Flores no Quintal
06 março 2024 às 15h04
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As minhas flores, plantadas
(vermelhas, preocupadas)
Lá no fundo do quintal,
Me falam de corpo em maca,
Marcado de medo e taca,
Na terra do Carnaval.
No ritmo do samba quente,
Como num bater de dentes,
Elas tremem sem cessar.
São flores encabuladas, sensíveis, indignadas
Pelo próprio tremular.
Me fazem sentir no lombo
A dor primeira do tombo
(a rateira no “porão”)
Enquanto a folia, lá fora,
Envolve a gente que chora
A dura falta do pão.
A lembrar que meu recado,
Por inteiro não foi dado,
Faltando o grito fatal,
Alertam para o momento
De entoar a todo o vento
Do gentio a voz geral.
Na terra da batucada,
Do homem da goleada,
Querem ver um ir e vir
Que o corpo se erga da maca
E destrua medo e taca
E deixe a gente sorrir.
Chegará o fim da era,
Da vida sem primavera,
Do lombo ardendo em sal.
Virá um tempo diferente,
Aos olhos de toda a gente…
E pras flores no quintal.
Wilmar Alves foi um jornalista do Estado de Goiás, que enfrentou com coragem as restrições impostas na comunicação durante aquele período. Esse poema foi escrito durante a ditadura militar, enquanto preso político do Cepaigo, em 1975.
Ele foi casado com a jornalista Nonô Noleto, que se orgulha de ter sido a primeira mulher a trabalhar na redação do O Popular. Ela também ocupou o cargo de editora-chefe responsável pela estreia do primeiro telejornal da TV Brasil Central, veículo estatal do Governo do Estado de Goiás, onde atuou como produtora, editora e, posteriormente, diretora-geral.
*O poema acima foi retirado do livro (também chamado de) Flores no Quintal, escrito por sua esposa, Nonô Noleto
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