Livro resgata genealogia da família Sousa Lobo

08 junho 2015 às 11h54

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Médico Paulo de Tarso Lira Gouvêa desvenda história da própria família, em livro que será lançado nesta quinta-feira (11/6), no Oscar Niemeyer

Alexandre Parrode
Ao iniciar há 26 anos as pesquisas sobre um ramo de suas origens, o médico pediatra Paulo de Tarso Lira Gouvêa foi desvendando sua própria saga familiar e também muito da história de Goiás. O resultado desse trabalho de fôlego, interrompido por razões profissionais e retomado há 13 anos, é o livro Caçador de Lobos (Editora Kelps, 545 páginas), que reconstitui a saga da família Sousa Lobo de Goiás-Brasil ao longo dos séculos, relacionando 8.891 nomes e ilustrado com 651 fotos. A obra tem prefácio do compositor, produtor, arranjador e advogado José Eduardo Morais e é apresentada pelos escritores Edival Lourenço e Geraldo Coelho Vaz.
O autor explica que voltou sua atenção para a família Sousa Lobo, e não para a Paes Gouveia do seu sobrenome, por amor à sua avó Iria e pelo contato mais estreito com os parentes dela. “E eu, mesmo não sabendo na época que essa família teve governadores, prefeitos, deputados, senadores, ministro de Estado, generais e outros, sentia um cheiro de História e acertei no escuro”, comenta. Todos descendentes do genearca Luís de Sousa Lobo, ou Lobo de Sousa, guarda-mor que por volta de 1760 veio fiscalizar a produção de ouro em Santa Cruz.
Nascido em 1738 na freguesia de Santa Maria do Outeiro, em Portugal, Luís casou-se no Brasil com Margarida Pontes de Andrade, de Guaratinguetá (SP), pertencente a tradicionais famílias paulistanas, o que favoreceu a pesquisa de ancestrais dos Sousas Lobo de Goiás ligados a essas famílias. Do esquema genealógico inicial de Margarida constam sobrenomes importantes, alguns de conhecidos bandeirantes: Lems (Leme), Dias, Raposo, Andrade, Góes, Feijó. Também é dessa procedência Bartolomeu Bueno da Silva, o Anhanguera.
De raiz judaica, o nome Lobo surgiu na Espanha, de onde migrou para Portugal, onde há relatos de que a família Sousa Lobo já era antiga em 1281. Paulo de Tarso observa ser quase um milagre que, mais de sete séculos depois, o sobrenome Sousa ainda permaneça ligado ao Lobo em Portugal, na África e até na Índia, assim como em várias cidades goianas: Silvânia, Formosa, Pirenópolis… “Todos nós Sousas Lobo de Goiás temos essa mesma ascendência: sangue de índio (cacique Pikerobí), de judeus e de nobres espanhóis (rei Henrique II, duques e condes) e de nobres de outros lugares da Europa.” E também de gente simples, acrescenta, pessoas às quais é impossível remontar devido à ausência de registro dos filhos por questões econômicas e culturais.
No Brasil, Paulo de Tarso deparou-se com muitos ilustres da família Sousa Lobo. Alguns exemplos: escritor Bernardo Élis, nascido em Corumbá e descendente dos Lobos de Pirenópolis; Antônio Americano do Brasil, médico, jornalista e deputado nascido em Bonfim (Silvânia) e autor do projeto de lei para lançamento da pedra fundamental de Brasília; Marechal Braz Abrantes, que governou Goiás, foi senador e comandante militar no Pará; o brigadeiro Bernardo de Sousa Lobo, mandado ao Grão-Pará como governador para sufocar a Revolta da Cabanagem; o tenente-brigadeiro Lélio Viana Lobo, que foi ministro da Aeronáutica nos governos de Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso; o coronel Joaquim Lúcio, hoje nome de praça em Campinas, bairro de Goiânia; José Sêneca Lobo, escritor e homem público.
A importância da família de Joaquim Lúcio na mudança da capital para Goiânia é lembrada. Coube ao filho do coronel, José do Egyto Tavares, a pedido do cunhado Licardino de Oliveira Ney, então prefeito da pequena Campinas e casado com Maria Tavares de Morais, redigir um abaixo-assinado que ganhou a adesão de 28 prefeitos, pedindo a transferência da capital para a velha Campininha. A ideia foi bem recebida pelo governador, dr. Pedro Ludovico Teixeira. Os sobrenomes dos Tavares e dos Sousa Lobo estão presentes também na fundação de Vianópolis e de Pires do Rio. No livro é lembrado ainda o episódio em Jataí, onde o jovem goiano Antônio Soares Neto, o Tuniquinho, perguntou ao candidato a presidente Juscelino Kubitschek se, caso eleito, cumpriria a promessa de transferir a capital para Goiás. A resposta: “sim”. Outra passagem lembrada é a da influência da bela Dona Bêja no episódio em que Goiás perdeu parte de seu território para Minas Gerais (Triângulo Mineiro).

Causos e perfis
Também Sousa Lobo, José Eduardo Morais atesta no prefácio: “Nesse livro precioso, os leitores encontrarão dezenas de histórias e estórias, para quebrar a aridez da simples relação de nomes e nomes, de perfis da imensa família Sousa Lobo. Dr. Paulo resgata fatos familiares que se perderiam com o tempo, além de informações novas, por exemplo, sobre a passagem da Coluna Prestes pelo Estado de Goiás e a chegada da Reforma Protestante em nossas cidades.”
As pesquisas foram feitas em cartórios e assentamentos da Igreja de Formosa, Vianópolis, Santa Cruz de Goiás, Ipameri, Guaratinguetá (SP) e Braga (Portugal). Foram cerca de 200 entrevistas em 20 cidades de Goiás e também em São Paulo e Minas Gerais, além de Brasília e Cuiabá (MT). Como referência, são citados historiadores e genealogistas goianos, entre os quais Americano do Brasil, Jarbas Jayme e seu filho José Sizenando Jayme, Geraldo Coelho Vaz, Jacy Siqueira, Humberto Crispim Borges e Maria Helena de Amorim. “O entrelaçamento entre as famílias já estudadas e a família Sousa Lobo é impressionante”, nota José Eduardo. Muitas famílias se verão retratadas no livro, como as que derivam dos Sousa Lobo de Goiás, a exemplo dos Tavares, Umbelino, Caetano, Gouvêa, Caixeta, e a eles são estreitamente ligadas, caso dos Rodrigues de Morais, o que por sua vez abrange diversos municípios.
Os causos e memórias constituem um dos maiores atrativos da obra. Ao narrar o que presenciou ou ouviu nas muitas entrevistas com membros da família, o autor mantém o ritmo envolvente da boa prosa interiorana, que emociona e provoca risadas. São relatos de trabalho, festas e solidariedade, de dignidade e fé, mas também de traições e tragédias, doenças avassaladoras, sofrimentos causados pela crueldade do preconceito, mortes terríveis, como uma por ataque de abelhas. Chama atenção o grande número de casamentos entre parentes: primos, tios e sobrinhas, cunhados.
Impossível citar todas as figuras interessantes registradas no livro, mas vale mencionar algumas. Francisco de Sousa Lobo (1890-1942), natural de Santa Cruz e que mudou-se em 1923 para Pires do Rio, onde abriu o Cine Helena, ou seja, foi pioneiro no cinema. A professora Biluca, Maria de Sousa Lobo (1919-2007), também de Pires do Rio, “mulher à frente do seu tempo”, que ao adquirir um fogão com defeito não se intimidou diante da descrença geral na sua reclamação em carta ao presidente da então famosa marca Continental, que enviou representante a fim de solucionar o problema da consciente consumidora. José Caetano de Sousa, o “Zé Carreiro”, nascido em 1936, dono de boiada carreira amarela que marcou época na região do Rio do Peixe, e grande colaborador nas pesquisas sobre sua família. Geraldo Ferreira Guimarães, o “Gambirão”, que fazia traquinagens descritas em livros que publicou e guardam momentos inesquecíveis para quem com ele conviveu em Vianópolis.
O autor
Paulo de Tarso Lira Gouvêa nasceu em 15 de abril de 1945 e foi criado na Fazenda São Pedro, perto do Engenho Velho, hoje em Vianópolis, mas na época distrito de Silvânia. Além de médico pediatra e genealogista, “é prosador, poeta, historiador, geógrafo, músico, sociólogo, artista plástico e conservacionista ambiental”, como destaca o escritor Edival Lourenço.
No livro, Paulo de Tarso resgata brincadeiras e canções infantis e registra suas próprias composições. Ao se retratar entre os Sousa Lobo, conta ter fundado a Imobiliária Lira Gouvêa; organizado o Viveiro Mundo Verde; desenvolvido uma técnica artística (desenho a lápis sobre madeira) que ensinou no Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti) em Leopoldo de Bulhões, Bonfinópolis e Silvânia; trabalhado durante quase 30 anos com gado leiteiro; se casado três vezes e ser pai de cinco filhos. Paulo diz que tem paixão pelo solo e por animais e que vive hoje na roça, de onde avista ao longe os prédios de Goiânia e Aparecida, “ouvindo as seriemas e perdizes cantarem, e dando comida na mão dos guaribas, protegendo alguns bichinhos…”
Opiniões desse defensor do meio ambiente sobre política, costumes (com direito a um “pequeno dicionário do goianês”), comportamento, saúde, meio ambiente, cultura e religião também compõem seu livro. Segundo ele, a intenção foi focalizar, “com certa dose de humor e irreverência”, fatos e coisas do passado em comparação com o presente. Procurou, esclarece, “ater-se à verdade, mesmo que isso desagrade a ‘gregos e troianos'”. Portanto, nenhuma concessão ao discurso politicamente correto, o que já fica claro na epígrafe: “Para criar inimgos não é necessário declarar guerra, basta dizer o que pensa.” (Martin Luther King, pastor).
Serviço
Lançamento do livro “Caçador de Lobos” — A saga da Família Sousa Lobo de Goiás-Brasil pelos séculos (Editora Kelps, 2014, 545 págs.)
Autor: Paulo de Tarso Lira Gouvêa
Data: 11 de junho, às 19 horas
Local: Terraço do Centro Cultural Oscar Niemeyer