Virtualidade tem campo amplo de experimentalismo literário e reconfigura comportamento do leitor, mas ainda não tem perfil ou regras

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A leitura é fator intrínseco na navegação pela internet e, apesar de ser direcionada aos textos rápidos e objetivos, a virtualização dos hábitos também alcançou a produção literária, que encontrou novos formatos e preços nos e-books (Electronic Books) e popularizou plataformas como o Wattpad.

Dados do Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (IBOPE) de 2016 apontaram que 63% dos internautas leem livros online. Esse comportamento, diferente do pós-Gutenberg, transforma mais que o modo de produção, reflete na prática intelectual, ou seja, a desmaterialização do livro (enquanto objeto de papel e tinta) e sua passagem para o campo do virtual, o que afeta o leitor no que diz respeito ao sistema cognitivo.

A leitura virtual promove uma perda na necessidade de aprender ou memorizar, já que os mecanismos de busca estão disponíveis e a informação pode ser acessada com palavras-chave, o que dificulta a associação com o contexto no qual está inserido. Além disso, há o deficit na concentração, causado pela repetição da leitura fragmentada.

O fenômeno da leitura virtualizada recebe o nome de “ciberliteratura”, caracterizada por métodos combinatórios, multimidiáticos e interativos. O historiador francês Robert Chartier apontou em “A​ ​aventura​ ​do​ ​livro:​ do leitor ao navegador” que justamente essas ferramentas são responsáveis pela fragmentação textual.

Para Chartier, a infinitude de possibilidades tecnológicas permite o desenvolvimento criativo e a transgressão das estruturas textuais clássicas, o que viabiliza experimentações no campo da leitura e da produção literária. No entanto, as mensagens curtas, notícias rápidas, textos em linguagem informal repletos de emojis e emoticons, reflete negativamente na concentração durante uma leitura linear demorada, pois o cérebro se acostuma com a velocidade e as conexões.

A virtualidade apresenta um campo amplo de experimentalismo literário e reconfigura o comportamento do leitor, mas ainda não tem perfil ou regras, o que afeta a credibilidade e divide o público.