As minhas flores, plantadas

(vermelhas, preocupadas)

Lá no fundo do quintal,

Me falam de corpo em maca,

Marcado de medo e taca,

Na terra do Carnaval.

No ritmo do samba quente,

Como num bater de dentes,

Elas tremem sem cessar.

São flores encabuladas, sensíveis, indignadas

Pelo próprio tremular.

Me fazem sentir no lombo

A dor primeira do tombo

(a rateira no “porão”)

Enquanto a folia, lá fora,

Envolve a gente que chora

A dura falta do pão.

A lembrar que meu recado,

Por inteiro não foi dado,

Faltando o grito fatal,

Alertam para o momento

De entoar a todo o vento

Do gentio a voz geral.

Na terra da batucada,

Do homem da goleada,

Querem ver um ir e vir

Que o corpo se erga da maca

E destrua medo e taca

E deixe a gente sorrir.

Chegará o fim da era,

Da vida sem primavera,

Do lombo ardendo em sal.

Virá um tempo diferente,

Aos olhos de toda a gente…

E pras flores no quintal.

Wilmar Alves foi um jornalista do Estado de Goiás, que enfrentou com coragem as restrições impostas na comunicação durante aquele período. Esse poema foi escrito durante a ditadura militar, enquanto preso político do Cepaigo, em 1975.

Ele foi casado com a jornalista Nonô Noleto, que se orgulha de ter sido a primeira mulher a trabalhar na redação do O Popular. Ela também ocupou o cargo de editora-chefe responsável pela estreia do primeiro telejornal da TV Brasil Central, veículo estatal do Governo do Estado de Goiás, onde atuou como produtora, editora e, posteriormente, diretora-geral.

*O poema acima foi retirado do livro (também chamado de) Flores no Quintal, escrito por sua esposa, Nonô Noleto

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