Honoráveis Forasteiros III: marca holandesa na música goiana; a trajetória de Jean François Douliez

09 maio 2024 às 12h59

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Esta é a terceira reportagem de uma série especial intitulada “Honoráveis Forasteiros” sobre personalidades estrangeiras que fizeram história e contribuíram com Goiás.
Jean François Douliez, naturalizado no Brasil como João Francisco Douliez do Araguaia, foi um compositor belga que marcou a história da música goiana. Para além da composição, Douliez atuou como arranjador, intérprete, maestro e professor.
Em Goiânia, Douliez colaborou com a criação do Quarteto de Cordas da Orquestra da Câmara da Alvorada, da Orquestra Sinfônica Feminina, da Orquestra Sinfônica de Goiás, e também trabalhou para a inclusão do Conservatório Goiano de Música na UFG, que posteriormente se tornaria a atual Escola de Música e Artes Cênicas (Emac) da Universidade.
História
Jean François Douliez nasceu em Hasselt, na Bélgica, em 16 de março de 1903. Como sua mãe e seu pai eram, respectivamente, pianista e músico do primeiro regimento do Exército de Hasselt, iniciou sua educação musical na infância.
As formações primária e secundária tradicionais foram concluídas em 1916, ainda em Hasselt. Ao mesmo tempo, se dedicava à música na Escola Municipal Interdiocesana Liburguesa de Música Sacra. Alí, teve os primeiros contatos com piano, órgão, canto gregoriano e latim. No Conservatório de Música de Hasselt vieram os estudos em harmonia e teoria musical.
Em 1922, foi diplomado com grande distinção no Conservatório de Música Real Flamengo de Antuérpia. Nessa instituição, Douliez realizou estudos superiores em violino, harmonia, contraponto, fuga, composição, música de câmara, canto coral, violoncelo, regência, piano de acompanhamento e história.
Entre 1927 e 1928, foi a Paris aperfeiçoar os estudos em violino, composição musical e música de câmara com os mestres Vincent d’Indy e Lucien Capet. Durante os estudos na França, o músico desenvolveu amizade com o brasileiro Heitor Villa-Lobos, que posteriormente seria um contato em sua vida brasileira. Ao retornar para Bélgica, se tornou professor de Música do Ensino Oficial do grau superior.
Após atuar como oficial do serviço especial na Segunda Guerra Mundial (sua patente era de capitão da reserva), Douliez estreitou seus laços com o governo belga. Em 1946, um ano após o fim do conflito global, o músico foi enviado em missão cultural ao Brasil com o propósito de divulgar a música de seu país de origem e estudar a música brasileira.
Legado
No Brasil, Douliez passou pelo Rio de Janeiro, Minas Gerais e Goiás, contribuindo consideravelmente na configuração cultural dessas regiões.
Em outubro de 1949, o músico vai para Belo Horizonte. Lá, participou da fundação da Escola de Formação Musical do Departamento de Instrução da Polícia Militar de Minas Gerais (DIPM-MG), da Orquestra Sinfônica e Coro Orfeônico da Polícia Militar de Minas Gerais.
Em outubro de 1954, o maestro vem a Goiânia e pouco tempo depois aceita a missão de fundar o Instituto de Música da Escola Goiana de Belas Artes (IMEGBA). Para além das funções ligadas à música que assumiu, Douliez eventualmente se tornou colaborador do jornal O 4° Poder, assinando a coluna ‘Música’.
Em 1961, já após ter contribuído para o desenvolvimento da cultura musical goiana, Douliez é naturalizado como cidadão brasileiro e passa a se chamar João Francisco Douliez do Araguaia. Ainda morando em Goiânia, casou-se com a senhora Yolande Goes.
Com o desenvolvimento do governo que se instaurou após o Golpe Militar de 1964 no Brasil, Douliez do Araguaia decidiu voluntariamente deixar o Brasil. Seu retorno para a Bélgica aconteceu 17 anos após sua chegada à terra tupiniquim.
De volta a sua terra natal, ele continuou se dedicando à música. Foi maestro em várias orquestras e fundou a Orquestra de Estudo da Sinfonia de Gent, em 1981. O envolvimento com a universidade também o seguiu na Europa.
João Francisco Douliez do Araguaia faleceu no dia 9 de outubro de 1987 em Bruxelas.
Acervo
Ao deixar o Brasil, o maestro doou seu acervo com cerca de 660 obras à UFG. Hoje, esse material se encontra disponível no Laboratório de Música (LabMus).
Uma outra fonte sobre a vida de obra de um dos maiores expoentes da música goiana é o trabalho da pesquisadora Marcia Terezinha Brunatto Bittencourt. Clicando aqui, você acessa a dissertação de mestrado ‘A Presença de Jean François Douliez na Música em Goiás’, defendida junto à EMAC, com orientação da professora Dra. Glacy Antunes de Oliveira.