Erick Bandeira, um artista versátil
10 abril 2023 às 15h36
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por Nonatto Coelho*
No amálgama da arte contemporânea, a pluralidade expressiva de conceitos, ou de suas inerentes manufaturas, nos propõem um leque de múltiplas possibilidades de veículos para suas viabilidades, realizações, disseminações e divulgação da mesma, sendo essa, um produto visceral do pensamento humano em sincronia com o nosso tempo presente.
A arte caminha em uma relação estreita e próxima da ciência; sua existência perpassa consequentemente pelos pilares e sustentáculos prepostos pela política vigente, e ela – a arte – contém na sua essência, uma dinâmica capaz de apontar caminhos à serem trilhados pela sociedade contemporânea: aqui cito a arte, na sua polivalência de um círculo que envolve e englobam todos os estados da expressão do nosso pensamento, tais como a literatura, a música, a arte visual…
Ao observarmos a “evolução” (embora eu tenha minhas reservas em aplicar o termo “evolução” no multiverso artístico) que a arte nos apresentam, como exemplo, o seu conceito espacial partindo de um ponto de vista da idade média (e aqui não trataremos do conceito teocêntrico específico daquela época, por questão do resumido espaço desse ensaio textual) mas observaremos, como paradigmático exemplo sobre a passagem das duas dimensões medievais na concepção da obra de arte: altura/largura: tempo, passando pelo renascimento altura/largura/profundidade: espaço, até os dias atuais em que o tempo e o espaço se fundem no conceito daquilo que parte dos estudiosos da arte, cognominam de “post human”, é possível encontrarmos aqui um contraponto analítico à esse tema seguinte: no multiverso artístico atual, há uma vertiginosa multiplicidade formal, conceitual e técnicas, desde Happenings, Body-Art, Earth-Art, Arte de Sistema, etc. Todas, concomitantemente coabitam com a nossa existência do dia a dia do interligado sistema global. E, na megalópole Goiânia, no platô central do país, habita um desses seres polissêmicos, um jovem nascido em 1969 nessa mesma capital, que é o Erick Bandeira.
Erick é um artista multimídia ,que transita sem obstáculos desde o músico instrumentista até o artista plástico e produtor cultural…, a lista não para por aqui, mas, o que convém dizer, é que esse “performático” ser humano, que se graduou em artes visuais pela UFG, em 1981 frequentou o ateliê de Cleber Gouvêa estudando composição e técnicas de pintura, é hoje um dos mais destacados e atuantes artistas do Estado de Goiás.
O artista porta consigo um currículo com várias exposições (individuais e coletivas) e happenings em Goiás e outros Estados da federação brasileira, além de participação também fora do país. O seu estilo de vida e arte, guarda certas semelhanças com os dadaísta, de não se prender à nenhuma fórmula padrão estática, ou regras; no caso aqui, de estilo artístico tão somente.
A máxima dos dadaístas era: “nós não procuramos nada, nós afirmamos a vitalidade de cada instante. O que interessa a um dadaísta é sua própria maneira de viver”, embora a rigor, Erick não “veste” completamente as teorias aparentemente “despojadas” do movimento Dada, pois seu trabalho trás no bojo, um caráter de pesquisas em meio à fases disciplinares distintas; em mais de 30 anos de dedicação à arte, Erick tem passado por vários estilos artísticos: Reducionismo, Expressionismo e até o Construtivismo. Seus temas estão interligados com a história da arte contemporânea internacional, afinal a arte, em sua autofagia, revitaliza os “nutrientes” de sua própria experiência seja de ordem tautológica, imediata, e, ou mesmo histórica, principalmente na era da comunicação cibernética, onde somos bombardeados a todo momento por “informações”. Como filtrar e resistir à tudo isso?
Erick Bandeira é um artista plasmado nesse sistema contemporânea onde todas as experimentações em nome da arte, parecem ter se elevado ao paroxismo das experiências no setor – onde até mesmo a morte física já foi cooptado para o conceito de arte (vide o grupo Ativistas de Viena 1969). E nessa seara, ele é um legitimo habitante dessa nau, (deixando, felizmente o radicalismo dos extremistas vienenses de fora de seu multiverso), onde, em todo caso, necessitamos do tempo, o legitimo “curador” de tudo, para que possamos processar a permanência ou efemeridades do que estamos realizando nesse instante. No entanto, sua energia criativa que já ultrapassa 3 décadas, não é nada trivial. Ele é inexorável parte da arte que pulsa nas artérias artísticas do Brasil.
O senso dos primeiros cem anos que vai julgar com um relativo distanciamento a história da arte em Goiás, já está próximo. Nessa matemática atroz, o Erick já conquistou mais de 30 anos impondo sua forte personalidade, com trabalho e sua inabalável convicção do seu caminho à percorrer nesse maravilhoso processo criativo.
*Nonatto Coelho é artista e pesquisador, sócio titular do Instituto Cultural Bernardo Élis Para os Povos do Cerrado (Icebe), ex presidente da AGAV – Associação Goiana de Artes visuais.