da história e colapso da esperança. As personagens aparecem como seres deslocados, prisioneiros de suas obsessões, vivendo em espaços em ruína onde a vida “mal se manifesta”. A literatura, nesses relatos, representa uma última forma de reconhecimento: ao transformar sofrimento em linguagem, e linguagem em consciência, ela oferece não consolo, mas a prova de que o humano persiste mesmo nos limites da desesperança. Ler Krasznahorkai, segundo as interpretações que consultei, é confrontar o espelho do mundo e perceber, em meio ao caos, a delicada permanência da vida.

Essa visão transforma a literatura em um ato de fé — fé na palavra, na arte e na capacidade do verbo de expressar o indizível. Ao afirmar que a literatura “existe por si só” e que pode oferecer esperança “àqueles nos quais a vida mal se manifesta”, o autor converte o ato de escrever em resistência espiritual. A palavra, nessa perspectiva, funciona como farol: não para guiar até um porto seguro, mas para mostrar que, mesmo em meio à tempestade, há alguém na torre sustentando a luz acesa.

A celebração de László Krasznahorkai como Prêmio Nobel de Literatura de 2025, observa-se em diversas análises, ultrapassa a homenagem a um escritor. Trata-se do reconhecimento de uma postura ética diante da existência: a de que a literatura, mesmo em tempos de escuridão, continua sendo o último espaço onde a vida, ainda que frágil e vacilante, se manifesta como a força dos cansados e sobrecarregados. Nesse sentido, a obra de Krasznahorkai se torna um refúgio, oferecendo luz aos que caminham entre ruínas e reafirmando que a literatura permanece viva mesmo quando o mundo parece silenciar.
E até quando o mundo assim será?

Fontes:
• The Nobel Prize in Literature 2025 – László Krasznahorkai. Nobel Prize Official Website. Publicado em 10 de outubro de 2025. Disponível em: https://www.nobelprize.org/prizes/literature/2025/press-release

• Krasznahorkai, László. Az ellenállás melankóliája. Budapest: Magvető Kiadó, 1989. • Análises e comentários publicados em Svenska Dagbladet (Estocolmo, 11 out. 2025), The Guardian (12 out. 2025) e Le Monde (14 out. 2025).