O Natal do Menino

23 dezembro 2015 às 12h28

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Miguel Jorge
Especial para o Jornal Opção
Neste Natal, que não se percam as esperanças,
mesmo entradas em melancólica desarmonia.
Mesmo a se digladiarem entre o sim e o não,
Abrir-se em alegrias para os sonhos
que se têm para sonhar.
Não se percam as vozes no sobrevoo de outras vozes,
Dos que se crêem felizes com o princípio eterno do amar.
Socorrem-nos as rezas a partir do agora. As comezinhas causas
das cozinhas, a segurança de não mais sentir-se armado,
Pois a realidade da vida é igual à própria vida.
(o menino plantou uma árvore de Natal.
Nasceram nela olhos mecânicos. Em um deles
viam-se bombas, como que disfarçadas em pombas.
Em outro, corações partidos, esvaziados de lembranças).
– Vale mais o interior das pessoas, a horizontalidade dos dias,
– O elo das flores, o virar das esquinas sem medo.
– As alvas manhãs sem condenações.
– As alegrias das casas, embora adversidades tantas.
(O menino ficou imaginando: se plantasse outra
árvore, o que nasceria dela? Era bem difícil adivinhar.
Viria outro planeta em seu socorro? Alguém lhe traria
de volta os patins que ontem lhe roubaram? As vozes voltariam
cheias de calor?)
Neste Natal, várias chaves abrirão novas portas, esperamos. Músicas,
murmúrios, milagres a se renovarem, ausentes de qualquer surpresa.
Pois, Natal é dar voltas ao mundo, é dar rimas ao
universo, é iluminar com novas luzes velhas estrelas.
(O menino fechou os olhos, alguém acendeu uma luz.
Era o sonho que voltava, talvez a iluminar seu futuro.
Havia coisas belas, figurações de anjos, campos de céus,
e uma criança a sorrir na manjedoura).
Neste Natal, precisa-se recorrer às harmonias das cores,
todas elas. Esquecer as armas, mesmo as que se havia
imaginado, que bombas são intervalos para pesadelos.
(O menino ajoelhou e rezou. Não sabia por quem, ou
para quem, mas orava. Estava diante dele mesmo a se dizer:
que os homens, os deuses, as religiões não podem pesar-se
em balanças. As almas se reconhecem, os corações abrigam-se
nas cores que os céus apontam. O mesmo céu que dá vida às flores,
nos intriga com seu silêncio).
O menino não se lembrou de mais nada,
nem mesmo dos patins. Sabia que a vida era
cheia de atalhos. Não havia perturbações,
nem desânimo em seu coração. Lá fora, as árvores
arrebentavam-se em florações e quem por lá passasse
certamente ergueria os olhos para elas. Certamente
sorririam. Certamente não teriam mais pensares para absurdas
geografias. Verdadeiramente o dia teria sido.
Natal de 2015