Em entrevista à coluna 365 Shows, fundador do festival fala sobre a programação, novidades da 19ª edição e rebate críticas ao formato do evento

Fundador e sócio do Festival Bananada, Fabrício Nobre diz que não tem mais 15 anos e que quer oferecer experiência musical de conforto ao público | Foto: Victor Souza/Moment

Na manhã de terça-feira (21/3), os organizadores das diversas ações do Festival Bananada divulgaram pelo Facebook as 99 atrações confirmadas até o momento na 19ª edição do evento, que acontece de 8 a 14 de maio em diversas casas noturnas, pubs e estúdios de Goiânia e no Centro Cultural Oscar Niemeyer (CCON). No dia seguinte, o fundador do Bananada, Fabrício Nobre, conversou com a coluna 365 Shows sobre o festival, as novidades da programação e deu detalhes inéditos sobre o que será o evento em 2017.

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Em mais de meia hora de conversa, cada um com uma cerveja na mão, Fabrício falou sobre as atrações divulgadas, justificou a repetição de nomes na programação como os da rapper curitibana Karol Conka e do cantor paulista Likiner e sua banda, Os Carmelows. Além disso, um dos três sócios do Festival Bananda explicou o novo formato do evento, que ganha um palco de música eletrônica, como será a ação de artes visuais durante o final de semana de 12 a 14 de maio no CCON.

Sobre as críticas recebidas pela internet de que o Bananda não se preocupa mais com a qualidade das atrações musicais, Fabrício foi enfático ao rebater os comentários: “Isso é uma idiotice”. A entrevista completa você confere abaixo.

Entrevista – Fabrício Nobre

Fabrício, vocês divulgaram na terça-feira (21/3) as 100 atrações musicais do Festival Bananada deste ano, que na verdade são 99.

São 92 na verdade.

São 92, mas tem artistas que vão se apresentar juntos com outros, o que aumenta essa lista.

Mas são mais do que 100 shows. Algumas bandas vão tocar mais do que uma vez.

Isso vai ser dividido como?

Igual acontece no mundo inteiro nos festivais que tem esse formato, com shows na semana toda do Bananada. É comum a banda vir, fazer um showcase em uma casa e depois tocar no final de semana na arena do festival. O Boogarins tocou nove vezes no South by Southwest (SXSW) na semana.

Aconteceu de o Lucas Manga e o El Club não serem mais apenas participantes do Bananada. O Manga se tornou sócio seu no festival. Como foi esse processo que veio de 2015 pra cá?

De 2015 pra cá a gente tem um relacionamento próximo. O El Club fez um backstage para o Bananada, duas vezes fez área profissional, camarim e essas coisas. Nos últimos dois anos eles fizeram o bar. Eu acho que mudou completamente o nosso serviço de bar. O atendimento às pessoas deu um salto muito grande e o Manga fez uma proposta para poder participar mais do evento. E eu estava querendo sangue novo no time. Foi ótimo. Conciliou com essa parte. Ele ajudou a gente com algumas coisas para esse ano e entrou para a sociedade. Agora somos eu, a Daianne (Dias) e o Manga na frente.

E tem essa coisa de o Manga ser do mercado da noite de Goiânia. Isso vai ajudar o festival de alguma forma?

Eu acho que sim. Ele entende muito de uma parte do público da cidade que gosta do Bananada, que é o público de música eletrônica, pode ser uma coisa que vá somar. Inclusive a gente vai ter um palco eletrônico, porque nós temos mais segurança para fazer isso. Porque a gente sabe que tem um especialista no negócio.

Houve uma discussão na internet, e ela sempre acontece quando se aproxima algum festival mais antigo da cidade, com a reclamação de que o Bananada caminhou para um lado que não é interessante para o cenário independente da música. Há quem diga que o festival se vendeu ao mercado. E nessa história entrou a discussão da escolha da Karol Conka. Ela se apresentou no Grito Goiânia no carnaval e menos de três meses depois a artista volta no Bananada. Por que dessa decisão de colocar a Karol Conka no festival?

A Karol Conka já estava contratada para o Bananada. O line-up do Bananada é feito com um ano de antecedência. E a gente acha que a Karol Conka tem muito a ver com o desenho do line-up que a gente fez esse ano, que é o do mais amplo e diverso possível. Tem desde a Orquestra Filarmônica até o Overfuzz, desde o Patife à Chell.

A gente tentou fazer um line-up bem diverso e é a cara do Bananada. Tem muito tempo que o Bananada não é um festival de música só. E tem muito mais tempo ainda que o festival Bananada não é um festival de punk, stoner, garage, mesmo sendo o som que eu goste, que eu toque. A gente nunca deixou de trazer. As pessoas vêem a Karol Conka mas não vêem o El Toro Fuerte, não vêem o Poltergat, não vêem o Vini e o Sants, não vêem o Clearance, que é uma banda indie foda, não vêem o Romperayo, da Colômbia, não vêem a volta do Perrosky e do Magaly Fields, que são nomes gigantescos de música latino-americana, não vêem o Boogarins hoje como a principal banda de música alternativa do Brasil.

Eu acho que eu andei em 20 anos. Se essas pessoas não andaram em 20 anos não é um problema meu. É um problema delas. Eu sinto muito.

E tem uma coisa de sintonia com os grandes festivais nacionais. A Céu, por exemplo, vai tocar como uma das atrações principais do Lollapalooza neste final de semana em São Paulo e está na programação do Bananada.

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O Bananada quer mostrar um recorte do melhor da música contemporânea que acontece no Brasil hoje. Felizmente nós temos condição e público para poder contratar os artistas que a gente quiser no Brasil hoje. A Céu lançou o melhor disco do ano passado, ganhou um Grammy, ganhou melhor disco de todos os lugares. Eu não vou chamar a Céu porque ela tocou há dois anos? A Karol Conka é a artista mais relevante de música negra e feminina do País hoje. Eu não vou trazer porque ela tocou no carnaval para mil pessoas? Eu vou tirar a chance das 8 mil pessoas que vão vê-la no Bananada de ir assistir? Eu não vou fazer isso, cara. Eu não tenho esse pudor.

O negócio anda para frente. O Bananada não se vendeu, a gente não tem um grande patrocinador até agora, entendeu? A gente está fazendo porque o público que gosta da gente compra ingresso e bebida suficiente para ver todos esses artistas. São 100 shows, cara.

Você citou a Orquestra Filarmônica de Goiás (OFG), que tem como casa o Palácio da Música no Centro Cultural Oscar Niemeyer (CCON). Esse vai ser o quarto ano seguido que o final de semana do Bananada acontece lá. Como foi essa questão de integrar a Filarmônica à programação?

O ano passado, depois que a Ana Elisa (Santos, superintendente da OFG) assumiu a Orquestra, quem entende e gosta de música e da cultura da cidade sabe que a Orquestra teve um salto absurdo. A Orquestra Filarmônica de Goiás é hoje uma das cinco principais orquestras do País. Isso é um dado muito relevante.

Não é à toa que o Neil Thomson (maestro inglês) está aqui.

Exatamente. O Neil é um cara do caralho. A equipe inteira da Orquestra, que é o Jason (Elias) do Trivoltz, o Thiaguinho (Ricco) do Violins, o (Lucas) Tomé mão pesada que toca com a Bruna Mendez e que toca com a Ni Ela, são todos frequentadores que oxigenaram o negócio da Orquestra. E a Orquestra vai entregar um repertório que vai ter Beatles, vai ter Abba. O repertório é do caralho. Eles prepararam um repertório especial para tocar nesse dia.

No ano passado a gente tentou trazer um solista para a Orquestra. Aí não deu certo. E desde o ano passado a gente convidou a Orquestra para poder participar esse ano. A gente fez questão absoluta de trazer nesse mesmo aspecto da diversidade, de integrar o máximo possível. Goiânia agora tem uma cena de jazz interessante. Eu acho que nada mais justo do que a Orquestra poder fazer isso. Contratamos a Orquestra de maneira privada, não é um apoio do governo à Orquestra. O governo não está cedendo a Orquestra para o Bananada. Lógico que tem todas as facilidades do relacionamento. Mas a Orquestra vai fazer uma apresentação que acho que vai ser memorável. Vai ser incrível poder ter a Filarmônica do Estado, uma das melhores do País, com um regente inglês foda tocando para o público do Bananada.

A Filarmônica vai entrar na programação do final de semana do Bananada?

Eu te conto depois.

Você vai guardar isso só para o dia 28 de março?

Vou guardar isso para depois do dia 28 inclusive.

Eu queria que você comentasse mais uma questão sobre os headliners (atrações que fecham as noites de apresentação). O Liniker volta no ano seguinte de quando ele fez um show no Teatro Sesi e outro no sábado no CCON. Não era headliner, mas estava entre os grandes. Por que a volta do Liniker?

Porque em um ano ele foi o artista que mais cresceu no País. Ele tem um carinho pelo festival, conversou com a gente e fez questão de tocar de novo. A Bárbara (Rosa), que é a cantora dele, o último show que ela fez antes de falecer foi no Bananada. O show do Bananada do ano passado virou um clipe do Liniker. A gente tem um relacionamento excelente com o Liniker.

A gente tem um projeto internacional do Bananda ligado com o Liniker. Então eu acho muito justo que eles possam repetir. Nós não podemos repetir um artista que tocou o ano passado e que nada aconteceu na vida dele em um ano. Quem acompanha música brasileira sabe o que foi o ano do Liniker. Ele acabou de ir para o South by Southwest pela primeira vez e fez quatro shows cheios. Lugares pequenos, mas acabei de ler uma matéria com os cinco principais cantores de destaque no South by Southwest deste ano pelo jornal de Austin. O Liniker tava entre os nomes. Como que você vai ignorar? É um cara que tem a banda inteira ligada à música independente, que o produtor dele é o Ricardo Rodrigues, que produz o Festival Contato. Por que não?

O que vem a ser o Bananada internacional?

Tem dois anos que a gente faz o showcase no Primavera Sound (Espanha) e em Portugal. A gente vai continuar fazendo essa e outras ações. A gente deve também anunciar nos próximos dias uma ação que a gente vai fazer internacional e o Liniker é uma das pessoas que está nessa ação.

O que significa para o Bananada ter como um dos headliners uma das bandas mais antigas e de referência do psicodélico nacional, que é o grupo Os Mutantes?

Eu amo os Mutantes. A gente fechou um show do Sérgio Dias no Bananada ou no Goiânia Noise há muito tempo como uma apresentação solo, há uns dez anos no Martim Cererê. Depois quando eu estava dirigindo o Canto da Primavera a gente conseguiu fazer outro show dos Mutantes absurdo. No mercado de música alternativa talvez os Mutantes e o Sepultura sejam as bandas brasileiras mais conhecidas.

No ano passado a gente tentou trazer os Mutantes, mas o line-up parecia menos com o de hoje. Não tinha os Boogarins. Esse ano, mesmo não estando tão destacado, tem um monte de coisa mais indie psicodélica como KOOGU, Boogarins. Tem uma turma que tem a ver pra caralho com os Mutantes, entendeu? A gente resolveu chamar eles por isso. Vai falar o que dos Mutantes?

Acabou de tocar uma música dos Mutantes aqui. Todo mundo conhece, ama e o Sérgio continua lá em atividade, mesmo a Rita (Lee) e o Arnaldo (Baptista) não querendo participar de nada, o cara continua com a marca e com o nome tocando no mundo inteiro.

Você falou das bandas diferentes, meio psicodélicas, tem uma banda que é cheia de distorção que é o Rakta, que eu gostaria de saber por que foi colocada entre os headliners? Apesar de ter um pouco de destaque internacional, quando passou por Goiânia no ano passado e pouca gente deu moral.

Na verdade não é como headliner. A gente está colocando o nome de muito destaque.

Mas como uma das principais.

Porque a gente acha que o trabalho delas esse ano foi ultrarrelevante. Foi o melhor show que eu vi.

Mas você tem noção de que o público geral do Bananada, que não é um público que acompanha o meio independente, vai estranhar.

Cara, o J. Mascis (vocalista do Dinosaur Jr.) tocou para 100 pessoas de frente e 6 mil pessoas de costas e eu estava chorando em cima do palco. É isso que a galera tem que entender. Tem coisa que a gente programa para dialogar com o público e tem coisas que a gente programa porque gosta, acha foda, acha incrível. O Rakta e o TETO PRETO são coisas que a gente acha incrível e que eu acho que as pessoas têm que ver.

Quem gosta de música contemporânea tem que ver o TETO PRETO, tem que ver o Rakta, tem que ver os Boogarins, tem que ver o Romperayo. Então a gente dá destaque para isso para chamar a atenção, para falar o cara assim “amigão, vê o show”. Porque se você deixa escondidinho demais nego não vai ver, entendeu? E é foda.

As minas estão fazendo tudo. Uma correria, viajando o mundo inteiro. KEXP, lotando Sesc em São Paulo. A banda é foda. É super dura, é super difícil, é cabeçuda, tem a ver com o que a galera faz no Grande Hotel mesmo. Tem muito mais a ver com Propósito (selo goiano), com essa turma do que com as coisas que estão mais próximas de mim hoje, mas é música incrível. É genial a banda, é foda.

Essa coisa que você falou de deixar a banda isolada aconteceu com o Ventre no ano passado, que tocou no palco da Casa do Mancha. A parceria com o Mancha continua? E essa história de o Ventre voltar para o festival?

Foi o melhor show do festival na minha opinião e da Daianne.

Mas foi um show que ninguém viu porque estava todo mundo vendo DJ.

Exato. Então a gente vai trazer de novo para todo mundo poder ver. Todo mundo vai ver o Ventre.

E a Casa do Mancha?

O Mancha está programando o palco da Spotify. Toda a curadoria do palco da Spotify foi feita pelo Mancha. Ele fez tudo. E a gente vai dar uma estrutura um pouco melhor para o palco da Casa do Mancha. Mas vai ter aquele charme de ser pequenininho, tranquilinho.

Aquele palco de cinco centímetros de altura igual é na Casa do Mancha em São Paulo?

Não vai ser de cinco, mas vai ser um tamborete e meio de altura (o que deve dar menos de um metro de altura). Porque a gente teve um problema com chuva o ano passado que molhou o palco.

O palco inclusive teve que ser desmontado.

Então o Mancha pediu para a gente aumentar um pouco o palco. E a Spotify apostou junto com a gente. Quem fez o nosso contato junto com a Spotify foi o Mancha. A gente acha justo investir o recurso que a Spotify está dando para o festival nessas atrações que vão tocar no palco do Mancha.

A diversidade das atrações que estão com nome bem menos no cartaz com arte do Mateus Dutra e do Danilo Itty, tem um monte de parceria e duo de DJs. Por que essa história de criar um palco eletrônico no Bananada?

A gente já fez isso no Noise há muito tempo. E nos últimos dois anos a gente deu uma flertada com o eletrônico. A gente trouxe o Tropkillaz para ser um headliner, a gente trouxe Omulu, Renato Cohen, Anderson Noise e Mau Mau também para serem headliners. Foi legal pra caralho. Mas a gente acha que a gente precisa de um ambiente um pouco mais adequado para aquilo. Então a gente vai fazer um palquinho eletrônico um pouco menorzinho e vamos pôr cinco atrações por dia nele. Aquela confusão dos DJs ali no cartaz, a maioria está tocando nos clubes no meio da semana ou estão tocando no final de semana no palco eletrônico.

Quem reclama do line-up do festival diz que você não gosta de nada do que você traz entre as atrações musicais do Bananada. Quais são as bandas deste ano que você está louco para ver, nunca viu ou quer ver muito de novo?

Tem várias que eu gosto. Cara, tem poucas que eu nunca vi. Porque diferente dos caras que reclamam e falam isso, eu viajo e vejo show. E eu faço shows aqui, trago para tocar na minha casa e vou ver os shows. Nós dois vamos ver os shows e as pessoas que falam isso não tiram a bunda da cadeira delas nem para ver a banda que eles gostam do lado da casa deles. Tem um monte de coisa que eu gosto. E tem um monte de coisa que eu não gosto tanto.

O festival não é para mim, não é na sala da minha casa. O festival dá 9 mil pessoas em um dia. É para agradar todas as pessoas, não é para mim. O festival é o que acontece na música do mundo, com ela se relaciona com a música brasileira e como que essa música é inserida na cidade. É assim que a gente faz a curadoria do evento, é assim que a gente pensa o negócio. Agora tem o limite das coisas que eu gosto e das coisas que eu não gosto.

Eu nunca vi o show do Mano Brown. Nunca teve. Vai ter em São Paulo dia 12 de maio e em Goiânia dia 14.

Inclusive como foi essa negociação para ser o segundo lugar no Brasil que ele vai tocar o disco Boogie Naipe?

Desde o ano passado a gente estava tentando trazer os Racionais MCs. E na hora que saiu o disco foi muito engraçado. O Manga me mandou uma mensagem dizendo “você ouviu o disco?”. Ele me mandou uma mensagem eu mandei outra para ele e falei “cara, esquece os Racionais. Vamos ligar para a Eliane e vamos convidar o Brown”. Ele nem tinha um show pronto.

Eliane?

A mulher do Brown (Eliane Dias), que é empresária dos Racionais, com quem a gente estava negociando o show dos Racionais. E calhou de a data ser um dia depois do lançamento do show em São Paulo. Então foi uma excelente coincidência para a gente. É o segundo show da turnê dele.

O Blackbook com o The Flash Weekend Tattoo é uma ação que deu certo? A parte de tatuagem vai para o terceiro ano.

O Blackbook vai para o quarto ano e o The Flash Weekend Tattoo vai para o terceiro ano. E o circuito gastronômico vai para o quarto ano.

A chef Emiliana Azambuja comentou no lançamento do festival que o circuito gastronômico Goiânia Rock City passa de uma semana para um mês de duração. O que puxou esse tempo maior do circuito?

Porque os restaurantes acham que na hora que acaba o Bananada é que as pessoas ficam sabendo dos pratos. Então eles querem que continue um pouco depois para o público poder curtir os pratos que eles lançaram no circuito.

O retorno dos chefs e restaurantes parceiros é bom?

Excelente. Crescente. O ano passado a gente teve que travar no número e com certeza esse ano a gente vai ter que travar em um número também. A galera adora participar, é super divertido. Tem gente que vai nos restaurantes e come em vários, tira fotinha, comenta com a gente. É um luxo você poder ter Emiliana e o Mateus (Dutra) e a Polim (The Flash Weekend Tattoo) e o Daniel (Atassio, da Ambiente Skate Shop) curando esses eventos integrados.

Qual o restaurante fala não para a Emiliana em um convite? Qual artista plástico não quer participar de um trem que o Mateus está fazendo? Qual o skatista que não quer andar em uma pista que o Daniel está montando? É muito do caralho poder fazer isso. Essas coisas só tendem a serem ampliadas. Talvez até se desconectar do festival em algum momento.

Há quem diga que sente saudade dos festivais de Goiânia do início dos anos 2000, quando tinha Diesel, Cachorro Grande, Matanza, Ratos de Porão ou Mukeka Di Rato, por exemplo, como headliners ou quando o Los Hermanos tocou no Martim Cererê. Já tem gente mais nova, que chegou agora à fase adulta, que diz que rock bom era quanto tinha bandas como Kamura e Mugo em alta nos eventos. O publico tem se renovado?

Na verdade o cara não tem saudade não é dos shows. O cara tem saudade de ter 20 anos. Eu também tenho saudade de ter 20 anos. Eu queria ter 20 anos agora. Imagina eu ter 20 anos agora e poder abrir a turnê do Boogarins ou gravar com o Hellbenders ou poder ter a chance de toda semana ter um show foda na Diablo? Ou poder vir uma noite em um lugar igual o Retetê, que você só tem drinque bom e música boa.

Eu queria ter 20 anos era hoje. Eu não tenho saudade do tempo. Eu tenho saudade de ter 20 anos. Hoje eu já estou cansado, hoje eu quero dormir. Eu comi, estou morrendo de sono e quero ir para a minha casa jogar meu joguinho no computador e dormir para poder trabalhar amanhã de novo. E isso que eu quero. E é disso que o cara sente falta.

Eu acho incrível quando Kamura era uma banda incrível ou o Punch. Eu amo o Ikaro. Quando nem existia o Punch e o Kamura era incrível mesmo. Eu tinha 16 anos. Tem coisa mais incrível do que você ter 16 anos? São umas nostalgias legais. Bacana. Agora deixa a molecada curtir também. Deixa o menino de 20 anos achar incrível agora.

O povo fica cagando regra e achando que bom era em 1994. Os discos de 1994 vão ser os meus favoritos para sempre. É claro que os discos de 1994 vão ser os meus favoritos para sempre. Em 1994 eu tinha 15 anos, eu transei pela primeira vez, eu vi os Raimundos e o Planet Hemp pela primeira vez, eu comprei um disco com o meu dinheiro pela primeira vez.

É claro que os discos de 1994 vão ser os que eu amo. Por isso que o J. Mascis veio tocar. Por isso que o Mudhoney vem tocar. Ano que vem o Bananada completa 20 anos, tomara que eu consiga trazer um artista da Sub Pop pelo único motivo de matar a vontade minha e de nós, os meus amigos velhos. Porque para o público que vai no festival importa pouco. Mas a galera vai ver e vai pirar.

A gente trouxe Yonatan Gat ano passado. Cadê os reclamões? Por que ninguém foi ver o Yonatan Gat a R$ 30? Você viu o Yonatan Gat, foi incrível.

No meio do público.

Foi sensacional. É um dos principais guitarristas da contemporaneidade. Toca no mundo inteiro em todos os lugares. A galera foi ver? Foi R$ 30 o ingresso sem fila nenhuma. Chegava, vinha, encostava no cara, comprava o merch (material de divulgação: vinil, CD, camiseta etc) lá na mão do artista. A galera que está reclamando vai lá ver o Rakta? Será que eles vão lá ver o Rakta? Vão pegar um Uber da casa deles, custa R$ 10, paga R$ 30 o ingresso, ridículo, compra o ingresso, toma duas cervejas e gasta mais R$ 10, vê o Rakta, pega o Uber e volta para a sua casa, velho.

Você não quer ver os outros shows? Não vai ver, cara. Vai ver o Black Drawing Chalks e o Hellbenders tocando juntos. Quem gosta de rock vai pirar. Ainda vai ter o Forgotten Boys no mesmo dia. Incrível, velho. Tudo certo para todo mundo. Tem para todo mundo. O que eu não tenho é mais paciência para ficar respondendo todo mundo no Facebook. Isso é que eu não tenho mais. Por isso que o Manga vai responder tudo agora, porque ele é enjoado, é canseira, é lindo, magro, inteligente. Ele responde as coisas maravilhosas. Vai ser assim.

Você citou as parcerias ao vivo, como Hellbenders e Black Drawing Chalks. São bandas que sempre participaram do line-up do Bananada e agora vão ter a oportunidade de tocarem juntas. Não estava na hora de trazer aquele show do Auditório do Ibirapuera de 2015, que uniu O Terno e Boogarins no palco, e que vai acontecer em Brasília, mas não vem para Goiânia?

O show do O Terno e do Boogarins custa um pouco mais de dinheiro do que a gente consegue fazer e depende da agenda do O Terno e do Boogarins, que felizmente são duas das maiores bandas do Brasil que têm agenda muito disputada. A gente não conseguiu calhar a agenda. E no Bananada, O Terno e o Boogarins querem tocar os shows deles, o que é diferente do Black Drawing e do Hellbenders, que estão em atividade, mas não estão em plena atividade, é do caralho fazer um show junto, uma brincadeira.

O Boogarins e o O Terno estão com show montado maravilhoso, excelente, e eles querem mostrar esse show para a galera. Eu quero fazer esse show do O Terno e Boogarins em Goiânia se as bandas quiserem um dia. Mas mais para frente. Vamos para Brasília? Ah! Nem tem como ir mais para Brasília porque já venderam todos os ingressos.

Quais são as casas noturnas que estão confirmadas e que terão shows do Bananada durante a semana do festival?

Vou tentar não esquecer ninguém. Mas o Retetê, o Rock, Complexo, Diablo, Shiva, o RUM, que é o República, o Galpão, o Sesc Centro, o Cafofo. Eu não sei de cabeça. Não sei todos. Vai ter um dia que tem oito showcases no mesmo dia.

Mas aí você mata quem vai cobrir o festival.

A vida é dura. O festival só fica bom quando você fala “nossa, perdi um show foda porque eu acabei de ver um show foda”.

Aí a pessoa vai lá no outro dia, abre o site do jornal e vai ler a resenha do show, mas ele fica revoltado porque ele acha que o jornalista escolheu a outra apresentação da banda que ele não gosta.

Os jornais, assim como o festival, têm que crescer suas equipes (risos).

Você disse que não tem mais 15 anos para acompanhar a programação toda, mas que hora que você vai parar de trabalhar no meio do festival e vai para a frente do palco para acompanhar um show que você não quer perder por nada, já que você não quis citar cinco?

Ano passado eu vi o Killing Chainsaw, só eu vi. Foi muito bom. É aquele show, né? Tinha 100 pessoas olhando e 5 mil de costas.

Foi bem nostálgico.

Foi do caralho. Foi maravilhoso. Cara, não sei. Na verdade, da equipe inteira de produção inteira eu acho que sou a pessoa que vê mais shows. É até injusto. Primeiro porque eu acho que sou mais tarado e gosto mais. E segundo porque eu faço RP (relações públicas) com os artistas, então eu vou no palco. Eu sempre vejo um pouquinho de cada coisa. Não dá para eu ir em todas as casas. Não dá para ver os shows que eu quero todos.

Mas não vai ter um artista como o Maurício Pereira em 2015, que você trouxe só para ver e ficou lá sentado o show inteiro?

Queria de novo. O Rakta eu vou ver. Pelo menos um pedaço. Porque eu tenho que ver na estrutura que a gente vai oferecer para elas. Vou ver o Wry lá de pertinho porque os caras são muito amigos. Com certeza vou tentar ver o Patife, os Mutantes, o Brown. Vou tentar ver alguns shows. O Romperayo é foda para caralho. Quer muito ver o show do Perrosky. Quero ver o Black Drawing e o Hellbenders. Estou esperando para ver. Não vi nem um ensaio ainda.

A movimentação para tornar os festivais multiculturais, não só na diversidade de estilos musicais…

Eu estou mais curioso para ver como que vai ser a comida do que o resto.

… não só em música, mas em comida, tatuagem, artes visuais, skate e outras opções integradas com diferentes casas noturnas, faz com que o festival deixe de ser visto, há alguns anos, como um evento de rock e se torne um espaço de atração de diversos públicos.

Mas o Bananada nunca foi um festival roqueiro, cara.

As pessoas de antes têm essa ideia de que eram festivais de rock, apesar de que não tinha só banda de rock.

O Violins é roqueiro? O Réu e Condenado é roqueiro? A gente faz palco de música eletrônica desde 1997, cara. A gente já trouxe a Mallu Magalhães. A gente trouxe o Los Hermanos quando ninguém achava bom. A gente trouxe o Criolo quando chamava Criolo Doido.

Essa história trouxe uma mudança. Por exemplo, festivais como o Grito, que era Grito Rock, passou a se chamar Grito Goiânia e abriu para uma multiculturalidade musical que já existia no evento. Até o próprio Goiânia Noise, que era um pouco resistente, ano passado teve um palco de rap que lotou.

E foi do caralho. Foi a coisa mais legal que o Goiânia Noise fez nos últimos anos foi fazer um palco de hip hop. O planeta mudou. As pessoas têm acesso à diversidade. As pessoas gostam de outros tipos de música, as pessoas comem outras comidas. Eu nunca tinha comido comida peruana até dois anos atrás. Hoje é minha comida favorita. Eu nunca tinha ido ao México até um ano atrás. Eu não tinha filho até sete anos atrás. Eu quero que minhas filhas participem, então eu quero fazer coisas que elas gostem.

Por falar em filho, a área infantil do Bananada vai ser repetida nesta edição?

Vai ter o Meninada no Bananada também. Em um formato bem parecido com o do ano passado. Com banda tocando o tempo inteiro. Eu quero que as pessoas tenham contato com isso. Eu quero que as coisas sejam legais a esse ponto. Eu não quero só catuaba, cerveja e pinga. Eu quero tomar gin tônica, uísque, comida vegetariana, doce. O Bananada propõe uma experiência de dez horas. Ninguém fica dez horas comendo cachorro quente e vendo as quatro bandas que ele gosta.

Não é isso. A experiência é maior do que isso. A gente faz tudo para que o cara tenha um conforto para ver mais música. São cinco palcos esse ano, cara. É muita música, cara. Falar que a música não é importante é uma idiotice. Eu ouvi dizer “a música não importa mais para o Bananada”. Isso é uma idiotice.

A música é a coisa que mais importa. Mas tudo que a gente faz é para que as pessoas tenham um conforto, uma experiência melhor, para curtir melhor a música, para ter um som melhor. Para na hora que ele estiver lá ele coma bem, para que a bebida seja legal, que o lugar seja limpo, para que a experiência visual seja maravilhosa e o cara possa se concentrar em ver isso. É isso que a gente quer fazer, cara.

Não é experiência boboca. Não tem bungee jump. Não tem roda gigante. Isso é idiotice. A experiência é criar conforto para o cara poder consumir arte e música. É isso que a gente está propondo. A cultura do skate, a cultura da gastronomia, a cultura da fotografia. Quer coisa mais rock e mais contemporânea do que a cultura do skate? Como é que você faz um festival de música e de artes sem skate? Como que você faz um festival de arte e ignora a cena de gastronomia da sua cidade? Tem 30 canais de televisão só de gastronomia, cara.

Você vai em qualquer balada a comida é boa. Em todos os lugares os caras estão preocupados com a comida. Quem não está preocupado com comida fechou. Quem não tem um bar do caralho não funciona. Vai no Complexo. Tem dez marcas de cerveja no Complexo, que uma portinha e um estúdio. Ninguém está inventando a roda. Ninguém esqueceu a música. A gente só quer que a pessoa aproveite melhor a música, cara.

É bom que você traz isso, porque eu me poupo de muitas partes das redes sociais. Eu fico só vendo os elogios. Mas é lógico que todo mundo vem dar as ideias. Mas a coisa que mais não me incomoda hoje é essa conversa de que 15 anos atrás era mais legal. Não era mais legal há 15 anos. A gente só era 15 anos mais novo. Aí para a gente era mais legal.

A exigência era menor talvez?

Ter 23 anos é melhor do que ter 38 anos quando você vai a uma balada. A exigência era menor. Com 23 anos você importava se a cerveja era chope ou era em lata? Eu não me importava. Eu não importava nem se tinha cerveja. Eu já tinha tomado tanta coisa antes que a cerveja era só para molhar as pessoas. Agora eu me importo. Eu quero que a cerveja seja melhor. Se eu não puder servir uma cerveja melhor, eu quero poder servir uma carta de drinques ampla.

Eu quero que luz seja incrível. Eu contratei um iluminador pela primeira vez o ano passado. Eu quero que a luz do festival seja desenhada para o festival. Foi a primeira vez que a gente colocou um iluminador.

Ano passado o projeto arquitetônico de montagem do festival foi assinado pelo arquiteto Denis de Castro.

Foi maravilhoso. Tem três anos que o Denis desenha o festival.

Continua com o Denis este ano?

Não. O Denis não pôde fazer porque ele está com um monte de serviço e indicou um parceiro dele, que é o Ogawa Leão, responsável pelo projeto desse ano.

Muda muita coisa em como vai ficar distribuído o festival na Esplanada JK do CCON para o que foi no ano passado?

Muda um pouco. Porque depois que a gente faz todo mundo faz igual mesmo. Então a gente tem que fugir do nosso para não ficar repetitivo.

As artes visuais exploraram no ano passado os lambes no Blackbook. Além do Danilo Itty e do Mateus Dutra, o que mais vai ter nessa parte?

Vai ser diferente. O ano passado a gente fez lambe, que foi uma coisa muito de pôster. A gente mesmo colar pôster. Chamamos todo mundo para fazer. Esse ano vão ser menos artistas e uma experiência mais contemporânea, doidona e digital. Está na mão do Mateus o projeto. Mas vão ser três artistas visuais e três VJs. Vai ser uma coisa mais digital.