Depois da frustração, público é agraciado com volta de Paula Toller a Goiânia
01 julho 2018 às 00h00
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Barulho da decepção que tomou conta da plateia em 2017 quando a ex-Kid Abelha deixou o palco foi recompensado com sequência de hits da carioca
Com os mesmos 3 mil ingressos esgotados da noite de terça-feira, 26, a participação da cantora carioca Paula Toller em 2017 no Flamboyant In Concert, em Goiânia, foi bem diferente do que aconteceu na última semana. Em 30 de maio do ano passado, pouco tempo depois de subir ao palco, a empolgação total da plateia mudou rapidamente para um clima de imensa frustração. Parte do público que foi ao show do músico e poeta paulistano Arnaldo Antunes naquela ocasião estava ali por um único motivo: ouvir a voz doce que marcou mais de três décadas de sucesso à frente do Kid Abelha.
Mas “essa maravilha que é a Paula Toller”, como foi anunciada pelo ex-Titãs no ano passado, subiu ao palco, cantou “Não Vou Me Adaptar” com Arnaldo Antunes, que juntos emendaram o hit “Como Eu Quero”, do Kid Abelha, o suficiente para uma despedida da carioca. A saída de Paula Toller em 2017 foi recebida pelo público com olhares e manifestações de desencanto e frustração. “Velha Infância”, dos Tribalistas, foi usada pelo cantor para segurar o público, que lamentou o fim da participação da carioca no show e começou a ir embora.
Ficou a sensação de que grande parte da plateia daquela noite, mais do que tudo, queria Paula Toller no palco mais tempo. Muitos nem viram quando ela voltou e cantou outros dois sucessos dos Titãs com Arnaldo Antunes. Coincidência ou não, a turnê trazida pela artista a Goiânia um ano depois, no mesmo evento, chama-se “Como Eu Quero!”. O nome, além de traduzir a fase mais à vontade de Paula Toller em sua carreira solo e os grandes sucessos do Kid Abelha, parece ser um acerto de contas mais do que bem feito entre a cantora e seus fãs, que não piscavam, hipnotizados, e acompanhavam a voz inconfundível da estrela.
Amor à primeira vista
Com direção musical de Liminha, que fez parte da formação clássica da banda Os Mutantes, Paula Toller entrou no palco com sua roupa preta cheia de brilho às 20h12 da terça-feira e não perdeu tempo. “Seu rosto na TV/Parece um milagre/Uma perfeição/Nos mínimos detalhes” foram os primeiros quatro versos que pareciam ser cantados ao pé do ouvido de cada um dos presentes por uma estrela que, de frente para a plateia, conquistou a todos no primeiro olhar com o hit “Fixação”, de 1984. O sucesso do disco “Seu Espião”, do Kid Abelha, ganhou arranjo mais delicado e intimista nos violões de Liminha e Gustavo Camardella, baixo de Pedro Dias, teclado de Pedro Augusto e bateria de Adal Fonseca.
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Era a deixa para um rápido “boa noite” antes da mais recente “Calmaí”, do disco solo “Transbordada” (2014). Para não quebrar a conexão perfeita com o público, Paula Toller fez seu primeiro contato com seus fãs. “Boa noite, Goiânia. É um prazer estar aqui de volta no Flamboyant In Concert. Já estive aqui outras vezes. Desta vez apresentando meu novo show, “Como Eu Quero!”. Espero que vocês aproveitem.” As caras de encanto e os coros empolgados durante toda apresentação responderam bem à expectativa inicial da artista.
“Educação Sentimental II”, de 1985, mostrava que a noite seria mesmo especial para os antigos e novos fãs da extinta banda e de Paula Toller. Tanto que as duas versões incluídas em seu novo show foram bem recebidas. A primeira, “À Noite Sonhei Contigo”, adaptação de “Anoche Soñé Contigo”, do argentino Kevin Johansen, deu lugar a “Deixa a Vibe Me Levar”, que é a releitura da carioca para a canção “Don’t You Worry ‘Bout a Thing”, de Stevie Wonder. “Agora a gente vai tocar mais uma versão” foi a deixa da artista para falar de um cantor que “está dando um apito aqui” na cabeça pela sua qualidade. “O nome dele é Stevie… Stevie Wonder”, brincou Paula com a plateia.
A essa altura do show, os gritos “linda” e “maravilhosa” ainda eram tímidos. “Agora vai ser uma das antigonas mesmo. Essa música foi gravada orginalmente com o Leo Jaime.” Paula contou que o Kid Abelha nunca tocou a música ao vivo, justamente o primeiro single da nova fase da cantora: “A Fórmula do Amor”, de 1983, em uma versão acústica. Muita gente pegou o celular e tratou de gravar a canção, que com certeza marcou a vida de dezenas de casais na plateia.
Lágrimas e choro
“Oito Anos (Gabriel)”, do disco solo “Paula Toller”, de 1998, deixou o Kid Abelha um pouco de lado no show. “Ando Meio Desligado”, d’Os Mutantes, ganhou um dueto com a plateia nos versos “Por favor, não leve a mal/Eu só quero que você me queira”. “É um prazer ter nessa banda um Mutante original”, agradece Paula a parceria na turnê com Liminha, que é saudado pelo público. Das palmas aos gritos de satisfação foi o que aconteceu quando a carioca puxou as primeiras palavras da letra de “Lágrimas e Chuva”. “Agora eu quero ouvir todo mundo cantando. Vamo lá.” “Nada Por Mim”, composta com Herbert Vianna, da banda Os Paralamas do Sucesso, arrebatou até quem estava distraído.
“No Seu Lugar”, de 1991, mostrou o quanto os sucessos do Kid Abelha permanecem fortes e vivos na memória do público. Desde que iniciou a turnê “Como Eu Quero!”, em novembro de 2017, Paula Toller lançou dois singles. O primeiro foi a rearranjada “A Fórmula do Amor”. No final de fevereiro veio sua mais recente canção de trabalho, que é uma versão de “Céu Azul”, do Charlie Brown Jr. – a última música da banda lançada quando Chorão ainda estava vivo, também produzida por Liminha.
“Agora a gente vai fazer a música que é o novo single da minha nova fase. Escolhi uma música de uma banda pesada, que é o Charlie Brown Jr.”, explicou. E a letra tem muito a ver com o momento profissional de Paula Toller: “E viver/E cantar/Não importa qual seja o dia/Vamos viver/Vadiar/O que importa é nossa alegria”. No final de “Céu Azul”, a carioca emendou versos de “Dreams”, do Fleetwood Mac. A cantora elogia “essa plateia incrível”, mas pede mais ânimo: “Vocês estão um pouco comportadinhos, mas espero que vocês descomportem”.
Convidado especial
Pela forma como os fãs estavam rendidos a Paula Toller, a cantoria podia chamar qualquer um que seria bem recebido. Mas o convidado da noite era mais do que especial, porque os dois fizeram parte do momento de glória do chamado Rock Brasil nos anos 1980, que dominava as paradas de sucesso nas rádios. Paulo Miklos, ex-Titãs, cantou “Sonífera Ilha”, de sua antiga banda, com a ex-Kid Abelha, e depois o hit “Como Eu Quero”. Foi uma rasgação de seda sem fim. Mas que cabia por saudosismo ao tempo de ouro que os dois viveram na carreira quando as duas canções estouraram.
A estrela da noite recordou de como gostou muito da música “Sonífera Ilha” no compacto que começou a ser distribuído para as rádios em 1984. Miklos retribuiu o gesto e disse que namorou muito ao som de “Como Eu Quero”, antes de a canção ser tocada no show daquela noite. Paula brinca que muitas das crianças na plateia foram feitas embaladas pelo romantismo do Kid Abelha. “Acabou”, lamenta. Mas continuou com “Nada Sei”, de 2002, e a animada “Eu Tou Tentando”, de 2005, na qual emendou “Eu Tive Um Sonho”, de 1993. Paula saiu do palco depois de “Te Amo Pra Sempre”, de 1996”, e do coro “Nararararara nunca mais/Nararara nau” dos presentes, já bem pertinho do palco. “Valeu. Obrigada, Goiânia!”
Bis
Menos de dois minutos depois, Liminha voltou sozinho ao palco e puxou no violão o tema da Pantera Cor de Rosa, de Henry Mancini, que trouxe a banda de volta dançando em fila puxada por Paula Toller. “Só galera de Goiânia aqui?”, pergunta a cantora antes de emocionar a todos com “Grand’ Hotel”, lançada há 20 anos, em 30 de junho de 1991. A artista agradeceu o coro “lindo” do público, apresentou sua banda e continuou o show. “Valeu pelos aplausos e pela animação. Vai Mais uma?” E puxou a dançante “Os Outros”, que foi emendada a “Por Que Não Eu?”, as duas da fase com Leoni no Kid Abelha – até 1985.
“Cadê você, Paulo Miklos?”, chamou Paula Toller. “E aí, tá legal ou não tá?”, perguntou o músico à plateia. A cantora pediu ao ex-Titãs: “Faz uma sugestão pra gente tocar, traz uns ensinamentos pra nós”. “Filosofia pura”, respondeu Miklos ao som de “É Preciso Saber Viver”, de Roberto e Erasmo Carlos. No fim da primeira estrofe, o verso com o nome da canção é repetido de forma errada pela plateia, que atrapalha Paula Toller a cantar “Toda pedra do caminho/Você pode retirar”. Ela olha para Miklos, os dois riem e continuam a letra. “Quero ouvir só vocês agora”, pediu o convidado. Os xarás puxaram as palmas e os fãs foram junto. “Galera, queria agradecer mais uma vez a todos vocês”, anunciou o fim do show Paula.
“Mais uma?”, perguntou a carioca. E a satisfação é imensa quando as pessoas perceberam que a canção final era “Pintura Íntima”. A música lançada no primeiro compacto do Kid Abelha, em 1983, que tinha também “Por Que Não Eu?”, fechou a noite do reencontro que selou novamente o amor e encanto do público em Goiânia com a cantora, que, aos 55 anos, quer mais é mostrar ao vivo o que tem de melhor, independente de qualquer crítica. Se for bom, pouco importa se foi lançado hoje ou há 35 anos. Paula Toller deixou bem claro que sabe disso. E vai muito bem, obrigado.