[Terceira parte da resenha do livro “Mega-Ameaças — Dez Perigosas Tendências Que Ameaçam Nosso Futuro e Como Sobreviver a elas”, de Nouriel Roubini — Editora Crítica, 352 páginas, tradução de Maria de Fatima Oliva do Coutto]

Salatiel Soares Correia

Vem sendo, cada vez mais intensa, a produção de filmes voltados para entender a importância da inteligência artificial neste mundo da chamada sociedade em rede. Vejamos o exemplo do filme “Ex-Machina”.

Na película em questão, o talentoso programador Caleb ganha um concurso que lhe dá o direito de participar de um projeto envolvendo um robô fabricado com a inteligência artificial.

A imaginação do produtor do filme não se encontra distante do mundo em que vivemos, cujo contexto os algoritmos incorporam nos hábitos de uso dos consumidores.

O economista Nouriel Roubini, o Dr. Apocalipse, aponta esse novo mundo tecnológico dos algoritmos, como uma poderosa ameaça que, certamente, elevará o desemprego e a extinção de várias profissões (702, segundo o autor).

O uso da inteligência artificial vem ganhando espaços nas sociedades mais avançadas do mundo.  A respeito desse assunto, Nouriel Roubini relata, em seus escritos, a construção de uma casa de modo, absolutamente, inovador: usando uma grande impressora tradicional 3D.

Estabelecido o sucesso do empreendimento, é possível a construção de prédios comerciais e residenciais. Nesta nova realidade, que futuro terão carpinteiros, arquitetos, mestre de obras e tantas outras profissões? Essa é a grande ameaça da inteligência artificial, que relata o autor em seus escritos.

Imaginação destruidora da IA

Se, nos dias de hoje, autores de respeito, como Nouriel Roubini, preveem o uso intensivo de algoritmos na vida das sociedades, muito antes dele, o genial economista austríaco Josef Alois Schumpeter (1883-1950) analisou a capacidade do sistema capitalista reconstruir-se a partir das coisas que ele mesmo destrói. 

Tal descoberta tornou-se um importante instrumento de análise do capitalismo no seu processo de construção e de desconstrução. Nos meios acadêmicos e nos países de elevada inovação tecnológica, em cujo contexto o capitalismo destrói para construir, tal contribuição de Schumpeter ficou conhecida como: “A imaginação destruidora de Schumpeter”.

 O trabalho desse notável economista austríaco e professor de Harvard colocou-o no mesmo patamar do grande economista inglês John Maynard Keynes. Se o século 20, no campo da teoria econômica, pertence a Keynes, o século 21 é bastante influenciado pelas ideias de Schumpeter. É nesse mundo capitalista de construção e de desconstrução que os algoritmos são fundamentais para que a inovação torne-se uma realidade de que tanto fala Roubini e seus escritos.

Um bom exemplo dessa sociedade é a interação dela com a inteligência artificial. Com a palavra o autor: “Na realidade, a princípio, a inteligência artificial substitui empregos rotineiros. Em seguida, empregos cognitivos, que repetem sequências de etapas capazes ser dominadas por máquinas. Agora, de modo gradual, a Inteligência artificial é capaz de realizar até mesmo trabalhos criativos”.

Toda evolução tecnológica eleva a produtividade e o desemprego.

Nos idos da Revolução Industrial (fins do século XVIII), ocorreram inúmeros conflitos, sendo o ludismo o mais conhecido. Nesse conflito entre capital e trabalho, as máquinas de uma fábrica substituíram parcela considerável do trabalho humano.

O proprietário dessa fábrica, Wiliam Horsfal, ao ser assassinado, com um tiro, quando ia para casa, pode ser considerado como a grande vítima daqueles tempos em que o mundo passava por grandes transformações sociais. Que ninguém duvide que a evolução dos algoritmos provocará não só mudanças nos empregos, mas em algo mais grave que isso: a extinção de inúmeras profissões. (706 profissões já foram extintas, até  o presente momento, de acordo com o autor).

A esse respeito, conta-nos Nouriel Roubine que “a Relação entre homem e máquina está sendo transformada radicamente…. computadores a tarefas mentais complexas agora estão tomando os empregos de trabalhadores de colarinho-branco, a princípio realizando tarefas simples e, em seguida, crescentes tarefas mentais complexas.”

Nesse sentido, são visíveis as transformações, no setor de vendas, nas fábricas, nos hospitais, … Nesses espaços, faz-se uso de um instrumento modernizador, que são os robôs, programados pelos algoritmos.

Embora pouco percebida,  essas transformações, até o momento, substituem tarefas repetitivas, mas essa percepção ganhará visibilidade, no momento em que os algoritmos evoluírem ao ponto de serem capazes de tomarem decisões.

A partir desse momento, a indagação que aguça a seguinte  incerteza: tendo os robôs capacidade de decisão, quem no mundo duvida que esses  robôs, não  poderão assumir, com muito mais agilidade , o papel de um juiz?

Quem duvida desse futuro deve observar as insubstituíveis 706 profissões, pesquisadas por Noriel Roubine, em processo ou já substituídas por robôs. Ficção científica? O fluxo histórico tem comprovado que não.

A mente instigante de Nouriel Roubini lança informações que nos inquieta quanto ao futuro. Para ele, a inteligência artificial está a caminho de dispensar o poder do cérebro, desafiando todo e qualquer profissão, que tenha o conhecimento como reserva de valor.

Ao se referir à China, o autor relata que “os seres humanos foram fisicamente removidos dessa linha de montagem e substituídos por robôs, técnicos e engenheiros digitais que operam a distância.” O olhar instigante do autor volta-se agora para os motoristas de Uber e de caminhão, quando esses veículos passarem a serem auto pilotados.

Esse admirável mundo novo que nos apresenta o autor aponta para a evolução da inteligência artificial e para a capacidade dela de substituir empregos.  Primeiramente, essa nova onda modernizadora do capitalismo substituirá os empregos rotineiros e os empregos cognitivos, que repetem sequências capazes de dominarem máquinas. Por fim, de modo gradual, a inteligência artificial substituirá os trabalhos criativos.

Paro por aqui. Entretanto, para quem desejar ir a fundo nesse admirável mundo novo que vem sendo construído por algoritmos, constatará o porquê da inteligência artificial ser uma das mega ameaças previstas pelo “mandrake” Nouriel Roubini. Para isso, vai o conselho de sempre deste resenhista que vos fala: compre o livro e tirem suas próprias conclusões.

Salatiel Soares Correia é engenheiro, bacharel em administração de empresas, mestre em energia pela Unicamp, autor de oito livros relacionados aos seguintes temas: energia, economia, política e desenvolvimento regional. É colaborador do Jornal Opção.