Carlos Willian Leite

Segundo livro lido em 2025: “Quem Pode Amar é Feliz” (Record, 408 páginas, tradução de Luiz Montez), de Hermann Hesse.

O escritor alemão Hermann Hesse (1877-1962), Nobel de Literatura, transcendeu o papel de escritor. Para muitos, especialmente durante as décadas de 1960 e 1970, tornou-se um guia filosófico e emocional. Livros como “O Lobo da Estepe”, “O Jogo das Contas de Vidro” e “Demian” tornaram-se marcos (e até guias) culturais para uma geração em busca de sentido em tempos de transformação (ele chegou a escrever um romance sobre Buda). Nesta antologia, estão reunidas reflexões sobre o amor em suas múltiplas dimensões, por meio de prosa, poesia, contos, ensaios e aforismos.

Hermann Hesse: um dos mais importantes escritores alemães do século 20 | Foto: Reprodução

Os textos de “Quem Pode Amar é Feliz” traçam um panorama abrangente do amor, dividindo-o em três vertentes: o amor adolescente, com suas primeiras descobertas e desencontros; o amor maduro, quando desejo e sabedoria coexistem; e o amor universal, direcionado à humanidade e às coisas do mundo. A coletânea explora afetos delicados, beijos furtivos, desilusões inevitáveis e a busca por amores perdidos, ressaltando a impossibilidade de reviver o passado. Hesse nos lembra que o que muitas vezes buscamos não é o outro, mas o tempo que ficou para trás, uma busca tão nostálgica quanto inalcançável.

A paisagem da mítica Floresta Negra, região de grande simbolismo no sudoeste da Alemanha, é o cenário de muitas dessas histórias. Ela funciona quase como um personagem, ecoando a profundidade emocional e a espiritualidade presentes na escrita de Hesse. Enquanto algumas narrativas são como pequenos diamantes, outras parecem apenas completar o conjunto, cumprindo um papel mais modesto. A poesia, por vezes criticada pelo próprio autor, pode soar menos envolvente e até enfadonha, mas ainda assim carrega alguma força contemplativa.

Embora heterogênea, a coletânea não decepciona. Pelo contrário, oferece uma visão singular do amor sob o olhar de um dos maiores escritores do século 20. Hesse nos guia por um percurso introspectivo, onde cada texto é uma oportunidade de reflexão sobre a essência do amar, o desapego e a busca por significados mais profundos. “Quem Pode Amar é Feliz” não apenas reforça o legado de Hesse como um autor atemporal, mas também nos convida a redescobrir o amor como força transformadora. Sim, vale ler.

Nota: 8