Em comemoração ao Dia das Crianças, o Jornal Opção convidou escritores ou, mais especificamente, seus filhos a escreverem pequenos contos e ilustrarem suas super ideias – que já adiantando, são para lá de inventivas. O resultado é um passaporte para o mais rico mundo da imaginação.

Yago Rodrigues Alvim

Sabe aquela história de “filho de peixe, peixinho é”? Na literatura, há alguns casos em que essa máxima se confirma. O escritor gaúcho Luis Fernando Verissimo, por exemplo, é filho de Erico Verissimo, autor de clássicos como “O Tempo e o Vento” e “Olhai os Lírios do Campo”. Célebre por seu olhar poético sobre o cotidiano, o múltiplo Fabrício Carpinejar é filho do também poeta Carlos Nejar. Já dois mestres do conto contemporâneo, Antônio Carlos Viana e Sérgio Sant’Anna, são pais de André Viana e André Sant’Anna, respectivamente.

Na literatura internacional, há também escritores que seguiram à risca os passos dos pais. Os dois filhos do Nobel de Literatura John Steinbeck tornaram-se escritores. David Updike, autor e ilustrador de livro infantil, é filho do vencedor do prêmio Pulitzer, John Updike. Ao passo que o rei do terror, Stephen King, emprestou alguns de seus monstros para os romances e os contos do filho Joe Hill. Mas e agora quais serão os escritores que, no futuro, trilharão os mesmos caminhos dos pais? A gente já tem uma ideia.

A casa brilhante no fim da rua escura

Arquivo pessoal
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Na cidade, não havia luz elétrica. As ruas eram aquecidas por lampiões. O que nem sempre funcionava. A rua mais escura de todas tinha um nome esquisito: Rua Encurvada Para Dentro. O mais esquisito nem era o nome da rua, mas uma das casas que existia ali: diferente de todas as outras, era um pontinho brilhante no breu. Quem morava na casa? Uma senhora de 220 anos! Ela vivia sozinha. Todo dia saía com uma sacolinha –– o que tinha dentro? Nem pensem que eram moedas de ouro. Eram quase isso. A senhora escrevia histórias e, de porta em porta, saía para ensinar as crianças do povoado a ler –– usava as suas próprias criações, que eram contos de fada diferentes, que nunca antes ninguém conheceu. Na sacolinha, então, ela carregava as histórias. Mas por que de noite sua casa ficava brilhante? Ah, não há mistério nenhum nisso. A casa dela ficava brilhante, um pontinho de luz no breu, porque era nesta hora tardia que ela se sentava em sua mesinha e escrevia histórias. Por algum motivo não explicado ainda –– e aí está o mistério –– as palavras da senhora brilhavam na escuridão.

Amelie Nina, 11 anos, e Anne Nina, 9 anos, são filhas de Claudia Nina.

Os sapatos mágicos

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Era dia de escola. Fred calçou os sapatos e sentiu cócegas. Ele bateu o pé três vezes e os sapatos começaram a voar levando Fred junto. De repente, Fred estava voando e lá de cima ele viu sua tigela de mingau ainda cheia!

Fred foi parar em Dragolândia, um lugar com árvores marrons, já que o fogo dos dragões queimava o verde delas. O bom de ter os sapatos mágicos em Dragolândia era que ele voava e não precisava pisar no chão que queimava muito.

Um dragão viu Fred e soprou fogo nele. Fred teve medo e bateu os pés para sair de lá. Bateu com tanta força que os sapatos o levaram dali para um alagado onde morava um monstro aquático. No meio de tanta água, os sapatos mágicos estragaram. Fred quis ir embora de lá e bateu os sapatos no chão, mas eles não voavam mais. Fred correu pra tentar achar o caminho de casa. Correu tanto que se cansou e deitou-se na grama para tirar um cochilo. Sonhou com um monstro aquático e um dragão. Quando acordou, ele olhou pros lados e não acreditou: ele estava na sua cama!

Levantou-se e foi terminar a tigela de mingau, ainda cheia.

Amelie Vidal Neves Hallam, 6 anos, é filha de Nara Vidal.

O prédio mais alto do mundo

Flavio Izhaki Desenho Anita

Do lado da minha casa, estão cons­truindo o prédio mais alto do mundo.

Ele é tão comprido que, à noite, beija as pernas das estrelas.

Só que antes, lá era um parque de dinossauros.

O meu amigo Darinho sabe tudo de dinossauros. E ele me contou que tem um cantinho da Terra que ainda tem dinossauros: os fósseis.

Daqui a muitos anos, tenho certeza que vão achar muitos fósseis debaixo do novo prédio.

Anita Viana Izhaki, quase 4 anos, é filha de Flávio Izhaki.

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Monstro friorento

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Alessandro Garcia_JoaoÀ procura da sua lanterna, João Baguinha foi olhar embaixo da cama. No escuro, viu uma luz amarela: mas era do olho do monstro de três cabeças.

— Ei, o que você tá fazendo aí?, perguntou João Baguinha.

— Eu estou com frio, disse o monstro.

Correndo até sua mãe, João Baguinha contou sobre o monstro com frio embaixo da sua cama. Sua mãe deu um grito muito alto. O monstro, coitado, fugiu. Com frio e assustado.
João Costa Garcia, 4 anos, é filho de Alessandro Garcia.

Meu amigo legal

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Katherine FunkeSabia, mamãe, que eu tenho um amigo todo feito de leite? De leite! Mas não por fora, só por dentro? Sim, sim! Ele mora no meu quarto. Tem braços fininhos e dorme de manhã, quando estou na escola. Ele é legal. Quando dorme, parece mais um tubarão e fica escondido debaixo da cama, para ninguém ver. É que quando ele está acordado, a gente faz muitas coisas. Daí, ele fica muito cansado, muito cansado mesmo, e se transforma em um tubarão para ninguém incomodar o sono dele. Quando eu vi esse meu amigo pela primeira vez, ele tinha entrado pela janela. Veio pelo vento, soprando ar, bem forte. Não, ele não tinha flauta, nem sabia assobiar, mamãe. Veio voando e sentou na minha cama. Apesar de ter entrado sem pedir licença, ele não é mau assim de ser mau, sabe? Não é que nem o lobo mau, não. E também não é um fantasma. Nem monstro! É só meu amigo. Ele gosta de brincar com os meus carrinhos. Às vezes, ele me acorda de noite para a gente brincar. Verdade! É muito legal, mamãe. Toda vez que eu fico com sede, ele tira um copo de leite bem gelado de dentro dele, bem do jeitinho que eu gosto!

Izak Funke Themotheo, 3 anos e 2 meses, é filho de Katherine Funke.

A gaveta dos monstrinhos

Marcia Barbieri Daniel LopesDaniel, Márcia, Sofia e João mantinham a sete chaves a gaveta do segredo. Um dia houve uma visita inesperada e esta queria abrir a gaveta. Dentro dela havia monstrinhos minúsculos; contudo, eles cresceriam, assim eles tomaram uma precaução, colocaram um cadeado de ouro maciço.

Porém, os monstrinhos foram crescendo, crescendo e crescendo e não era mais possível escondê-los. Eles se mudaram para um sítio deserto. Conforme aqueles seres foram crescendo tornaram-se membros da família.

Marcia Barbieri Daniel Lopes família

Todavia, o sítio foi tendo mais habitantes, então, eles deram uma pílula e os monstrinhos viraram humanos, mas existia um efeito colateral, o monstrinho caçula ficava muito nervoso, até que um dia ficou tão irado que queria destruir a família inteira. João foi obrigado a lutar com a armadura de libra, ele deu um golpe “Explosão do sol” e o monstrinho voltou ao normal. Por isso devemos respeitar quem é diferente, não tomar pílulas mágicas e nunca, nunca abrir nenhuma gaveta secreta.

João Gabriel Lennon Barbieri Lopes, 9 anos, é filho de Márcia Barbieri e Daniel Lopes.

Poderes de fumaça

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Renato Tardivo FotoEm uma cidade legal, com muitas praias bonitas, chegou um caminhão com quatro pessoas que tinham o poder de soltar fumaça pelas pontas dos dedos. Então, uma dessas pessoas usou o seu poder para explodir o caminhão na frente de um policial e de outro homem. Das quatro pessoas, duas fugiram –– e o policial foi atrás delas. Uma pessoa morreu e a outra ficou presa nos destroços da explosão. O homem que estava fora do caminhão viu a pessoa presa e foi tentar salvá-la. Ele conseguiu. Logo depois de a pessoa ser salva, o policial voltou sozinho. A pessoa com poderes se assustou e fez o homem que a salvou refém. E disse: “Eu tenho esses poderes e não tenho medo de usar”. Nessa hora, saiu fumaça de seus dedos e a fumaça atingiu o homem que era feito refém. Então, esse homem passou a ter os mesmos poderes. Assim, ele se libertou e começou a usar os seus poderes para fazer o bem.

João Hamilton Tardivo, 8 anos, é filho de Renato Tardivo.

O tapete que miava

André Timm GatoEra uma vez um homem que estava em sua casa. Um dia, ele ouviu um miau miau, levantou a ponta do tapete da cozinha e viu um gato que era diferente de todos os outros. Era todo colorido, do rabo até a cabeça. O homem se abaixou bem devagarzinho para ver o gato de perto, mas antes de conseguir dizer qualquer coisa, o danado saiu correndo. E o homem decidiu correr atrás. Lá fora, ele a­chou que o gato fosse ser atropelado quando atravessou a rua. Mas, ainda bem, ele deu um salto por cima do carro. E quando o homem olhou para os lados, procurando pelo bichano, nunca mais viu ele. E fim.

Sofia Timm, 5 anos, é filha de André Timm.

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Leãozinho sapeca

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Sérgio Tavares e LauraEra uma vez um leãozinho muito sapeca.

Um dia, a mamãe dele o levou para um museu de animais muito antigos.

Chegando lá, ele viu um mastodonte e pensou que era um elefante.

Aí, a mamãe dele explicou que era um animal do tempo dos homens da caverna.

No dia seguinte, o leãozinho foi para a escola e contou para seus amigos sobre o museu.

Todos gostaram e a professora decidiu levá-los no ônibus escolar.

E o leãozinho fez a maior bagunça.

Laura Batista Tavares, 5 anos, é filha de Sérgio Tavares.

A fábrica pensativa

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Paulino Júnior Vlad&PaulinoImagine só: Trabalhadores trabalhando, com fome e cansados, e pensando só em voltar para casa e bum! Das chaminés das fábricas começam a sair este pensamento em vez de fumaça preta, que chega a outros trabalhadores que também só desejam voltar para casa. Todos respiram este pensamento e bum outra vez! Todos estão em suas casas, na cama ou assistindo TV, não têm mais fome nem cansaço.

Imagine um mundo assim! Pois este é o mundo da sua imaginação.

Vlad da Silva Paulino, 8 anos, é filho de Paulino Júnior.

O rato veloz

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Mário Araújo fotoO rato estava feliz comendo seu queijo esburacado. Mas quando o gato apareceu, vindo sei lá de onde, ele ficou tão aflito que sua língua saiu pra fora e seu rabo se arrepiou de medo.
O rato saiu correndo, a toda velocidade, e logo começou a pensar se já não seria hora de o gato desistir. Passou por uma árvore, e nozes caíram na sua cabeça. Passou então pelas pegadas de um bicho, enorme, que devia ser um dinossauro muito feroz. Corria cada vez mais, com a língua pra fora, ele lambendo o vento e o vento lambendo ele. Correu tanto que saiu da página do livro e só reapareceu na página seguinte, com o rabo esticado fazendo “zump”!
De tanto correr, nosso amigo rato acabou levantando voo, saiu do mundo, e nunca mais voltou.

Pedro Araújo, 5 anos, é filho de Mário Araújo.