Há 21 anos, Foo Fighters lançava seu primeiro disco
04 julho 2016 às 23h22
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Álbum homônimo é na verdade uma gravação feita por Dave Grohl, que depois montou uma banda para tocar as canções ao vivo
O dia 4 de julho para os Estados Unidos é uma data mais do que importante. É nela que o país comemora a proclamação da independência, que aconteceu em 1776. Coincidência ou não, 219 anos depois foi lançado, na mesma data, o disco Foo Fighters, do então último baterista da extinta banda Nirvana, Dave Grohl.
O disco completa nesta segunda-feira (4/7) 21 anos de lançamento. Todas as 12 músicas foram gravadas em sete dias, entre os dias 17 e 23 de outubro de 1994, no Robert Lang Studios, em Seattle, no Estado de Washington, nos Estados Unidos.
Dave Grohl, então conhecido por ser o baterista do Nirvana, havia desistido da música depois que, em 8 de abril de 1994, o corpo do vocalista Kurt Cobain foi encontrado após sua morte em 5 de abril daquele ano na casa em que o homem de frente do Nirvana morava, na cidade de Seattle.
Mas depois de seis meses de hiato, após alguns convites, um deles para se tornar o baterista da banda Tom Petty and The Heartbreakes, Dave Grohl resolveu entrar no estúdio do amigo e produtor Barrett Jones e gravar sozinho os vocais, baixos, guitarras e baterias de algumas das músicas dele que compôs enquanto estava no Nirvana.
Parte dessa história é contada nos documentários Back and Forth (2011) e na série da HBO Sonic Highways, que acompanhou a gravação do oitavo disco de estúdio do Foo Fighters em 2014. Algumas dessas sessões, como a da canção nunca lançada Hooker, Dave sente vergonha até hoje.
Ainda imaturo na composição de letras, ele assumiu a guitarra e os vocais depois de escolher 12 dessas gravações e lançar em uma fita cassete na qual botou o nome Foo Fighters para não ser identificado como “a banda nova do baterista do Nirvana”, o que foi inevitável de acontecer em 1995, quando o disco foi lançado pela Capitol Records e pela Roswell Records.
Depois do lançamento do single This Is A Call, primeira música do álbum, no dia 19 de junho de 1995, o disco saiu no mercado em 4 de julho do mesmo ano. Dele saíram outros quatro singles (I’ll Stick Around, For All The Cows, Big Me e Alone + Easy Target) e os videoclipes de I’ll Stick Around e Big Me.
Os videoclipes, inclusive, são uma marca registrada do Foo Fighters, quase todos recheados de muito humor. I’ll Stick Around é o primeiro da carreira da banda, mas foi Big Me, com uma paródia dos comerciais das balas Mentos, que se tornou o início da palhaçada audiovisual do grupo.
Para tocar as músicas que havia gravado, Dave Grohl chamou o guitarrista do The Germs e Nirvana Pat Smear, que morava em 1994 em Los Angeles, na Califórnia. Além de Pat Smear, Dave gostou muito de uma banda que conheceu no último show deles, a Sunny Day Real Estate, da qual convidou o baixista Nate Mendel e o baterista William Goldsmith para formarem o Foo Fighters.
Da gravação que se tornou o primeiro disco do Foo Fighters, apenas na música X-Static tem participação nas guitarras de Greg Dulli, da banda The Afghan Whigs. O nome Foo Fighters é uma descrição de fenômenos aéreos misteriosos descritos por pilotos da Segunda Guerra Mundial, geralmente relacionados a Objetos Voadores Não Identificados (Ovnis).
O disco
This Is A Call é o início de um disco que talvez seja muito diferente do que a banda faz atualmente. Uma música mais enérgica, que mostrava que o Foo Fighters era o reflexo de um garoto de 25 anos, quando o álbum foi gravado, que tinha pensado em largar a música ao ver Kurt Cobain morrer no auge do Nirvana.
Tanto que das músicas que estão no disco Foo Fighters, This Is A Call é uma das quatro que foram compostas depois da morte de Kurt Cobains, junto com Wattershed, I’ll Stick Around e X-Static, todas mais agressivas. E parte do refrão marca isso: “This is a call to all my/Past resignations/It’s been too long (Esse é um chamado para todas as minhas/Renúncias passadas/Que têm sido longas)”.
I’ll Stick Around, a segunda do disco, é outra porrada na orelha que dá até saudade. Foi a primeira música do Foo Fighters que eu ouvi quando o videoclipe estreou na MTV Brasil em 1995. Eu era só um garoto de 10 anos que tentava absorver o que aparecia de novidade na música pela televisão.
Em seguida vem a calma balada Big Me, que é arrebatadora. Não tocou no show do Morumbi (SP), em janeiro de 2015, mas no Mineirão (MG) e Maracanã (RJ) ela fez a festa de muita gente. O videoclipe é um dos melhores da banda.
Alone + Easy Target é outra demonstração de um ainda cru, mas certeiro, Dave Grohl nas composições e melodias. As baterias continuavam a ser uma marca forte das músicas dele, mas a guitarra já ganhava grande destaque. “Did you ever listen?/Did you ever listen?/Did you ever listen?/Get out/Get out/Get out/Get out (Você já ouviu alguma vez?/Você já ouviu alguma vez? Você já ouviu alguma vez?/Caia fora/Caia fora/Caia fora).”
Good Grief, ignorada por muitos, divide, na minha opinião, com Wattershed o título de melhor música do Foo Fighters. Uma canção bem marcada, que não perde em nada a agressividade, e mostra que a gente podia mesmo esperar muito da banda.
A primeira sequência de três músicas do disco, na qual vinha um início com duas canções mais agressivas, This Is A Call e I’ll Stick Around, e uma acalmada no álbum com a balada Big Me, mantém a lógica em seguida.
A gravação segue a mesma lógica com Alone + Easy Target e Good Grief no alto da energia forte e depois uma leve acalmada com Floaty, que não chega a ser das mais calmas, mas reduz um pouco a pancadaria anterior. “He floats/Floats away/On the ground/He comes back down (Ele flutua/Flutua por aí/Ao chão/Ele retorna).”
A pancadaria volta quando Weenie Beenie começa. Um espancamento sequenciado da caixa, um riff marcante e efeito no vocal de Dave que dão espaço para Oh, George, que não é das mais agressivas, mas mostra uma outra face do Foo Fighters, com uso de solo de guitarra.
A nova pausa para respirar vem na cativante For All The Cows, a única com atmosfera mais acústica do disco, mas com um refrão poderoso: “My kind has all run out/As if kinds could blend/Some time if time allows/Everything worn in, everything worn in/Everything worn in like it’s a friend (Minha espécia está toda extinta/Como se espécies pudessem se misturar/Com o tempo, se o tempo permitir/Tudo se desgasta, tudo se desgasta/Tudo se desgasta como se fosse um amigo)“.
X-Static parece dar uma cara de despedida para o disco, mas a sequência é a mais do que agressiva Wattershed, que cita em sua letra a série de TV Melrose Place e a banda texana Flowerhead.
Exhausted marca um fim cansado de um disco enérgico com uma boa música que tem mais de cinco minutos. “After the bliss has long ended (Depois da felicidade tem um longo término).”
https://www.youtube.com/watch?v=44dtwM9Sjs8
Primeira turnê
Os primeiros shows, quase 200 entre 1995 e 1996, começaram com o Foo Fighters como banda de abertura da turnê de Mike Watt, com participação também do grupo Hovercraft, que tinha Eddie Vedder do Pearl Jam na formação.
Durante as gravações do disco The Colour And The Shape, entre outubro de 1996 e fevereiro de 1997, Dave Grohl não gostou das baterias gravadas por William Goldsmith e regravou todas sem avisar o músico. O fato gerou uma briga entre os dois, que é contada no documentário Back and Forth, quando Dave pediu para William continuar na banda, mas sem gravar o instrumento nos discos.
William não aceitou e saiu do Foo Fighters. Foi quando o baterista da banda de Alanis Morissette, Taylor Hawkins, topou fazer um teste e trocar a artista em alta entre 1996 e 1997 e passar a fazer parte do Foo Fighters. Mas isso é história para outro texto.
Nesta segunda, o fã-clube Foo Fighters Brasil postou o link com o áudio do primeiro show do Foo Fighters, realizado no Satyricon, em Portland, no Estado de Oregon, no dia 3 de março de 1995, que você pode conferir clicando aqui.