Livro retrata e denuncia internação de crianças em instituições de acolhimento para deficientes
20 junho 2021 às 00h01
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Estruturado em seis capítulos, o livro perpassa o histórico da saúde mental infantojuvenil desde o Brasil Colônia e propõe uma reflexão sobre as práticas atuais
A psicóloga, docente e pesquisadora Flávia Blikstein lança o livro Saúde mental: retratos de crianças esquecidas, no dia 23 de março, quarta-feira, às 20h30, em live no Facebook. A obra é resultado de sua tese de doutorado sobre a internação de crianças e adolescentes em instituições de acolhimento para pessoas com deficiência e sobre as práticas de cuidado que operam no campo da saúde mental infantojuvenil.
Estruturado em seis capítulos, o livro perpassa o histórico da saúde mental infantojuvenil desde o Brasil Colônia e propõe uma reflexão sobre as práticas atuais. Mais do que isso, trata-se de uma tentativa de narrar as histórias sem registros de inúmeras crianças e adolescentes institucionalizados ainda nos dias atuais, dando início a longas trajetórias de exclusão social e violação de direitos.
“(…) Flávia Blikstein recusou o conformismo intelectual e conduziu sua investigação no terreno de uma sombra. Daí o título Saúde mental: retratos de crianças esquecidas. Quem são elas? São aquelas das quais não se fala, que vivem em instituições que não se mencionam, mas às quais se recorre em número e frequência espantosos. São as instituições de acolhimento de crianças e adolescentes com deficiência no estado de São Paulo. Essas instituições sociais heterogêneas e distintas entre si são, nesta obra, objeto do fôlego investigativo da autora”.
Alberto Olavo Advincula Reis – doutor em Saúde Pública pela USP e livre docente, coordenador do Grupo de Pesquisa LASAMEC – Laboratório de Saúde Mental Coletiva
“Este livro foi escrito com o objetivo de lançar luz sobre a saúde mental infantojuvenil e apontar a necessidade de discutir as práticas de cuidado que operam neste campo na atualidade. Acredito que a produção de estudos nesta área pode contribuir para a garantia de direitos de crianças e adolescentes e para a efetivação do modelo psicossocial de atenção em saúde mental. (…) Ao trilhar este caminho nunca pude verdadeiramente conviver com a ideia de que, nos dias atuais, milhares de crianças e adolescentes ainda são condenados à “exclusão perpétua” nas instituições manicomiais”, afirma a autora.
O tema das internações de crianças e adolescentes vem sendo pesquisado pela autora desde a dissertação de mestrado, intitulada Destinos de crianças – estudo sobre as internações de crianças e adolescentes em Hospital Público Psiquiátrico, defendida na PUC-SP em 2012. A partir desta pesquisa, Flávia decidiu se aprofundar em questões detectadas ali e que, segundo ela, se configuram como “áreas de sombra”. Essas “áreas” se refletem na existência de práticas e fluxos de cuidado sobre os quais pouco se fala, como são as internações de longa duração de crianças e adolescentes em instituições de acolhimento e/ou hospitais psiquiátricos.
Flávia recorreu a narrativas de vida de inúmeros usuários de centros de acolhimento e pôde observar que as internações de crianças e adolescentes não ocorrem apenas em hospitais psiquiátricos, mas também em instituições de acolhimento para pessoas com deficiência. “Na verdade, muitas vezes as instituições asilares estabelecem entre si um sistema contínuo de reencaminhamento e institucionalização”, afirma. “O objetivo desta publicação é denunciar e tornar públicas práticas que desrespeitam os direitos das crianças e adolescentes para que a sociedade, a academia e o estado consigam discutir, enfrentar e superar estas violações”.
Sobre Flávia Blikstein
Nascida em São Paulo, em 1983, Flávia Blikstein é psicóloga atuante no campo da Saúde Mental há vinte anos. Tem mestrado em Psicologia Social pela PUC-SP e doutorado em Saúde Pública pela USP. Atua como docente e coordenadora adjunta no curso de Psicologia na Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pesquisadora e integrante do Laboratório de Saúde Mental Coletiva (LASAMEC/FSP-USP). Desenvolve intervenções e pesquisas nas áreas da infância e adolescência, direitos humanos e saúde pública.