Soninha Santos

Especial para o Jornal Opção

“As Onças de Krumaré”, livro de Yêda Marquez (Editora Cânone, 44 páginas), surpreende já na capa: um cocar que se solta e pode ser tanto adereço da cabeça do personagem ilustrado quanto usado pelo leitor ou leitora na própria cabeça.

A edição, diagramação e ilustração não só adornam e embelezam o texto como o complementam. Atuam como um eco poético à narrativa.

Ilustração de Polly Duarte

“As Onças de Krumaré” não é só uma entre as muitas lendas indígenas difundidas no Brasil. A história se faz bonita e interessante pela melancolia e pela tristeza que preenche um pedaço talvez vazio de quem a lê.

Contudo, o texto remete ao descaso com que natureza e povos originários têm sido tratados no país e não se fala de preservação ambiental sem falar da necessidade da preservação dessas comunidades.

Quem lê essa história até o final, quem silencia tudo ao redor para absorver a grandeza das ilustrações pode, com certeza, sair dela uma pessoa melhor, pelo menos mais consciente dos seus deveres de cidadão e mais pleno da ideia de que, se a gente preserva, a gente guarda para ter depois.

Yêda Márquez: uma das mais importantes autoras de livros infanto-juvenis do Brasil | Foto: Facebook com montagem do Jornal Opção

Ser pertencente ao povo original das nossas terras tem se tornado cada dia mais difícil é isso acontece há mais de 500 anos, desde o dia em os primeiros colonizadores por aqui chegaram e assim, sem mais nem menos, pensaram que esse “mundão de meu deus” fosse deles. E ser onça também é difícil por aqui, nesta vastidão sem fim… não deveria ser.

O livro, escrito com a certeza de quem consegue contar bem uma história, tem sua narrativa complementada, como já foi salientado, pelas belíssimas ilustrações de Polly Duarte. Com um traço certeiro, as imagens conversam entre si e o que as leitoras e leitores ganham é uma exposição literal de pura poesia escrita e desenhada de um pedacinho de quem nós somos, uma parte de nossa identidade.

Ilustração de Polly Duarte

Quem gosta de histórias com a temática indígena não pode deixar este livro na estante. Ele deve ser lido e apresentado para que sentimentos como amizade, compaixão, confiança e sensibilidade sejam cada vez mais aprendidos e justificados nesse mundo onde cada vez mais o que vislumbramos, são sentimentos contrários.

Cuidar da natureza é cuidar da nossa vida e do futuro da humanidade. Querendo entender tudo isso um pouquinho mais, “As Onças de Krumaré” é uma dica de ouro. Confira por si mesmo. E, como disse um sábio brasileiro, “livro não enguiça”.

Soninha Santos é crítica literária especializada em livros infanto-juvenis. É colaboradora do Jornal Opção.