Ator tem indicação póstuma ao Oscar de Melhor Ator em 2021

Chadwick Boseman como Levee, em A Voz Suprema do Blues | Foto: Reprodução

Indicado em cinco categorias do Oscar 2021, incluindo uma nomeação póstuma ao prêmio de Melhor Ator para Chadwick Boseman, “A Voz Suprema do Blues”, está disponível na Netflix desde dezembro de 2020.

No filme, uma das maiores expoentes do cinema da atualidade, Viola Davis, revive Ma Rainey, uma das primeiras cantoras de blues dos Estados Unidos a ficar muito famosa.

Ma Rainey é uma figura tradicional da cultura norte-americana, nascida ainda no século 19. Ela ganhou fama no vaudeville, um entretenimento do povo que unia teatro, música, danças, números de mágica, acrobacias e exposição de um bocado de coisas, inclusive pessoas consideradas “estranhas” para as mentes apequenadas da época.

Viola Davis como Ma Rainey, em A Voz Suprema do Blues | Foto: Reprodução

Como a cantora, Viola aparece de maquiagem borrada, pele suada e toda a arrogância de uma mulher que conquistou com muito trabalho e sacrifício seu espaço em um mundo comandado por homens.

Chadwick Boseman interpreta o trompetista Levee. Tanto Ma quanto Levee são artistas muito talentosos, mas a famosa é ela. Com um nome consolidado na indústria da música, ela tem os executivos de sua gravadora nas mãos. Levee é um gênio vanguardista, mas ainda não é conhecido, não tem a confiança de um sucesso lançado e tem um estilo dançante demais para Ma.

O trompetista é contratado para tocar no novo disco da cantora. Então temos um conflito de gerações e estilos: o clássico blues de Ma e o estilo dançante de Levee. Os produtores compram, à princípio, a ideia do instrumentista. Ma precisa mesmo dar uma atualizada, uma repaginada, conforme os produtores fazem Levee acreditar. Ele se convence.

Mas ela é a estrela, e uma estrela indomável, sem nenhuma disposição para deixar o machismo e o racismo da época lhe impor qualquer coisa, muito embora as entrelinhas digam o contrário.

A Voz Suprema do Blues está disponível na Netflix| Foto: Reprodução

Nas expressões apáticas e movimentos mecânicos, os músicos estão simplesmente ali deixando que sua arte e cultura sejam apropriadas por aqueles homens brancos de terno. Assim, sobrevivem de uma forma menos miserável.

O filme se passa durante todo um dia de gravações em um estúdio na cidade de Chicago, que parece muito calorenta e ensolarada.

A história é baseada na peça de August Wilson, o mesmo dramaturgo que escreveu Fences, também adaptada para o cinema e atuada por Viola Davis ao lado de Denzel Washington. O último também foi diretor do filme.

Como é teatral, se passa em um cenário simples, um prédio de tijolos onde fica o estúdio de gravação. A fotografia também segue o estilo dramático, com closes e bastante luz no rosto dos personagens durante seus monólogos.

As peles dos personagens negros aparecem bastante suadas, talvez para tentar deixar claro o calor em Chicago, ou para expressar o suor do trabalho que é apropriado, o esforço na luta contra a opressão e, também, o clima acalorado das emoções expostas em trágicos e furiosos monólogos.

Uma história aparentemente simples em seu desenvolvimento, mas muito complexa e profunda nas interpretações das personagens. Como espectadores, não vimos muitos avanços para acontecimentos.

Como no teatro, a história fica nas mãos dos atores, que fazem um trabalho arrebatador. Embora Viola Davis tenha uma atuação deleitável, Chadwick Boseman é quem brilha. No monólogo em que conta sua história de vida, vemos um homem que se expõe, se vulnerabiliza, se enfurece. Uma atuação crua e cruel que fere quem assiste. Sua voz é cortante como uma navalha.

Boseman, nesse filme, aparece bem mais magro que o normal. Ele já sabia que sua vida estava no fim e que essa seria, provavelmente, sua última atuação.

O longa-metragem, de um modo geral, parece que acaba faltando algo, mas não da parte dos atores, que entregam tudo.

No imdb esse filme recebeu nota 7,1 e no tomatômetro do Rotten Tomatoes teve 98% de aprovação.