Mariza Santana

Muitas vezes fatos reais inspiram romances épicos, bastando colocar a imaginação a serviço da obra ficcional para preencher as lacunas existentes. Este é o caso do livro “Expedição Abissal”, romance do jornalista e escritor Hélverton Baiano, uma das figuras mais conhecidas no meio literário goiano devido a sua extensa produção de obras de poesia e prosa.

No livro, considerado um dos dez melhores romances brasileiros lançados em 2022 pela “Revista Bula”, o leitor acompanha a saga de um grupo de professores e pesquisadores que se embrenham no complexo de grutas de Terra Ronca, no Nordeste Goiano, em busca de descobertas sobre minerais radioativos e outros itens. Entretanto, eles se perdem nas profundezas da terra, onde vagam por dias e noites em busca da saída.

Hélverton Baiano: poeta e prosador do primeiro time | Foto: Divulgação

Hélverton Baiano utiliza uma linguagem regionalista, com uma pitada de realismo fantástico, para relatar as aventuras e desventuras desse grupo de pesquisadores, desde o momento em que os personagens chegam à cidade de São Domingos, município que abriga a entrada da Gruta Angélica, quebrando a tranquilidade da vida dos moradores daquele lugarejo do interior brasileiro.

O prefeito, o padre, o vagabundo cachaceiro, a prostituta, a beata, todos os moradores participam da recepção aos visitantes ilustres que vão trazer prosperidade para o local por meio de suas pesquisas acadêmicas, conforme é a expectativa geral. Não faltam ainda a cachaça, os saberes e superstições do povo do interior brasileiro.

Mas ao adentrar na gruta Angélica, os professores, acompanhados de um batedor local, se perdem no labirinto subterrâneo. E então o principal desafio é sobreviver nas profundezas da terra, alimentando somente da parca ração de carne seca e rapadura que levaram e bebendo da água encontrada nos rios subterrâneos. Quem lê o romance do “gobaiano” Hélverton Baiano, vê nessa sua obra ainda a influência do estilo do escritor moçambicano Mia Couto, com seus neologismos e linguagem regionalista, porém de cunho universal.

Voltando ao enredo de “Expedição Abissal”, o autor vai enumerando dia a dia, a saga desse grupo de perdidos no labirinto cavernoso, suas dúvidas, medos, devaneios e promessas. Nesse ponto, o leitor sente uma certa agonia, como se estivesse junto com eles, perdido nas profundezas da terra, sem perspectiva de encontrar a saída.

Mas do lado de fora, Maria Binoche, a personagem que aguardava a volta dos aventureiros, nunca perdia a esperança e tinha premonições. As rezas da população de São Domingos também seguiam firmes, em prol de um final feliz para a desventura do grupo. Sobre o desfecho do romance, é aconselhável não adiantar nada, para não chatear o leitor.

Hélverton Baiano nasceu em Correntina (BA), em 1960. Mas mora em Goiânia há décadas, onde tem uma profícua carreira no jornalismo e na literatura. Atualmente, trabalha na Agência Brasil Central, complexo de comunicação do governo de Goiás que reúne a TV Brasil Central, as rádios Brasil Central AM e RBC FM, o Diário Oficial e a ABC Digital (mídias sociais). Publicou 12 livros de poesia e prosa, além de diversos prêmios literários regionais e nacionais, entre eles a Bolsa de Publicações Hugo de Carvalho Ramos de 2013 (prosa) e 2015 (poesia).

Mariza Santana é jornalista e crítica literária.