Fogo de Junho, de Ademir Luiz, explora questões políticas, sociais e culturais do Brasil
17 dezembro 2023 às 00h01
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Ana Christina Souza
No livro “Fogo de Junho: 20 centavos: romance de geração para geração sem romance”, Ademir Luiz fala sobre as manifestações de rua envolvendo diferentes vertentes políticas, classes sociais e gerações. A explicação do título dado ao livro, talvez, possa se resumir em: ônibus, desilusão e diferença.
Ônibus porque os “20 centavos” está relacionado ao aumento da passagem e devido a isso surge uma manifestação contra o aumento que na verdade foi mais que apenas “20 centavos” e que esse valor foi apenas para dar nome à “revolta” e se igualar aos outros lugares que sofreu a mudança; Desilusão porque fala de um romance que parecia entregar tudo, mas, que no fim pode-se dizer que temos um rumo distinto, onde uma pessoa se entrega completamente e a outra não tem o mesmo desejo/vontade; Diferença porque marca a diferença das gerações, desde a que o personagem principal José já vive e observa à seu redor, da sua própria geração à dos seus alunos.
Apesar de o livro não ser exatamente como eu imaginava, é um livro surpreendente, a vida do personagem principal José é bastante movimentada, e talvez, seja isso que acaba por aprisioná-lo a alguns rancores (como, por exemplo, do seu aluno que riscou a porta do seu fusquinha). José se casa jovem, mas a rotina do casamento se torna sem graça para ele, sua esposa, contrariada e cansada, decide ir embora (não vou aprofundar nessa história, pois irá prolongar um pouco demais essa resenha), deixando-o sozinho. Este livro, de certo, é uma ficção carregada de muitas realidades – da sociedade brasileira.
José (ou apenas Zé) possui algo especial que nos leva aos eventos que ocorrem em sua vida. As jornadas de junho são capazes de prender o leitor sem justificativa. Narrando sobre as questões políticas, sociais e culturais, o autor permite-nos ver o personagem dentro desses aspectos de forma compreensível e de fácil entendimento um pouco do que ocorria no ano de 2013 no Brasil em questões políticas.
Carregado de ironia e humor, este livro com certeza fará qualquer leitor com o mínimo de espírito soltar uma ou outra risada. O termo “geração” é casualmente o que mais edifica a obra, pois leva em conta os momentos em que nas multidões de pessoas se percebe a diferença no comportamento dos jovens, seja, um estilo novo de vestir, uma falta de altivez ( um estresse evidentemente não apenas individual, mas social) , e também, uma tristeza estampada entremeio às multidões, ou, enfim, uma invisibilidade de esperança nos jovens.
Concluo que este é um livro importante em todos os seus parâmetros e que todas as questões trazidas são muito bem tratadas. Meu maior interesse, posso assim dizer, além da política, é o encontro de gerações, apesar de os dois juntos no fim das contas, levar completamente a questão social. É evidente que o título “romance de geração para geração sem romance” é perfeitamente adequado à obra e que a sociedade atual pode-se enquadrar a tal reflexão.
Ana Christina Souza é acadêmica de História da Universidade Estadual de Goiás (UEG).